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Curso de Especialização na Arte de Contar Histórias

Por:   •  29/9/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.930 Palavras (8 Páginas)  •  149 Visualizações

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CÂMARA CASCUDO E A TRADIÇÃO ORAL DE CONTAR HISTÓRIAS: UMA VISÃO HISTÓRICA

Isabela Peres Piovezan

Curso de Especialização na Arte de Contar Histórias.

RESUMO

A arte implica numa gama bastante variada de representações. No campo das tradições orais, podemos elencar as cantigas, as histórias, as pinturas, os materiais, entre tantos outros elementos de representação cultural. As histórias especificamente constituem num poderoso elemento de diferenciação da cultura indígena da cultura do homem branco. Para os índios, as histórias são elementos de transmissão cultural e para as quais vários valores são associados e transmitidos. Para o homem branco, as histórias são momentos de prazer e descontração. Raras vezes são utilizadas para a transmissão de conhecimentos e na aprendizagem de crianças e adultos. No campo da contação de histórias, toda criança tem a oportunidade de ser criança, independente do objetivo final para o qual estejam sendo contadas. Câmara Cascudo, um dos maiores estudiosos da influência que as tradições culturais exercem sobre a formação do povo, ressalta em seus trabalhos a importância da tradição oral para a manutenção de conhecimentos populares transmitidos de geração para geração e que contribuem para ressaltar a importância das histórias para o desenvolvimento das sociedades. Ao mesmo tempo, essas tradições orais também podem ser ricamente trabalhadas no contexto educacional, tendo em vista que muitas crianças têm contato com esses recursos apenas nas escolas. Contar histórias contribui para o desenvolvimento do prazer de ler em todas as idades e favorece o amadurecimento de diferentes processos cognitivos.

INTRODUÇÃO

A arte dos povos brasileiros mais antigos – os índios - costuma ser bastante guardada pelos museus, tendo em vista que representam a cultura de determinados povos em dadas regiões. Além disso, entre esses objetos de artes, é possível encontrar brinquedos que representam a realidade da infância desses povos.

A compreensão de cada brinquedo oferece a possibilidade de conhecimento sobre a sociabilidade sociocultural dos indígenas, em especial do universo infantil, tendo em vista que os brinquedos permitem que o observador vá muito além daqueles que fabricam o brinquedo ou simplesmente brincam com eles.

O brincar entre os índios compreendia sempre algo um pouco sério, tendo em vista que brincar era considerado um treinamento para a guerra ou para a caça. Desde muito cedo, as crianças nas aldeias indígenas são orientadas para o desenvolvimento das atividades “domésticas” ou para o trabalho de manutenção da tribo.

A presença de miniaturas oferece também a possibilidade de conhecer os materiais utilizados e os principais traços que promovem a identidade de cada tribo.

É sempre essencial destacar que a noção de brincadeira varia de autor para autor. De modo geral, nas sociedades rígidas, o brincar compreende uma gama de situações, como a visita a parentes, os ofícios religiosos e compreende o local onde é possível encontrar os amigos.

Brincar implica sempre na interrupção das atividades comumente realizadas no dia a dia, para um momento de lazer. Já nas aldeias indígenas, sabe-se as atividades relacionadas ao brincar, nem sempre podem ser circunscritas a instantes de interrupção das atividades. A diferença é que nas sociedades indígenas não existe um espaço estrito para aprendizagem. Essa realidade só é modificada com a chegada do homem branco.

Nesse ínterim, as cantigas e as histórias também podem ser incluídas. Enquanto as cantigas constituem parte do patrimônio cultural desses povos, as histórias são utilizadas para moldar comportamentos e para a transmissão de valores culturais associados às tribos.

As histórias mantem vivas as tradições desses povos e são contadas de acordo com a finalidade para as quais servem. Existem histórias indígenas que levam dias para serem contadas e têm o objetivo de desenvolver comportamentos sociais adequados, melhorando a sociabilidades daqueles que ouvem.

Dessa forma, o universo lúdico associado a cultura indígena é bastante vasto e merece atenção específica em cada item a ser estudado. Nesse trabalho, abordaremos as questões ligadas à contação de histórias.

 O CONTAR HISTÓRIAS ENTRE OS ÍNDIOS

Quando pensamos na contação de histórias, seja entre os índios, ou seja, entre os homens brancos, não podemos nos esquecer de que esse ato ocorre com mais frequência na infância e, como tal, trata-se de um período extremamente fugaz e complexo em todos os sentidos.

Nas mais diversas sociedades, incluindo as indígenas, a contação de histórias representa uma forma lúdica de interação social. Ao contar histórias para as crianças no meio indígena, os adultos são inseridos como contadores e raríssimas vezes como coadjuvantes, pois as histórias de índios são sempre milenares e remontam a antiguidade do povo.

A contação de histórias entre os indígenas possuem aproximações culturais e apresentam fundamento educacional que contribuem para o desenvolvimento e a formação de referencias para cada uma das comunidades onde ocorrem.

Por meio dessas histórias – que também são contadas para os adultos – os sujeitos conseguem reconhecer o lugar onde os saberes são produzidos e perpetuados. Para os homens brancos, as histórias são verdadeiros espaços de reconhecimento de suas próprias características históricas, políticas e culturais, fazendo que o espaço onde acontecem, seja também o espaço onde as crianças se tornam crianças.

Opondo as realidades indígenas e homem branco, é possível perceber que para aqueles, a contação de história se constitui em espaço de transmissão de valores e que para esses últimos, em espaços de aprendizagem e ludicidade propriamente ditos.

Quando os índios querem fazer referência a uma brincadeira (histórias incluídas nessa categoria) que não fazem parte da cultura indígena, costumam referenciar como sendo brincadeira de “homem branco”.

As histórias no seio das tribos indígenas não aparecem como sendo um momento sem expressão. Pelo contrário: todas as histórias possuem uma localização no tempo e no espaço bastante adequado e condizente com os objetivos que aquilo que se deseja transmitir.

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