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PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS E INDÍGENAS

Por:   •  15/3/2022  •  Trabalho acadêmico  •  1.277 Palavras (6 Páginas)  •  82 Visualizações

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS, ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS E INDÍGENAS

O impacto do apagamento da produção de autoria negra na literatura brasileira

Discorrer a respeito da produção de literatura de autoria negra neste país é indignar-se com tamanha invisibilidade à qual é submetida a maioria da população, que totaliza 54% de pretos e pardos de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2015. Seja entre os autores ou entre os personagens, prevalece sempre a maioria branca, conforme foi possível observar em pesquisa apresentada pelo Grupo de Estudos de Literatura Contemporânea da Universidade de Brasília, onde verificou-se que 70% das obras publicadas entre 1965 e 2014 foram escritas por homens brancos, sendo brancos também 80% dos personagens destas obras.

Os dados apresentados são o reflexo da visão colonial que permaneceu pós abolição, onde o negro é subalternizado e retratado com estereótipos racistas. Seja na literatura ou no cotidiano, esta mesma ótica permeia as relações sociais e endossa o racismo que estrutura o Brasil, mantendo os privilégios das pessoas brancas e simulando a abolição da escravidão do povo preto. Ao analisar brevemente a vida e obra do simbolista Cruz e Sousa e do romancista Teixeira e Sousa, considerando o contexto histórico e cultural da época pretendemos entender os impactos do apagamento da produção de autoria negra na literatura brasileira.

João da Cruz e Sousa

Nascido na antiga Desterro, atual Florianópolis, filho dos escravizados alforriados Guilherme da Cruz e Carolina Eva da Conceição, João da Cruz e Sousa escreveu seu primeiro poema aos oito anos de idade. Sua habilidade de escrita deu-se pelo acesso à literatura considerada de qualidade na época, e aos melhores professores, pois seus estudos custeados pelo senhor a quem seu pai pertencera antes de ser alforriado. Aos 20 anos funda o jornal Colombo e em 1885 publica seu primeiro livro com textos de cunho abolicionista “Tropos e fantasia”. O escritor chega a ser nomeado promotor público em Laguna, mas é impedido de tomar posse por causa da cor de sua pele. Além de escrever, dirigiu e colaborou em alguns jornais catarinenses, nos quais sofreu discriminação por seu posicionamento abolicionista.

Na busca por um ambiente menos racista e hostil, Cruz e Souza se muda para o Rio de Janeiro onde aprimorou seu ofício de escritor e construiu com um grupo de amigos o núcleo simbolista do qual era o membro mais expressivo. Durante seu período no Rio de Janeiro, apesar de todo o destaque em termos literários, Cruz e Sousa exerce somente cargos modestos na estrada de ferro Central do Brasil. Casou-se com Gavita Rosa Gonçalves, com quem teve quatro filhos, que viriam a morrer acomedidos pela Tuberculose, assim como o próprio Cruz e Souza no ano de 1898 com apenas 36 anos de idade.

Criador da escola simbolista e um dos precursores da literatura afro-brasileira, Cruz e Sousa teve que lidar com a hostilidade e o racismo desde muito cedo, deparando-se com diversas barreiras ao longo de sua vida que foram impostas pelas políticas de branqueamento do país. Apesar de sua inestimável contribuição para a literatura brasileira, no fim de sua vida o poeta teve seu corpo transportado em um vagão destinado ao transporte de animais, sendo sepultado às custas de contribuições de amigos e por José do Patrocínio no cemitério São Francisco Xavier.

                     Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa

Nascido em Cabo frio no ano de 1812, o pai do Romantismo Brasileiro, Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, é autor de vários romances, peças de teatro, poemas, textos jornalísticos, composições musicais e traduções, sendo também o criador do “Arquivo Romântico Brasileiro”, além de fundador e participante de várias sociedades culturais e filantrópicas. Teixeira e Sousa é encaminhado ainda muito jovem pelo pai para a Marinha no Rio de Janeiro, onde aprendeu o ofício de carpinteiro. Aos 18 anos, retorna para sua cidade natal com o objetivo de cuidar de sua saúde e da de seu pai.

Após o falecimento de seu pai em 1834, o escritor muda-se para Capivary, onde escreve três obras:  A tragédia “Cornélia”, o poema “Cânticos Líricos” e o romance “As Tardes de um Pintor”. Em 1840 no Rio de Janeiro, consegue emprego na loja “Tipografia imparcial”, de Paula Brito, com quem mais tarde fundará em sociedade a “Tipografia Teixeira e C.”, uma loja de artigos para escritório e obras disponíveis para venda. É também no ano de 1840 que o autor publicou “Cornélia”, no ano seguinte o poema “Cânticos Líricos” e em 1843, “O Filho do Pescador”. O lançamento destas três obras projeta Teixeira e Sousa no cenário literário da época.

Autor do primeiro romance brasileiro, título que só lhe foi atribuído muitos anos após sua morte, Teixeira e Sousa lança em 1843 “O filho do pescador”. A obra é considerada embrionária no gênero, mas destaca-se pelas características genuinamente brasileiras exigidas na época, sendo hoje de suma importância para o estudo da Historiografia da Literatura Brasileira.

Posteriormente, seus escritos com os primeiros cantos da “Independência do Brasil” no ano de 1845, lhe rendem a nomeação de guarda da alfândega. Mesmo sendo sua intenção obter cargo público, o romancista não aceita por considerar o ordenado insatisfatório. É somente no ano de 1847, já casado com D. Carolina e com a chegada dos filhos, que o romancista obtém o cargo público desejado: os manuscritos de “A Independência do Brasil” são publicados pelo imperador. Já nomeado ao cargo de mestre escola de instrução primária, escreve alguns romances e em 1855 publica o segundo volume de “A Independência do Brasil”, que lhe rende o cargo e Escrivão da Primeira Vara do Juízo do Comércio da Corte.

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