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MUROS QUE GRITAM: AS AVENTURAS E VISUALIZAS DO PICHAR EM TERESINA

Por:   •  20/5/2019  •  Artigo  •  3.498 Palavras (14 Páginas)  •  177 Visualizações

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II SIMPANTRO: SIMPÓSIO DE ANTROPOLOGIA.

        

MUROS QUE GRITAM: AS AVENTURAS E VISUALIDAS DO PICHAR EM TERESINA.

Flávio Augusto Leite Soares[1]

Resumo:

Essa investigação a se realizar no campo da História Nova, a partir das concepções da cultura e das visualidades, se torna possível por meio da renovação da história com o advento dos Annales, que favoreceu o uso de novos documentos e métodos de pesquisa, protagonizando, especialmente, o uso das imagens na escrita da História. Tomadas como frases ou imagens pichadas, entendemos que se trata de um conjunto de arte visual efêmera, com amplos significados e expressões. A partir dessa arte, é possível compreender os fatores socioculturais e contextuais de seus autores/produtores, assim como perceber o que, como e de que forma, cada uma dessas expressões contribui para os embates políticos e econômicos da sua localidade.

Palavras chave: Frases; Tinta Spray; Teresina

Introdução.

A partir da concepção dos estudos das imagens, temos como fundamentação as concepções apresentadas na metade do século XIX, quando do surgimento da fotografia, a ciência e a arte passaram a traçar percursos distintos, fragmentados e descontinuados. Segundo Fabiane Muzardo, enquanto a ciência “enaltecia o rigor metodológico e técnico, a arte se abria para a subjetividade e livre criação” (MUZARDO, 2010, p. 64). A partir dessas considerações, entendemos que no contexto do século XIX, embora a arte tenha se libertado - com o advento da produção fotográfica -, do compromisso de “imitar a natureza” (MUZARDO, 2010, p. 64), ela ainda vai se encontrar institucionalizada e fragmentada em escolas, voltada para os estudos europeus da História da Arte.

No Brasil, com a intervenção militar estrangeira e o longo processo político ditatorial culminado na década de 1964, conhecido como Ditadura Militar, responsável por um longo período de repressão e cerceamento das liberdades de expressão plurais, terá o surgimento de novas manifestações coletivas de pequenos grupos de pessoas, que irão redefinir ou ressignificar instrumentos artísticos, tais como o rolo e a tinta, que passaram a servir como a materialização de protestos em oposição ao regime militar vigente. A violência e a brutalidade policial vinham com força para calar 21 anos de terror e sofrimento.

O grafite está ligado, em suas origens, à pop art, como já mencionei, e também ao início do movimento hip hop nos Estados Unidos. No começo dos anos 1970, pintar vans, janelas de ônibus, prédios, e sobretudo trens (parte interna e externa), tornou-se uma febre em Nova York, a ponto de o problema dos rabiscos nos trens ter se tornado um problema urbano amplamente debatido pela administração da cidade. O chamado tagging se popularizou; um adolescente que se nomeava TAKI 183 é considerado o pioneiro, tendo se tornado uma lenda entre grafiteiros e pichadores. Ele era uma espécie de office boy e costumava pegar trens e metrô o dia todo, onde então começou a fazer sua assinatura, que consistia em seu apelido e o número da rua em que vivia.( SCANDIUCCI, 2014, p. 24)

Com o advento do Hip Hop, embalado por inquietações e protestos de parte da população negra norte-americana, a reivindicar acesso democrático a necessidades básicas de sobrevivência, reinvidicaçoes estas que se centravam ao racismo, ao descaso do governo para o bairro, além da falta de escolas de qualidade e de um forte programa do controle das drogas, um lugar que era dominado e controlado pelo tráfico por falta de uma política governamental, pessoas deixadas para a morte. Para além dessas reivindicações havia também o divertimento como forma de prática de lazer, e o extravasamento do ódio gerado pela tensão racial em voga nos Estados Unidos, assim como o medo gerado pelo meio racista em que viviam os habitantes do Bronx, em Nova York, Estados Unidos (OLIVEIRA, 2015). O Grafite se destacava dentre as alternativas rítmicas disponíveis naquele contexto, a batida de rap e o Break.

O hip hop emergiu na Nova York dos anos 1980, mais especificamente no South Bronx, onde os jovens negros e imigrantes eram vistos pelos meios de comunicação e pelo Governo como “problema social”. Os bairros periféricos estavam esquecidos pelo poder público e os espaços de lazer praticamente inexistiam. Sobre isso, Rose (1997, p. 202) afirma: “enquanto os líderes municipais e a imprensa popular condenaram literal e figurativamente o South Bronx, seus moradores e sua vizinhança, seus jovens         habitantes negros e hispânicos responderam à altura”. (OLIVEIRA, 2015, p. 99 - 114)

Com a sede cada vez maior de ir para as  ruas com uma lata de tinta e deixar sua marca de algum jeito, as ruas acabam virando alvo para os pichadores, e a disputa por espaço e a mutiplicação de suas marcas, para ficar cada vez mais famoso e conhecido dentro da própria comunidade, pelas paredes que deixavam a cidade toda “riscada”, fazendo o governo criar políticas de combate a pichação.

O trem atravessava toda a cidade, é um dos alvos mais vistos, logo não poderia ficar de fora dos olhos dos graffiteiros. Ser conhecido por todos, ter sua marca conhecida por todos era uma das grandes motivações que os faziam ser lançados nos perigos dos vagões, das alturas.

Os trens parecem ser um alvo interessante à medida que estão ligados ao deslocamento (pessoas de diferentes partes da cidade os usam), ao grande tráfego de pessoas (muita gente vê) e, em última instância, à liberdade propriamente dita – algo que está no código genético do grafiteiro e do pixador. (SCANDIUCCI, 2014, p. 24).

Segundo Paulo Knauss, historiador brasileiro das imagens, há de se considerar a problemática da escrita da história a partir das visualidades, e desse modo, entendemos que o desafio é lançado, todas as vezes que tentamos fazer História com imagens, e não é fácil, devido ao fato de a escrita sempre ter acompanhado a imagem, e elas até funcionarem como linguagem para grupos sociais, pois a escrita é, segundo Knauss, um domínio especializado, “isso equivale a dizer que a história da imagem se confunde com um capítulo da historia da escrita e que seu distanciamento pode significar um prejuízo para o entendimento de ambas” (KNAUSS, 2006, p. 99).

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