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Resenha do livro: Noticias de um sequestro

Por:   •  19/6/2018  •  Resenha  •  1.569 Palavras (7 Páginas)  •  229 Visualizações

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Universidade de São Paulo

História da América Indepentente II

Professora Gabriela Pellegrino

Gustavo Monticelli Guebert, NUSP: 9337985

Vespertino

Trabalho sobre o livro Notícia de um Sequestro

de Gabriel García Márquez


Introdução

        

      Gabriel García Márquez, em seu discurso ao receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1982[1], conta vários casos interessantes e por vezes cômicos da história da América Latina, histórias que mostram as misturas de diferentes culturas, sempre marcadas pela opressão e pela desigualdade.

      Um dos maiores autores do chamado Realismo Fantástico, Gabo, como é conhecido, diz em seu discurso que seus livros apenas refletem uma parte desse mundo louco e por vezes mítico da América Latina. Podemos ver em vários livros e contos seus a preocupação em unir a realidade dura dos latino-americanos com uma certa poesia que existe nessa realidade, que, além de dura, é pitoresca, ou, como ele diz em vários momentos de sua narrativa em Notícia de Um Sequestro, “folclórica”[2]. E é a essa poesia que ele faz apologia na conclusão de seu discurso, uma poesia do estranho e do absurdo da vida de muitos latino-americanos, e que ele coloca como a parte central de sua literatura.

      Em Notícia de Um Sequestro o autor colombiano mostra, unindo seu ofício de jornalista com seu ofício de romancista, um acontecimento na história da Colômbia que, de tão absurdo, tem um ar profundamente literário. E é por meio da união, não apenas de seu olhar conjunto de quem escreve jornalismo e literatura, mas também da própria situação, ao mesmo tempo causticamente real e surreal, que Gabo escreve esse livro, já mais de uma década depois de receber seu Nobel.

Enredo e construção do romance

      O livro segue os acontecimentos do último ano de Pablo Escobar antes de ser preso pela primeira vez: as intermináveis reuniões e cartas entre autoridades do governo colombiano e do cartel de Medellín, negociando a rendição do narcotraficante. Para traçar esse contexto gigante, García Márquez tem como ponto de partida o sequestro de Maruja Pachón e Beatriz Villamizar a mando de Escobar. Ambas, além de jornalistas, eram pertencentes a uma família poderosa de políticos colombianos: o marido de Maruja e irmão de Beatriz era Alberto Villamizar, importante político que já havia sido candidato à presidência do país e que já havia sido perseguido pelo cartel de Medellín.

      Esse não foi o primeiro, mas sim mais um de uma onda de sequestros de pessoas que eram em sua maioria jornalistas, e que estavam envolvidos por laços políticos e familiares com a questão da rendição de Pablo Escobar. Já haviam sido sequestradas figuras importantes como Diana Turbay, filha de um ex-presidente, Marina Montoya, já uma senhora de idade, e Francisco Santos, estes dois últimos parentes próximos de grandes figuras políticas do país.

      A escolha de iniciar a narrativa com o sequestro de Maruja e Beatriz parece estar ligada a dois fatores, um jornalístico e outro literário, uma vez que esse foi um momento decisivo no momento dos sequestros, onde percebeu-se definitivamente a seriedade da situação, e também devido ao enorme carisma que a personagem Maruja desperta no leitor. Descrita como uma mulher forte e muito digna - mas ao mesmo tempo insegura - Maruja é rabugenta e briga com seus sequestradores ao longo de boa parte do livro, mas sempre tendo um olhar muito coerente e responsável diante da situação, ainda que sendo por vezes pessimista. Se for possível identificar um dos vários personagens para ser o protagonista, seria Maruja.

      A partir desse sequestro, a história cresce em duas direções: a do passado, para nos contextualizar politicamente e também para entrarmos em contato com os outros sequestrados e suas famílias, além de grandes figuras políticas, como o então presidente César Gaviria; e a do futuro, nos descrevendo como ficarão as negociações com os narcotraficantes agora que eles têm reféns importantes para pressionar suas exigências.

      Na contextualização, ficamos sabendo que esses narcotraficantes, chefiados por Pablo Escobar, são chamados de Extraditáveis, pois seu maior medo era o de serem extraditados para responderem por seus crimes nos Estados Unidos, onde muitas de suas operações aconteciam. Lá eles estariam sujeitos a leis mais severas e não poderiam fazer as mesmas exigências, podendo ser condenados a penas máximas.

O absurdo e o folclórico da situação: o lado social e humano

      O lado de romancista de Gabriel García Márquez atua em dois campos. Um deles é quando mostra e dá voz a uma série de personagens dos dois lados. Por só termos os relatos dos sequestrados e não dos sequestradores, é mais fácil se identificar com os primeiros. Mas o curioso - e que faz com que consigamos, na medida do possível, termos acesso à realidade dos sequestradores - é a empatia e por vezes o apego que os sequestrados tiveram com seus algozes, algo que acontece pela visão justamente do absurdo da situação em que a Colômbia se encontrava, uma capacidade que as vítimas tiveram de entender, ainda que superficialmente, a realidade de quem os mantinham presos: um contexto de pobreza, de desespero e por vezes de uma certa idealização do crime. Talvez o momento mais significativo dessa relação sequestrador-sequestrado seja quando um dos detidos tem a noção de que os que os prendem também estão presos, ali mantendo a guarda deles.

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