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O INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS FACULDADE DE HISTÓRIA

Por:   •  18/10/2022  •  Resenha  •  1.994 Palavras (8 Páginas)  •  83 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

FACULDADE DE HISTÓRIA

FORMAÇÃO DO PENSAMENTO CLÁSSICO

EDUARDA RAQUEL DA COSTA PIMENTEL

RESUMO

BELÉM/PA

2022

De fato, a palavra história foi uma invenção de Heródoto, uma derivação do termo ἵστορ (hístor) que significa “aquele que sabe”, mas é aquele que conhece os fatos por “interrogar”, por “informar-se” a respeito de algo, daí “investigar”, como expressa o verbo ἱστορέω (historéō) do qual deriva esse substantivo. A filosofia se faz presente na sua tentativa de refletir sobre as causas e os efeitos das ações humanas, pensamento corrente em sua época para explicar os atore políticos do período clássico da história helena.

As consequências das ações observadas por Heródoto sob a perspectiva de causas e efeitos ora são explicadas por um pensamento mítico, ora justificadas por fatos, ora por suas práticas culturais, ou ainda por seu caráter, por uma noção de justiça operada pelos deuses que é materializada nos revezes ou nos sucessos das suas personagens.

Notamos na narrativa herodotiana a transição do pensamento mítico para um mais racional, que resulta em sua visão mais racional do mito, embora o maravilhoso não seja totalmente descartado de sua compreensão dos fatos. Nicolai acrescenta que a definição de Hecateu como o primeiro historiador é uma concepção dos modernos, visto que entre os antigos Heródoto, ao lado de Tucídides, ocupa o posto de grande historiador do mundo antigo, ambos preocupados também com o estilo da sua narrativa. O autor afirma que Teofrasto mostra o quanto Heródoto e Tucídides se destacam dos anteriores pela qualidade de seus registros e pelos seus notáveis estilos, e que Hecateu não figura entre os antigos como um historiador que mereça menção em suas análises. Para compor sua obra, Heródoto serve-se de uma metodologia que não descarta a tradição oral helena, visto que registra aquilo que ouviu, em geral, os relatos dos sacerdotes dos principais templos dos locais visitados, por julgá-los detentores de um saber incomum.

A autoridade que ele confere a esses doutos, no entanto, não é incondicional, há vários momentos em que o historiador coloca em dúvida aquilo que lhe foi dito e se contrapõe aos sacerdotes, apresentando argumentos, ora advindos de seu raciocínio, ora de provas materiais que os desdizem.

 No Prólogo de suas Histórias, Heródoto declara a finalidade de sua obra:  Esta é a exposição da investigação de Heródoto de Túrio (ou Halicarnasso), para que os acontecimentos passados não sejam extintos entre os homens com o tempo, e para que os feitos1 grandiosos e maravilhosos, uns realizados por helenos e outros por bárbaros, não fiquem sem glória, e ainda os demais assuntos e por qual motivo guerrearam uns contra os outros.

Percebemos então que Heródoto transforma o seu escrito em um espaço de memória, a fim de que os acontecimentos não se percam com o tempo, dado que revela o enfraquecimento da tradição oral em sua época, ou ainda a percepção do historiador de que o relato oral transforma e reinventa as histórias, daí a necessidade de um relato estabelecido por palavras escritas, menos passível de mudanças e de rearranjos como os relatos orais, o que lhe garante certa permanência no seu conteúdo.

Do mesmo modo, os oráculos registrados em sua narrativa atuam como causas das ações dos agentes históricos, manifestando a vontade divina sobre o pensamento do homem, uma vez que este não consegue se desvencilhar do quinhão que lhe fora reservado pelo divino. Na narrativa herodotiana, os deuses agem dentro de uma lógica histórica na qual parte da história humana está marcada pela vontade divina, em grande parte atuando como juiz da história, dado que ela surge como uma punição pela soberba humana, e a vontade humana atua quando os deuses não se manifestam por meios dos oráculos.

Ao contrário do esperado pelo seu ouvinte/leitor, o historiador não segue sua narrativa contando os fatos das Guerras Persas, mas realiza uma digressão sobre o a história da Ásia Menor, começando pela Lídia, com a história do seu rei Creso, depois relata a história do seu dominador Ciro, o rei persa, que subjugou a Babilônia. Em um relato que Hartog chama de uma “representação do outro”, porque nos permite ver como os helenos do período clássico viam o bárbaro, e como ele sintetiza: “As Histórias são decerto este espelho no qual o historiador não cessou jamais de olhar, de interrogar-se sobre sua própria identidade: ele é esse que olha e é olhado, questionador-questionado”. O episódio mais emblemático do contanto do heleno com o outro em Heródoto está no encontro de Creso com Sólon, segundo o historiador, “para ver o mundo, Sólon ficou ausente da sua pátria e partiu para o Egito, para a corte de Amásis, além de ir para Sárdis, à corte de Creso”, fato que demonstra o hábito dos helenos de viajar e conhecer outros territórios, outras culturas, para que se tornassem mais sábios. Tal sabedoria se espelha no seguinte diálogo:  Creso perguntou-lhe o seguinte: - “Hóspede ateniense, muitas histórias sobre ti chegam até nós, por causa da sua sabedoria e da sua peregrinação, que em busca do saber foste a muitas terras para ver o mundo agora, veio-me o desejo de perguntar-te se alguém dentre todos que já viste é mais feliz.” E ele, esperando que fosse o mais feliz dos homens, perguntou-lhe isso, e Sólon em nada o adulando, mas, na realidade, sendo-lhe útil, respondeu: - “Ó rei, o ateniense Telo.”. Do mesmo modo, Heródoto demonstra que a concepção de observação (theôria) do rei Creso está equivocada, uma vez que a direciona para sua riqueza, para o mundo tangível, em contraposição ao inteligível que representa a sabedoria adquirida pela observação que alimenta o conhecimento acrescenta que o episódio revela uma postura moralizante de Sólon que pretende dar ao rei uma lição sobre a vulnerabilidade de sua prosperidade, dado que Creso será capaz de compreender somente após os acontecimentos. Sob outra perspectiva, Shapiro acrescenta que esses conceitos de efemeridade humana, instabilidade dos deuses, inveja divina repetem um pensamento já existente no período arcaico e que Heródoto apenas os justapõe em sua narrativa.

Dessa maneira, a autora argumenta que a o relato histórico de Heródoto representa uma narrativa romanceada que o torna uma narratologia historiográfica característica do mundo antigo, que se diferencia da moderna por trazer discursos e diálogos, elementos que não estão incorporadas à narratologia de nosso tempo. No entanto, ambas têm como finalidade o registro dos acontecimentos e a crítica de suas causas e efeitos, e ainda não se distanciam da verdade históricas, apenas apresentam forma e conteúdo diferentes. Outro aspecto interessante apontado por MacWilliams é que, desde o primeiro livro da obra herodotiana, é possível notar que os estrangeiros, ou bárbaros como os helenos os chamavam, interagem com os helenos, estabelecem acordos políticos e se influenciam mutuamente, em particular, nas suas práticas culturais5.

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