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A Identidade em Bauman

Por:   •  13/8/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.747 Palavras (7 Páginas)  •  252 Visualizações

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BAUMAN, Zygmunt. Ensaios sobre o conceito de cultura. Tradução de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.[1]*

Isabel Saraiva Silva[2]**

Sobre o autor:

Zygmunt Bauman, nasceu na Polônia e mora na Inglaterra desde 1971. Professor emérito das universidades de Varsóvia e Leeds, é autor de vasta obra que analisa as transformações socioculturais e políticas de nosso tempo. Bauman tem cerca de trinta títulos publicados no Brasil pela Zahar, com mais de 250 mil exemplares vendidos.

Na obra ora resenhada, o referido autor traz uma revisão crítica do conceito de cultura, examinando as principais correntes de pensamento que estudaram o significado da cultura na sociedade e apresenta como proposta, alinhar os fenômenos e manifestações culturais no campo da práxis. 

Minha ênfase será sobre a relação entre cultura e identidade estabelecida por Bauman na introdução de sua obra. De acordo com o autor, há hoje uma atenção intensa sobre o tema da identidade, fato que a torna tema de reflexão aprofundada quando sua probabilidade de sobrevivência sem reflexão começa a diminuir. Para ele, não se pensa em identidade quando o pertencimento vem naturalmente.

Possuir uma identidade, lembra Bauman, parece ser uma das necessidades humanas mais universais, embasada no desejo de pertencer, fazer parte de um grupo, ser recebido por outro, por outros, ser aceito, ser preservado, saber que tem apoio, aliados. Neste sentido, ainda mais importante que qualquer satisfação específica, a obtenção de uma identidade social é de suma importância para o indivíduo, visto que enquanto a identidade pessoal confere significado ao “eu”, a identidade social não apenas garante esse significado, como permite que se fale de um “nós” em que o “eu”, precário e inseguro, possa se abrigar.

A modernidade é vista por Bauman como uma era de totalidades supralocais, de “comunidades imaginadas” orientadas ou aspiradas, de construção de nações e de identidades culturais “compostas”, postuladas ou construídas, onde o nacionalismo, por vezes toma culturas preexistentes e as transforma em nações, às vezes as inventa e frequentemente as elimina.

Durante o século XVII, ocorre um processo civilizador que se desencadeou um impulso de separação das elites em relação as massas. Daí surge a preocupação das elites com a tarefa do autoaperfeiçoamento. As massas, consideradas totalmente incapazes de reprimir suas paixões e se ajustar aos moldes civilizados necessitavam ser conduzidas à humanidade.

Destarte, na base da ordem social moderna não se encontra o carrasco, mas o professor, tornando desta forma, o monopólio da educação legítima mais importante e mais central, que o monopólio da violência legítima. O apelo à educação das massas era, a um só tempo, uma declaração de incompetência social das próprias massas e uma proclamação da ditadura da elite como guardiã da razão, dos bons modos e do bom gosto. A difusão da educação seria fundamental para a construção de uma identidade nacional, visto que legitimava o conjunto dos símbolos nacionais com o intuito de criar o sentimento de pertencimento identitário.

Assim, a relação entre o Estado-nação (a ideia da nação transformada em substância do Estado), e comunidade torna-se de rivalidade, na medida em que as novas lealdades só poderiam ser constituídas com o enfraquecimento das lealdades comunitárias tradicionais. O Estado-nação surge com o intuito romper o controle sob o qual as “comunidades” (tradições, costumes, dialetos, calendários, lealdades locais) mantinham sob os potenciais patriotas da nação una e indivisível, impondo um tipo de lealdade sobre o mosaico de “particularismos” locais, comunitários. 

No entanto, o Estado-nação não cumpriu sua promessa; falindo como fonte de escolhas significativas quanto ao modo de vida; de que esse nacionalismo, despido de seu alicerce no Estado, perdeu a autoridade sem a qual a abolição dos direitos individuais de escolha não seria viável nem aceitável; e de que, no vácuo resultante, as “minorias em luta” é que agora são vistas como protetoras da “escolha significativa”. De modo que hoje se espera que as comunidades tenham êxito na tarefa que o Estado-nação definitivamente deixou de realizar.

Bauman aponta que o nacionalismo foi uma resposta à destruição maciça da “indústria caseira” das identidades, e à subsequente desvalorização dos padrões de vida produzidos no plano local. À vista disso, a visão nacionalista surgiu da esperança desesperada de que a clareza e a segurança da existência, que em aparência caracterizaram a vida pré-moderna, podem ser reconstruídas num nível de organização social superior, supralocal, em torno do pertencimento nacional e da cidadania de Estado fundidos numa coisa só. Porém, o autor ressalta que por motivos demasiado amplos e numerosos essa esperança não conseguiu se transformar em realidade.

O Estado-nação revelou-se o incubador de uma sociedade moderna governada não tanto pela unidade de sentimentos quanto pela diversidade de interesses de mercado desprovidos de caráter emocional. Seu esforço profundo de desarraigar as lealdades locais levou a criação de modos de autodescrição rapidamente montados e logo desmantelados. Essa fluidez na criação e desconstrução de identidades será trabalhada de modo mais profundo por Bauman em seu livro Modernidade Líquida, lançado no Brasil pela Zahar em 2001.

A cultura nacional promovida pelo Estado revelou-se uma proteção frágil contra a comercialização dos bens culturais e a erosão de todos os valores, exceto daqueles do poder de sedução, da lucratividade e da competitividade. O que levou as identidades a serem formadas a partir do consumo de identidades dispersas num tipo de “mercado”. Os indivíduos são constituídos de tal maneira que o centro de sua estrutura cognitiva funciona com base no consumo, com base no desejo e porque é extremamente consumidor, ele precisa estar aberto a novas experiências, que novas identidades podem fornecer.

A cultura nacional fornecida pelo Estado devia fornecer um contrapeso para o desespero do abandono, reduzir os danos psicológicos e estabelecer limites à atomização, ao estranhamento mútuo e à solidão, ampliadas pelas forças desabridas da competição de mercado, mas não conseguiu fazê-lo. As esperanças de que viesse um dia a realizar essa promessa se desvaneceram, enquanto a atomização estimulada pelo mercado prosseguia inabalável e o sentimento de incerteza ganhava força.

Em suma, Bauman elucida que identidades significativas são difíceis de concretizar. E chama de ironia da história, o fato das comunidades de origem, locais e inseridas na condição de menos importantes que o Estado-nação, descritas pela propaganda modernizante como paroquiais, atrasadas, dominadas pelo preconceito, opressivas e absurdas, serem vistas como executoras confiáveis da desaleatorização das escolhas humanas.

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