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A IDEOLOGIA PRESENTE NA FÁBULA “A CIGARRA E A FORMIGA

Por:   •  23/10/2021  •  Artigo  •  3.283 Palavras (14 Páginas)  •  352 Visualizações

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A IDEOLOGIA PRESENTE NA FÁBULA “A CIGARRA E A FORMIGA” [1]

Iasmine Fernandes de Matos[2]

RESUMO: Abordado por diversos filósofos, nas mais variadas áreas de estudos, a ideologia possui amplos poderes, entre eles criar o sentimento de superioridade ou inferioridade por causa das ideias que são defendidas por esta. O presente artigo apresenta a ideologia sobre uma visão mais positivista, abordada por Gramsci e sob o ponto de vista marxista, defendido por Marilena Chauí e Terry Eagleton. Ao tratar da linguagem e ideologia, imediatamente surge questionamento se toda linguagem é ideológica e a partir desse contexto surgiu a necessidade de buscar a possível existência de discursos ideológicos dentro da fábula A cigarra e a formiga, adaptação de La Fontaine, estando eles implícitos ou não. Em uma análise mais profunda, nota-se que a cigarra, em momento algum, explora da formiga, apenas pede ajuda. Entretanto, a moral não admite a solidariedade, quando muito aceita o assistencialismo. Relacionando esse fato com a sociedade, há uma demonstração social e econômica de que quem não acumula, não merece socorro. La Fontaine faz uso da Cigarra e a formiga para denunciar o excesso de trabalho dos camponeses franceses durante o governo de Luis XVI. Ressaltando a Igreja como aparelho ideológico do Estado e Fontaine faz uso de suas fábulas como interpretações bíblicas. Por fim, apresenta a mesma fábula adaptada por Monteiro Lobato em que uma apresenta uma formiga má, e a outra, uma formiga boa. A percepção da ambivalência da narrativa, em alguns de seus níveis, ainda que não em todos, é desencadeada principalmente pela divisão de uma única fábula, consagrada pela tradição, em outras duas, tendo uma recepção antagônica. Nesse sentido, o ponto de vista do autor da versão brasileira de “A cigarra e as formigas” é voz libertária na esfera literária infantil e na sociedade da época como um todo.

Palavras chaves: Fábulas, Ideologia, Trabalho, A cigarra e a formiga, Linguagem.

Existe uma grande dificuldade em conceituar o termo “ideologia” desde a sua criação pelo filósofo e politico Antoine Destutt de Tracy, no final do século XVII, que tinha como intuito entender as ideias com um olhar crítico e científico da época e com isso, criticar a religião e a metafísica.

Filósofos como Friedrich Nietzsche, Emile Durkhein, Louis Althusser, Antonio Gramsci, Treodor Adorno, Karl Larenz, Georg Lukács, Hebert Marcuse, Karl Marx, Marilena Chauí, entre outros, estudaram e contribuíram para a formação do conceito de ideologia.

Pode-se afirmar que uma ideologia tem amplo poderes, entre eles criar o sentimento de superioridade ou inferioridade por causa das ideias que são defendidas por esta. Na sociedade contemporânea, muito se fala sobre essa tal “ideologia”, mas é necessário que a contemple por duas vertentes: pela visão de Antonio Gramsci e por Karl Marx. A primeira, uma visão mais genérica e positiva, propõe que a ideologia é um conjunto de ideias e posicionamentos que organizam a vida na sociedade, sejam valores sociais, políticos, econômicos ou familiares. Já Karl Marx, faz uma critica ao termo, pois este acredita que esconde determinadas ideias, além de dissimulá-las do que realmente são: um conjunto de ideias que uma determinada classe ou grupo dominante da sociedade impõe sobre a totalidade com o objetivo de fazer valer seus próprios interesses, que geram conflitos e retiram direitos de classes menos favorecidas. Acrescenta que serve como instrumento de dominação, não somente em questões econômicas, mas culturais comportamentais, religiosas e familiar, quando são meramente reproduzidas de maneiras irrefletidas. Para Marx e Engels, a produção de ideias depende do que o indivíduo é, depende das condições materiais de sua produção. “São o que produzem e são como produzem”.(CHAUÍ, 1995, p. 60).

Marilena Chauí, identifica três características básicas da noção de ideologia: a) a anterioridade: pré-estabelece e prescreve as formas de pensar, sentir e agir das pessoas com base em determinados valores que são fixados b) a generalidade:  tem por finalidade produzir um consenso coletivo e a aceitação geral de algumas ideias e concepções que apresentam os interesses dos grupos dominantes como se fossem de toda a sociedade c) a lacunaridade, isto é, o discurso ideológico contém lacunas, omissões e preconceitos que possam tornar suas afirmações “verdades” naturais e universais.

Quando se trata de ideologia, automaticamente se pensa em linguagem, entretanto de imediato traz o questionamento se toda linguagem é ideológica. Apesar dos estudos entre esse elo serem recentes já são discutidas nos meio acadêmicos de forma interdisciplinar e direcionada aos aspectos do atual momento em que a sociedade está vivendo.

Ao tratar em linguagem e ideologia, Terry Eagleton afirma que:

Se toda linguagem articula interesses específicos, então, aparentemente, toda linguagem seria ideológica. Mas, como já vimos, o conceito clássico de ideologia não se limita, de maneira nenhuma, ao “discurso interessado” ou à produção de efeitos persuasivos. Refere-se ao modo pelo qual os interesses de certo tipo são mascarados, racionalizados, naturalizados, universalizados, legitimados em nome de certas formas de poder político, e há muito a perder politicamente quando essas estratégias discursivas vitais são dissolvidas em alguma categoria indiferenciada e amorfa de “interesses”. (EAGLETON, [1991] 1997, p. 178)

O autor também salienta que  o interesse por parte de quem comunica é eminente, contudo não pode afirmar que toda linguagem é ideológica, já que esta estarão associadas a manutenção ou ruptura do poder.

A ideologia é antes uma questão de “discurso” que de “linguagem” - mais uma questão de certos efeitos discursivos concretos que de significação como tal. Representa os pontos em que o poder tem impacto sobre certas enunciações e inscreve-se tacitamente dentro delas. Mas não deve, portanto, ser igualada a nenhuma forma de partidarismo discursivo, discurso “interessado” ou viés retórico; antes, o conceito de ideologia tem como objetivo revelar algo da relação entre uma enunciação e suas condições materiais de possibilidade, quando essas condições de possibilidade são vistas à luz de certos poderes centrais para a reprodução (ou, para algumas teorias, a contestação) de toda uma forma de vida social. (EAGLETON, [1991] 1997, p. 195)

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