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Teorias e Políticas sociais do início do século XX no Brasil

Por:   •  12/6/2018  •  Artigo  •  2.296 Palavras (10 Páginas)  •  263 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES

UNIDADE ACADÊMICA DE HISTÓRIA

DISCIPLINA: HISTÓRIA DO PENSAMENTO POLÍTICO E SOCIAL DO BRASIL

PERÍODO: 2018.1       TURMA: 1

PROFESSORA: DRA. ROSILENE DIAS MONTENEGRO

ALUNO: FERNANDO A. HONÓRIO

Teorias e políticas sociais do início do século XX no Brasil

Membro de uma família de artistas Modesto Brocos nasceu em 1852 em Santiago de Compostela, na Espanha, em 1871 deixou o país e veio morar na América do Sul, inicialmente na Argentina e logo em seguida no Brasil, onde permaneceu entre os anos de 1872 e 1877.

Durante sua estada no Império do Brasil freqüentou a Academia Imperial de Belas Artes, na qual travou contato com Vitor Meirelles - que à época propôs a seus alunos a pintura de uma versão do episódio bíblico  que aproximadamente 20 anos após, serviria de inspiração para a tela A Redenção de Cam -  e Zeferino da Costa. Em 1877, M. Brocos se dirigiu à Europa, mais precisamente para Roma e Paris, onde entrou em contato com o pensamento determinista ensinado na Escola de Belas Artes de Paris por Hippolyte Taine (1828-1893), filósofo e historiador positivista de grande influência de grande influência no Mundo Ocidental. Este pensador defendia que a história era regida por leis naturais, cuja  elucidação dependia da interpretação de vários determinismos, como o meio (clima e geografia), a raça (grupo humano determinado fisiologicamente) e seu estado de “evolução”.

A Redenção de Cam” foi pintada em 1895, por Modesto Brocos, recebeu a medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes e reflete um importante debate científico de fins do século XIX  e início do XX, que girava em torno das teorias de embranquecimento racial.

[pic 1] (figura 1)

“A pintura é um retrato de família em três gerações, marcado pelas distintas gradações de cor entre as personagens: à esquerda, a avó negra, ao centro a mãe “mulata”, que carrega um bebê branco no colo, à direita o presumido pai da criança, também branco”( Tatiana e Lilia, 2003)

O Brasil no final do século XIX e início do XX era visto como um caso único de extremada miscigenação racial, viajantes e estrangeiros o descreviam como uma “sociedade de raças cruzadas” (ROMERO apud Tatiana e Lilia, 2013), cientistas e  intelectuais brasileiros defendiam a ideia de nação multiétnica, cujo povo em desenvolvimento, em virtude do embranquecimento da população, em poucas gerações se tornaria “branco” e “evoluído”.

Em 1911, em Londres, ocorreu o I Congresso Internacional das Raças, o Brasil deu grande importância ao evento, sendo o único país da America do Sul a participar. Seu representante, o médico e antropólogo João Batista de Lacerda, Diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro utilizou-se da pintura de Brocos para defender a tese de que “ o Brasil mestiço de hoje tem no branqueamento em um século sua perspectiva, saída e solução” (LACERDA apud SCHWARCZ, 1993).

O quadro é a representação de um relato bíblico (Gênesis 9, 18-29), no qual Noé após embriagar-se de vinho dormiu nú em sua tenda, foi visto por Cam, um de seus filhos, que relatou o fato a seus irmãos Sem e Javé. Ao saberem do ocorrido tomaram o manto e andando de costas cobriram Noé. Ao despertar do sono e ficar sabendo do ocorrido, Noé amaldiçoou Cam, dizendo que seus dependentes seriam os mais atrasados e serviriam de escravos  aos descendentes de Sem e Javé. Os descendentes de Cam povoaram as terras que no futuro seriam o continente negro, os de Sem a Ásia e os de Javé o que seria a Europa. Este argumento religioso durante muito tempo foi utilizado pelos europeus e principalmente a Igreja, para justificar a escravidão negra.

Lacerda, ao utilizar a tela de Brocos, sugere uma inversão da interpretação bíblica. Para ele, o Brasil -  recém emancipado - ao adotar uma política de imigração européia  poderia por intermédio da miscigenação reverter a maldição de Noé, pois ao invés de “enegrecidos”, os supostos descendentes de Cam trazidos do continente negro, como na imagem, seriam branqueados.

Na pintura podemos perceber as orientações de Von Martius no que se refere a qual tipo racial caberia a condução do processo civilizador e modernizador do país. No quadro, o homem branco surge como o grande condutor do processo, é ele o imigrante europeu que após se associar à velha dá origem à filha mulata, que por sua vez se une novamente a outro homem branco gerando o filho de pele clara. Sendo assim o colonizador branco é o início e o fim do processo, o jovem país miscigenado e em transformação, em breve seria embranquecido, sairia do subdesenvolvimento étnico, social e econômico e entraria no “mundo  civilizado”, branco e “moderno”.

E as mulheres, qual seria o seu papel? Passivas e subalternas, elas seriam os instrumentos pelos  quais estas transformações se dariam, e ao fim, pela ação civilizatória do homem europeu, renderiam graças ao Senhor por terem se livrado da maldição de Cam. Fica claro nas perspectivas de Brocos e Lacerda certa hierarquia de gêneros na escolha do sexo dos personagens, verificamos também um grande apelo religioso ao propor uma interlocução com a iconografia cristã, fazendo referencia às natividades ou imagens da sagrada família, conforme aponta Tatiana e Lilia,

Longe das representações que projetam a insinuação da uma sexualidade patológica sobre as personagens femininas não-brancas, um aspecto fundamental para a composição da tela é seu diálogo formal com a iconografia cristã, que aponta para preceitos morais considerados na época como modelares : há uma homologia entre a mãe que carrega o bebê e a Virgem, com o menino Jesus no colo ; a avó e os anjos, que na imagística do cristianismo intermedeia por meio do gesto a relação entre o plano terreno (visível) e o divino (invisível) ; e entre o pai da criança e José.(TATIANA e LILIA, 2013, p 17)

Outro ponto a destacar é que a própria posição dos personagens revela uma visão positivista da história, a velha negra representa a “barbárie”, roupas rústicas e pisando sobre a terra, a filha mulata numa posição central de transição, sofrendo influências européias (tipo de roupa, cabelo, postura), sentada entre o chão de terra e o de pedra, o imigrante europeu à direita sentado na porta da casa, bem vestido, calçado, pisando a calçada de pedra e contemplando “sua criação”, o filho branco que carrega na mão uma laranja, símbolo do devir, prosperidade e esperança.

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