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Cultura Alternativa e Repressão Política nos Anos 70

Por:   •  16/6/2016  •  Trabalho acadêmico  •  9.534 Palavras (39 Páginas)  •  301 Visualizações

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INTRODUÇÃO

A virada da década (60-70) corresponde a mais uma derrota dos movimentos de massa, em especial os estudantis e de esquerda. Após a implementação do chamado “Segundo Golpe” e da consolidação do milagre econômico, o país passa a impressão de uma “ilha de tranquilidade”. Com uma política baseada essencialmente no consumo é criada toda uma atmosfera favorável ao investimento de capital externo e integração com classes dominantes internas. Instaura-se um clima de ufanismo e o estado segue com suas obras faraônicas como a Ponte Rio Niterói, a Transamazônica, as hidroelétricas de Itaipú e Tucurui e as Usinas Angra I e Angra II. Todas estas obras tinham sua propaganda muito bem construída para dar legitimidade ao governo. Quem conduzia esta propaganda política era a AERP (Assessoria especial de Relações Públicas).

A classe média, com as “sobras” do milagre, vai compra suas casas de veraneio, carros e televisões coloridas. A posteriori, as consequências do milagre serão duras para o Brasil com problemas como ampliação da dívida e concentração de renda. No campo da produção cultural a censura vem tornando-se mais intensa impedindo ou dificultando as produções de caráter crítico. Com a internalização do inimigo, a censura surge como um marco entre a relação do estado e sociedade. Os censores estavam presentes em diversos ambientes e não possuíam um padrão em seus métodos. A necessidade de mostrar um país para frente e otimista eram tão grandes que até notícias de saúde publica como o anuncio de um surto de meningite foram impedidas de ir ao ar.

As perseguições não se restringiam mais apenas aos militantes, como também a professores, estudantes, artistas e intelectuais, originando uma série de exílios. O partido comunista tem seus membros perseguidos e torturados. O DOI-CODI (Destacamento de Operações Internas - Centro de Operações de Defesa Interna) era o órgão encarregado de fazer as prisões arbitrárias. Embora tenha acontecido em 1975, ou seja, alguns anos depois da instauração do AI-5, que fora em 1968, é importante citar o documentário de João Batista de Andrade intitulado “Vlado – 30 anos depois”, pois demonstra em depoimentos carregados de emoção o quanto a tortura foi cruel naquele período e elucida um dos principais símbolos da repressão que foi a morte do jornalista Vladimir Herzog.

Após a exibição de um documentário sobre o Vietnam pelo jornal da Tevê Cultura, os jornalistas do programa e em especial seu diretor da época, Vladimir Herzog são duramente atacados e acusados de comunismo por um jornalista simpatizante da ditadura chamado Cláudio Marques. Posteriormente Herzog recebe uma espécie de intimação e diferente da maioria que chega ao DOI-CODI encapuzado e dentro do carro do órgão ele consegue negociar sua apresentação ao órgão repressor. Foi a ultima vez que viu sua família. Assassinado em uma das salas do DOI-CODI, o jornalista teve sua morte forjada para parecer um suicídio e tornou-se um dos símbolos da luta contra ditadura.

Como já foi evidenciado no texto, a censura era tanto exterior como interior, e todo este método fortaleceu a indústria cultural que surge a partir do milagre econômico, pois não era embasada em críticas e reflexões. Ela se estabelece no período de maior repressão. A arte passa a ser avaliada pelo número de consumidores que ela vai atingir, vira um produto. Esta indústria surge com a proposta de integrar o Brasil pelo centro. O que passa a vingar é o padrão técnico, são produções pasteurizadas e identificação com culturas internacionais. Estas novas exigências do mercado e da política nacional são mais bem assimiladas pelo cinema. Com o “aperto” da censura (que não era só disciplinadora, mas também moral), a impossibilidade de debates e de uma contestação política, as manifestações culturais passam a ocupar um lugar privilegiado da “resistência”. A Cultura Marginal, ou Cultura da Resistência era composta por aqueles que não queria seguir o padrão da indústria cultural.

Em meio a este clima, a questão da relação entre os intelectuais e o Estado passa a ser um debate político e cultural. Uma das principais mídias que evidenciou esta polêmica foi o jornal Opinião, que abriu espaço para este tema e outros como drogas, homossexualismo, autoritarismo marxista dentre outros. A cultura alternativa refletiu-se em diversos segmentos. A proposta era estar fora do mercado e do sistema das grandes editoras. No jornal dá-se destaque para O Pasquim, Lampião e o surgimento de alguns jornais mais politizados. O cinema passa a vigorar o Niilismo, a descrença. Passam a ser exibidos filmes de forma não linear, sem maiores preocupações com a forma, um estilo mais Trash. O teatro evidencia as peças Asdrúbal trouxe o trombone, Trate-me leão e Ornitorrinco. As peças citadas traziam várias formas de linguagem como o circo e a dança. Na MPB os grupos mambembes de rock e chorinho e na literatura os livrinhos mimeografados.

A produção marginal, portanto, surge como uma alternativa a toda cultura pasteurizada que vinha sendo consumida. Aos poucos o circuito semimarginal vai se consolidando nos grandes centros urbanos como resposta as grandes adversidades políticas. Os livrinhos citados acima começam a ficar cada vez mais comuns, são passados de mão em mão, vendidos na porta de cinemas, teatro e museus. Com a poesia entrando em cena, surge um novo público leitor. A nomenclatura “poesia marginal” passa a ser objeto de deboche e de negação por aqueles que a produziam, geralmente eram chamadas assim por seus analistas e não por autores.

Tendo esses aspectos em vista, o presente trabalho tem por objetivo analisar o papel da cultura alternativa brasileira durante a espinhosa década de 70, buscando identificar os fatores que a provocaram, cavando vestígios e relatos sobre a Ditadura Militar, seus aparatos de repressão, a Lei de Segurança Nacional, a luta armada e as memórias ressecadas dos “anos de chumbo”. Uma pergunta surge: Houve de fato um “vazio cultural” nesse período? O que Zuenir Ventura quis dizer com essa afirmação? Para tal análise, se faz necessária uma abordagem da conjuntura nacional daquela época.

A Ditadura Militar foi o período governado pelos militares no Brasil que teve início em 1964 através de um golpe que derrubou o então presidente João Goulart. Este período é marcado pelo despotismo, veto aos direitos estabelecidos pela constituição, opressão policial e militar, encarceramentos e tortura aos oponentes..

Um grupo que se destacou na luta contra a opressão foi o dos artistas: atores, músicos, cineastas, artistas plásticos, poetas, escritores... Cada um contribuía com o que melhor sabia fazer,

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