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LENDO MAIAKOVSKI PARA COMPREENDER A REVOLUÇÃO RUSSA

Por:   •  10/5/2016  •  Artigo  •  2.826 Palavras (12 Páginas)  •  546 Visualizações

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LENDO MAIAKOVSKI PARA COMPREENDER A REVOLUÇÃO RUSSA

Caroline Simões Sousa[1]

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo analisar as peças teatrais O Mistério-Bufo e O Percevejo do poeta e dramaturgo russo Vladímir Maiakovski dialogando com os acontecimentos da Revolução Russa. Assim poderemos entender que linguagens artísticas como peças teatrais, filmes e poesias podem enriquecer o conhecimento sobre qualquer temática histórica. Analisando as duas obras de Maiakovski podemos encontrar aspectos que mostram a esperança geral com a Revolução assim como a desilusão com a mesma posteriormente.

Palavras-chave: Revolução Russa, Maiakovski, Misterio-Bufo, Percevejo, Análise.

Vladímir Vladímirovitch Maiakovski nasceu em 19 de julho de 1893 na Geórgia, então Império Russo. Bagdadi, sua cidade natal, veio a se chamar Maiakovski durante o período soviético. Após a morte de seu pai, em 1906, a família ficou na miséria e mudou-se para Moscou. Em 1908, filiou-se ao Partido Social-Democrata Russo, participando da ala bolchevique. Participou da elaboração do primeiro manifesto futurista russo e tornou-se uma das mais representativas figuras do movimento. Detido em duas ocasiões, foi solto por falta de provas, mas em 1909-1910 passou onze meses na prisão, que o levou a ler febrilmente romances e poesia russa da época, assim como textos socialistas. Em 1910, ingressa na Escola de Belas Artes, onde se tornou amigo de David Burliuk, que foi o grande incentivador da sua iniciação poética. Ambos são expulsos quatro anos depois, quando já se encontram ligados ao movimento futurista e se negaram a abandonar a campanha a favor do movimento. Procurando difundir as suas concepções artísticas, realizaram viagens pela Rússia. Após a revolução de 1917, Maiakovski colaborou com o governo na criação de lemas revolucionários. Fundou em 1923 a revista LEF (de Liévi Front, Frente de Esquerda), onde escritores e artistas pretendiam aliar a forma revolucionária a um conteúdo de renovação social. Maiakovski vivia frequentemente em choque com os “burocratas’’ e com os que pretendiam reduzir a poesia a fórmulas simplistas. O poeta escreveu várias peças teatrais, sempre ligadas a sua produção lírica, e também roteiros para cinema. Empregou ainda, como meios de expressão, o desenho, a caricatura e o cartaz e, no início da consolidação do novo. Após a estreia de Os Banhos e cercado de duras criticas sobre seus escritos como sendo “incompreensível para as massas”, Maiakovski cai em uma profunda depressão que é agravada por problemas na garganta, o que era algo muito difícil para quem sempre falava ao publico e é conhecido pela oralidade de suas poesias. Escreve o poema “A plenos pulmões” e se suicida em Moscou, em 14 de Abril de 1930 com um tiro.

Maiakovski escreveu a peça o Mistério-Bufo para o primeiro aniversário da Revolução Bolchevique de Outubro, mas a idealizou ainda antes da mesma, em 1917, porém depois da revolução de fevereiro de 1917 que aboliu o absolutismo na Rússia. Quando Maiakovski leu a peça pela primeira vez a um grupo de amigos, no dia 27 de setembro de 1918, estava entre eles A.V.Lunatcharski, na época ministro da Educação, que logo no começo de outubro distinguiu a peça em um discurso dizendo que “o conteúdo desta obra é constituído por todas as emoções gigante da contemporaneidade. O conteúdo, pela primeira vez entre obras de arte dos últimos tempos, é adequado aos fenômenos da vida”.

No prefacio da segunda versão, de 1921, o próprio Maiakovski escreveu:

Mistério-Bufo é o caminho. Caminho da revolução. Ninguém profetizará com exatidão quase montanhas a mais teremos de explodir, nós que estamos indo por este caminho. Hoje arrebenta os tímpanos a palavra Lloyd-George, mas amanha seu nome será esquecido pelos próprios ingleses. Hoje aspira à comuna a vontade dos milhões, mas dentro de uma meia centena de anos, pode ser que em um ataque contra planetas longínquos se atirem encouraçados aéreos da comuna. É por isso que, tendo mantido o caminha (a forma), eu novamente mudei partes da paisagem (o conteúdo). No futuro, todos que encenarem, desempenharem os papéis, lerem e imprimirem o Mistério-Bufo, mudem o conteúdo, - façam seu conteúdo ficar contemporâneo, hodierno, do momento.” [2]*

A estreia da primeira montagem de Mistério-Bufo para os palcos, onde o próprio Maiakovski atuou, foi em 7 de novembro de 1918, contando apenas com três apresentações, nos dias 7,8 e 9 de novembro. Dois dias antes da estreia Lunatcharski escreveu no jornal Pravda de Petrogrado o artigo “Espetáculo comunista”, dizendo que “a única peça que foi idealizada com influencia de nossa revolução e, portanto possui o carimbo de tom maior, de entusiasmo, de ousadia é o Mistério-Bufo de Maiakovski”.

Em o Mistério-Bufo é possível notar a esperança do autor, que pode ter refletido a esperança de outras muitas pessoas da época a respeito da revolução. Recém-industrializada e ainda sofrendo os reflexos da Primeira Guerra Mundial, a Rússia tinha um grande numero de operários e camponeses trabalhando muito e ganhando pouco. Além disso, o governo absolutista do czar Nicolau II desagradava o povo, que passaram a desejar uma liderança menos opressiva e mais democrática. A abdicação de Nicolau II que foi consequência de varias revoltas de soldados contra seus oficiais, marinheiros contra seus comandantes e operários contra patrões, esse quadro era o que a Russia apresentava no período que foi iniciado com a abdicação de Romanov e termina com a tomada do poder pelo partido de Lenin. Essas revoltas fazia florescer em muitos o nacionalismo que era o combustível para que a população tentasse soltar-se das amarras do sistema de servidão.

De acordo com Mauricio Tragtenberg no livro A Revolução Russa

 “a revolução de 1917 pôs fim à supremacia politica da burguesia, eliminando sua base econômica, a propriedade privada dos meios de produção, e mudou o sistema de propriedade existente. Porém não teve suficiente força para alterar as relações de produção autoritárias que caracterizam uma sociedade dividida em classes.” [3]*

O autor continua ainda dizendo que os setores da burguesia ficaram aliviados quando viram que o governo pretendia estatizar os meios de produção, mas iria permanecer a hierarquia dentro da fabrica, ou seja, a separação de dirigentes e dirigidos.[4]** A militarização do trabalho defendida por Trotski desagradou obviamente a classe proletária, que seria obrigada a ir para onde quer que fosse a necessidade de seu empregador, e poderiam ser presos se recusassem a tarefa destinada. Nesse mesmo momento é aprovada pelo congresso a direção uninominal das fabricas, que levou a uma Oposição Operaria que era formada pelos mesmos trabalhadores que participaram das revoluções de 1905 e 1917, eles criticavam que a direção uninominal tem o caráter individualista que é característica da classe burguesa, afirmando que assim não adiantou de nada a revolução.

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