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Lucien FEBVRE - Martinho Lutero, Um Destino.

Por:   •  7/10/2016  •  Trabalho acadêmico  •  5.627 Palavras (23 Páginas)  •  481 Visualizações

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O idealista de 1520

Lucien introduz: "todo estudo de influências coloca um grave problema. Até que ponto o ser humano, o indivíduo cujas ações e reações se trata de explicar, deixou-se tocar em suas partes vivas, pelo jogo das forças maciças que o historiador erige a seu redor? ’’  (p.173)

O autor retrata então: Lutero empresta-se à muitos, mas não se dá a ninguém.        

I. O MANIFESTO A NOBREZA.

 Polemista nato, impaciente ante qualquer contradição, indiferente ao escândalo, seu estilo favorito é o salto.  [ao referir-se a Lutero]

(Usa o exemplo, ao qual ele diz já ter citado do Pecca Fortiter [peca fortemente])  

Ele observa que Lutero está calmo e não luta, e que escreve uma carta a um amigo: Melanchthon. O assunto: A força soberana da graça.

O que se deve registrar [ou seja, o exemplo do Pecca Fortiter] é a forma exagerada de raciocínio. Ocorre que o nervoso que assim raciocina, o impulsivo que se joga às cegas em um oceano sem limites nem meio de salvação – manobrá-lo, incitá-lo, exaltá-lo: qual é o jogo para os astuciosos?

 Mesmo porque se trata de um monge que não tem contato real com os homens (vive anos em um convento). O que sabe ele? Para ele, os homens são junções factícias de vícios e virtudes, dos quais ignora os reais comportamentos e as prováveis reações.

Eis que no início de 1520, os acontecimentos, acelerando-se vinham preocupar Lutero. Seu mais temível inimigo, Eck, partira para Roma com intenção de obter da cúria uma condenação que assumia como um caso pessoal. Em 15 de julho de 1520, após longas deliberações consistoriais, era publicada em Roma a bula Exsurge Domine [Levanta-te, Senhor].

A bula não excomungava Lutero, condenando suas opiniões, entregando suas obras ao fogo, dava-lhe um prazo de 60 dias para submeter-se. Sabiam que ele não se submeteria.  Assim, o círculo foi se fechando em torno de Lutero. Com a bula, esvaneciam-se tais cuidados. Lutero já não era um herético na aparência: era em si e por si.  Herético, o que seria dele?    

Lutero aceitou a ajuda que o ofereciam. Precisava de apoios, apresentavam-se alguns. O Eleitor da Saxônia, Frederico, lhe era favorável. Mas quão precários são os favores dos grandes!

Erasmo se empenhava por ele, para salvar Lutero? Sem dúvida, mas, acima de tudo para salvar sua esperança em uma reforma cristã. [Pede um novo processo, escreve a Santa Sé e a Leão X]

 Hutten trabalhava por ele, [garante eventual proteção de Franz Von Sickingen, e envia para um monge uma carta, que se difunde por toda Alemanha]; O temível polemista se engaja então em uma furiosa campanha contra Roma.

Publica por Scheffer, o celebre Vadiscus seu Trias Romana [Vadisco, ou Tríade Romana], nele publica violentos escritos sobre o cisma, contra os romanistas. Publicada a bula, Hutten dela se apodera com comentários mordazes e antipapistas: “Não é de Lutero que se trata [ou que o papa ataca], mas de todos nós. [...] Ouçam-me, lembrem-se que são germanos!” Tudo isso em latim.   (p.178)

Lutero os conhece. Lutero os lê. Lutero toma emprestados deles termos, expressões. Em uma carta a Spalatino diz: “Não desejo me reconciliar com eles. A sorte está lançada!” Deles também toma emprestada essa preocupação com a liberdade à qual breve, em seu puro e belo tratado da liberdade cristã, dará um novo sentido.    

Em uma carta a Spalatino partilha sentimento de indignação que experimenta ao ler, na reedição de Hutten, a obra de Valla sobre a Doação de Constantino. E deixa-se levar, aos poucos, as invectivas do nacionalismo alemão, antirromano, tornam-se familiares. Já inspiram certas páginas de seu rude panfleto contra o papado de Roma. De maneira mais clara, são vistos em sua resposta ao libelo de Prierias, o célebre convite a lavarem as mãos no sangue dos curialistas. E principalmente, em agosto de 1520, animam o Manifesto à nobreza cristã da nação alemã, que ressoa com um toque de reunir dos germanos contra o inimigo público.

‘’Que estranho documento constitui para o historiador o Manifesto, esse Vadicus de Lutero, visivelmente inspirado por aquele Hutten, quando, resistindo ao arrebatamento, a poderosa sedução dessas páginas frementes de vida e paixão, ele analisa, disseca e decompõe?’’ (p.179)  

Uma acusação em regra contra Roma, o papa, a cúria. A denúncia veemente dos abusos da Santa Sé. Uma exortação à resistência, à revolta de uma Alemanha explorada por um papado espoliador. Contra um clero amiúde escandaloso, o apelo aos príncipes, nobres, aqueles que possuem a força e precisam preservar as liberdades cristãs, depondo, se preciso, um pontífice infiel ou culpado.

Mas a afirmação de que todos os cristãos possuem condição eclesiástica; de que não há diferença alguma entre eles além da função, de que a ordenação não é um sacramento que confere aos padres um caráter indelével, e sim mera designação de função, revogável ao sabor do poder civil: o suficiente para contentar os burgueses, tão impacientes com qualquer intermediário entre eles e a divindade.

Em seguida, veio a revindicação, para todos os cristãos, do direito de ler a Bíblia. Vieram declarações de um liberalismo absoluto sobre o direito de cada um pensar e escrever segundo sua consciência; ataques incisivos contra a escolástica e seus representantes: o suficiente para aproximar os homens de estudo, humanistas, etc.

Trazia, por fim, o esboço de um programa singular, mais que inconsistente no conjunto, de reformas políticas, econômicas e sociais. Improvisação de um irresponsável, aparentemente:

Tinham-se variadas propostas, como a reivindicação do casamento dos padres, uma declaração de guerra às especiarias, símbolos do luxo; declamações de camponeses contra a usura, o banco e os Fuggers, etc. Devendo comover e atrair centenas de descontentes. De modo que nada surpreende quanto à proliferação do livrinho.  “Nove em dez alemães estão gritando: Viva Lutero!, e o resto, embora não o seguindo, juntam-se para gritar “Morte à Roma!”, diz Aleandro na Alemanha.  

II. CONSTRUIR UMA IGREJA?

O manifesto constitui, em definitivo, um apelo aos príncipes. Lutero vai investir nos príncipes, unir seus esforços aos de Hutten e dos seus, buscar com eles a grande figura que assumindo a frente do movimento nacional alemão, liderará a investida contra Roma: Carlos de Habsburgo, ou seu irmão Fernando, ou quem sabe o suspeito prelado que acusava Moguncia e Magdeburgo, Albrecht de Brandeburgo?  

Nada disso. Lutero não se move. Lutero não age. Aos apelos diretos de Hutten, não responde por atos e nem iniciativas. Simplesmente escreve. O Manifesto, mas também o De Captivitate, o De Libertate... E mesmo no Manifesto ele visivelmente hesita. Tateia. Luta, talvez sem ter plena consciência disso. Qual é a sua intenção? Reformar a Alemanha ou a cristandade? Reforma nacional ou reforma “católica”? Estão aí inúmeros trechos, que Hutten subescreverá, que visam tão somente à Alemanha. Mas a reforma do papado, da cúria; o apelo por um concilio: isso de fato diz respeito a toda cristandade, isso denota, decerto, alguma confusão ou um pensamento bastante complexo e difícil de reduzir a formulações demasiado simples? Lutero se emprestou. Talvez. Mas não se deu.

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