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Comentário do Filme Dossiê Jango

Por:   •  8/8/2016  •  Resenha  •  1.388 Palavras (6 Páginas)  •  943 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

DISCIPLINA: TÓPICOS DE HISTÓRIA POLITICA DO BRASIL I

DOCENTE: JOSÉ ALVES DIAS

DISCENTE: YASMIN SILVA PAIXÃO

RESUMO CRÍTICO DO FILME “DOSSIÊ JANGO”

        “A História deve ser recuperada, porque não está recuperada. Pelo contrário, está oculta. Os silêncios são parte da ocultação da verdade. ” Com essa frase, logo em seus momentos iniciais, “Dossiê Jango” nos mostra seu maior propósito, que vai muito além de apresentar a história congelada no tempo, mas traz a urgência pelo direito a verdade, por respostas, o papel do governo, mostrando que a busca por essa verdade é uma questão política e que cabe ao governo brasileiro assumir a responsabilidade por isso.         
        Escrito e dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, “Dossiê Jango” traz uma atmosfera dinâmica, embasada num clima conspiratório, passando a impressão de estarmos diante de um thriller investigativo.         O filme tem foco nos 1960 e 1970, no Brasil e na América Latina, no contexto da Guerra Fria, porém ele abarca também outros períodos históricos, como a posse de Juscelino Kubitschek e de João Goulart como vice em 1956. Também avança no tempo, entre os anos de 1980 e 2000, mostrando o desenrolar das investigações sobre a morte de Jango e a Operação Condor.         
        O golpe de 1964, articulado por setores civis e militares, encerrou o período democrático iniciado com a Constituição de 1946, que foi considerado por muitos como o maior ensaio de democracia já vivido pelo Brasil (DELGADO, 2003). Com a renúncia de Jânio Quadros em 1961, João Goulart deveria tomar posse do cargo de presidente da república, porém, durante a renúncia, Goulart se encontrava na China comunista e um pequeno grupo de civis e militares queriam impedir a sua posse. Com o intuito de que se cumprisse o que estava previsto na Constituição, Leonel Brizola lança a campanha pela legalidade e Jango assume a presidência sob a condição de um sistema parlamentarista, que durou até 6 de janeiro de 1963, quando o presidente realiza um plebiscito e sai vitorioso com a volta do sistema presidencialista.         
        Com um governo marcado por contrariedades, João Goulart teve que lidar com questões internas, a cisão entre os conservadores e os grupos de esquerda, principalmente no que concerne as reformas de base, particularmente reforma agraria. Além disso, num contexto de Guerra Fria, as questões externas apresentavam um grande peso, especialmente pela postura do presidente de manter uma política externa independente em relação ao governo dos EUA.
É nesse contexto anticomunista, de medo da “cubanização” do país, de insatisfação com a política progressista do presidente, somado a uma gama de propagandas negativas por parte dos militares, da elite, da própria Igreja Católica e com o apoio dos EUA, que a atmosfera perfeita para um golpe de estado estava formada.
        Deposto em 31 de março de 1964, com o intuito de evitar que país entrasse em uma guerra civil e fosse invadido por tropas estrangeiras, Jango partiu para o Rio Grande do Sul, seu Estado de origem e de lá seguiu para o exílio no Uruguai e, posteriormente, na Argentina. Ao escolher não resistir, não significava que Goulart não lutaria pela redemocratização do país, muito pelo contrário, em 1966 organizou a Frente Ampla junto a JK e Carlos Lacerda, visando recuperar o país das mãos dos militares.         
        Apesar de mostrar os acontecimentos que levaram ao golpe militar de 1964, o foco do filme é a morte de João Goulart, apresentada a tese de que o presidente teria sido assassinado em 1976, como parte da Operação Condor, que trocou seus remédios para o coração por uma espécie de veneno. Além disso, o filme questiona as mortes de JK e Carlos Lacerda, os três morreram dentro de um espaço de nove meses, todos membros da Frente Ampla e, dessa forma, uma ameaça em potencial ao governo vigente no Brasil, sendo essa a justificativa para as mortes.         
        Com uma pesquisa intensa, o documentário traz como fonte documentos do serviço de inteligência do Uruguai, do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), além de diversas gravações e depoimentos de políticos, jornalistas, historiadores, amigos, membros da família e outras pessoas do círculo de convivência de Goulart.         
        As duas fontes principais que o filme apresenta são: Enrique Foch Diaz, amigo de Jango, autor do livro “João Goulart: O crime perfeito”, que denuncia que o ex-presidente foi assassinado, acusando até ex-primeira dama, Maria Thereza Goulart, de participar do crime. Segundo Foch Diaz, 18 pessoas ligadas a Goulart morreram nos anos seguintes ao seu falecimento, incluindo o ex-piloto de Jango que iria depor no processo. Curiosamente, 15 dessas pessoas morreram de ataque cardíaco, somando 16 se contar com o próprio Foch, morto em 2007, também do coração.  A outra fonte é Mario Barreiro Neira, um ex-agente do serviço-secreto uruguaio que integrava a Operação Condor e declarou em 2002 ao jornalista uruguaio Roger Rodrigues ter participado de uma operação que levou a morte de João Goulart.         
        Apesar do documentário ter como teoria o assassinato do presidente deposto, não deixa de trazer opiniões contrarias a essa tese, que é o caso do historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira que nega veementemente a teoria de assassinato, alegando que as versões de Neira e Díaz são tanto absurdas quanto inverossímeis. Mesmo não estando errado em afirmar que não há provas suficientes para afirmar a teoria de assassinato, Bandeira deixa de lado a existência de mortes de inúmeros líderes políticos chilenos, uruguaios e bolivianos que ocorreram através da Operação Condor, mostrando assim, que a tese do assassinato de Jango não deveria ser tratada com tanto menosprezo.
        O filme é instigante e se mostra completamente acessível ao público, visto que até quem está a par da história de Goulart é capaz entender o que se passou no período e as consequências de sua morte.          Embora tenha praticamente “silenciado” a versão oficial em torno da morte de Goulart, o documentário não perde nenhum um pouco de seu mérito, pois trouxe ao assunto o status de urgente e teve como resultado a exumação do corpo do presidente que ocorreu entre os dias 13 e 14 de novembro de 2013, em São Borja (RS).         
        Além do mais, o filme colocou a figura do presidente em destaque, não só sua morte, mas sua trajetória e importância histórica, que para os leigos, era insignificante, principalmente no momento do golpe militar. O documentário se encerra com um clamor pela maior participação e interesse do governo brasileiro para preencher as lacunas e pôr fim nas inverdades da narrativa histórica oficial.         Encerro minha análise com uma frase que me chamou atenção no documentário, do promotor público argentino Pablo Andréss Vassel:         
“Invariavelmente, a história nos demonstra que, quando se perde a memória e se oculta a verdade, os povos voltam a repetir as tragédias do seu passado. ”

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