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ASPECTOS DO LAVRADOR NO AUTO DA BARCA DO PURGATÓRIO, DE GIL VICENTE

Por:   •  4/2/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.353 Palavras (14 Páginas)  •  413 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

ASPECTOS DO LAVRADOR NO AUTO DA BARCA DO PURGATÓRIO, DE GIL VICENTE

Disciplina: Literatura Portuguesa 1
Prof.ª Dr.ª  Marlise Vaz Bridi

Aluno: Heitor Kobayashi de Lima Sant’ Ana
Prontuário: 9765111

São Paulo

2017

Objetivos do trabalho

Este trabalho tem como objetivo analisar o Auto da Barca do Purgatório através de trechos de um personagem, o Lavrador. A partir deste recorte será possível interpretar a obra como um todo.

Sobre o Auto da Barca do Purgatório

O Auto da Barca do Purgatório (1518) é um Auto de Devoção e faz parte da Trilogia das Barcas, sendo a segunda parte da Trilogia. Os outros autos que a compõem são o Auto da Barca do Inferno (1517) e o Auto da Barca da Glória (1519). O Auto da Barca do Purgatório acontece na mesma cena do Auto da Barca do Inferno e contém a mesma temática, apresentando algumas diferenças que serão abordadas mais à frente.

O Auto da Barca do Purgatório foi representado nas manhãs de Natal para a Rainha D. Lianor, no hospital de Tôdolos Santos, em Lisboa[1]. Participam do auto os seguintes personagens: o Anjo, o Diabo, o Companheiro do Diabo, o Lavrador, a Marta Gil – Regateira, o Pastor, a Moça Pastora, o Menino, o Taful (jogador) e Três Anjos. As almas humanas chegam a um braço de mar onde encontram-se duas barcas, em uma está o Diabo com o seu Companheiro e em outra está o Anjo. Estes “decidirão” qual destino as almas levarão. Neste auto são três destinos: Inferno, Paraíso e o “Purgatório” (margem do rio).

Para Costa, o Auto da Barca do Purgatório tem como objetivo dar continuidade ao Auto da Barca do Inferno[2]. Entretanto, existem certas diferenças entre elas e Costa resume muito bem:

“Este auto não focaliza os erros das diversas classes sociais, como é feito no Auto da Barca do Inferno, porém se volta para a idade de suas personagens, mostrando, de imediato, a condição das crianças quanto ao seu estado de salvação, também dos jovens e adultos. Ainda, pode-se perceber no Auto da Barca do Purgatório o destaque para as faltas cometidas por pessoas de condição humilde. Não há nessa obra nem uma personagem que faça parte da nobreza, apenas pobres [...]” (COSTA, 2009, p. 20)

Outra diferença é sobre o Diabo. No Auto da Barca do Purgatório o Diabo não é atribuído como um juiz que executa as sentenças, aqui ele acusa, ou seja, aponta os erros das almas cometidos em vida. Isto permite a defesa das almas e até mesmo a defesa pelo próprio Anjo que exerce uma função parecida com a do advogado. Isto ficará evidente no trecho que será analisado.

Análise do Lavrador

O Lavrador é o primeiro personagem a entrar em cena e interagir com o Anjo e o Diabo:

Vem um Lavrador com seu arado às costas, e diz:

Lavrador:                Que é isto? Cá chega o mar?

                        Ora é forte cagião.

Diabo:                Alto, sus, querei passar?                125

                        Ponde i o chapeirão,

                        e ajudareis a botar.

Lavrador:                Da morte venh’eu cansado,

                        e cheo de refregéreo,

                        e não posso, mal pecado.                130

Diabo:                Põe eramá i o arado.

Lavrador:                Perém esse é grão mestéreo.

                        S’eu trouguera mais vagar

                        Sorrira-me eu tamalavez.

O arado em suas costas representa o seu ofício de Lavrador. Ao morrer ele chega cansado. Isto demonstra o quanto ele, um personagem pobre, tinha que trabalhar. Logo mais adiante, temos:

Diabo:                E vós, vilão, querei zombar?                135

                        Se vós eu arrebatar?

                        [...]

Lavrador:                Nem fico a dever duas favas,

                        nem um preto por pagar.

Diabo:                E os marcos que mudavas,                145

                        dize, por que os não tornavas

                        outra vez a seu lugar?

Lavrador:                E quem tirava do meu

                        os meus marcos quantos são,

                        e os chentava no seu?                        150

                        Dize, pulga de Judeu,        

                        que lhe dezias tu er então?

Diabo:                Fostes o mais roim vilão!...

                        [...]

                        Pois por que vens carregado?

Lavrador:                Porque seja conhecido

                        por lavrador muito honrado.                160

                        E tenho a glória merecido:

                        que sempre fui perseguido,

                        e vivi mui trabalhado.

Neste trecho fica evidente o papel do Diabo. Praticamente a todo instante ele acusa o Lavrador apontando os seus erros em vida. O Lavrador mostra-se convicto de sua inocência, como se não devesse nada a ninguém. Quando o Diabo o ataca, no verso 145, acusando-o de ter alongado o seu terreno, o Lavrador se defende dizendo que já tinham tirado parte de suas terras antes dele fazer isso. O Diabo, nada satisfeito, apela para o arado que o Lavrador tem nas costas, e este responde que o motivo de estar portando o objeto é para que seja reconhecido, pois trabalhou arduamente e tem a glória merecida, pois sofreu muito durante a sua vida[3].

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