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ESTRANGEIRISMOS NA LP: DAS RAÍZES AOS DIAS ATUAIS

Por:   •  1/3/2016  •  Ensaio  •  1.423 Palavras (6 Páginas)  •  513 Visualizações

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        ESTRANGEIRISMOS NA LP: DAS RAÍZES AOS DIAS ATUAIS

                                                Mariana Nunes Bezerra (UNICAP)

Antes de iniciar a discussão sobre a ascensão do número de palavras com raízes fincadas em solo linguístico estrangeiro no nosso idioma, é indispensável que consideremos que a língua portuguesa que falamos hoje é resultado de um longo processo de evolução histórica que contempla alterações lexicais advindas também de contatos e influências culturais e linguísticas com povos diversos, sendo esse um aspecto extremamente relevante para que discorra-se sobre questões como a deterioração/não deterioração da LP, a necessidade/não necessidade de empréstimos vocabulares ou, ainda, de uma possível inferiorização cultural justificada pelo uso de tais palavras estrangeiras. Pretende-se, portanto, esclarecer a incorporação ao léxico português de palavras originadas de diferentes línguas, em diferentes momentos de sua história, a fim de demonstrar que a presença de estrangeirismos no seio da nossa língua materna é algo bastante recorrente. Para tanto, caracterizar-se-á a origem da LP, que, naturalmente, é sua composição lexical, conforme se fará brevemente a seguir.

Vinda do latim, que, por sua vez, tem descendência na  língua indo-europeia, o português é fruto de um longo processo de mudanças que aconteceram na língua latina falada no Oriente da Península Ibérica, onde chegou por meio da expansão territorial realizada por Roma, em meados do século II a. C. Ao chegar, os romanos encontram povos que lá viviam, dentre eles, Machado (1967, p. 5, 6) diz: “De seguro apenas se conhece que nas épocas pré-romanas muitos povos moravam na Península Pirenaica [...]” e cita os lígures, os celtas, os iberos, os gregos dentre outros. O encontro e a manutenção do contato com esses povos e, obviamente, com suas línguas, estabeleceu um contexto bilíngue. Mas, independentemente de tais influências, a língua latina não perde seu lugar de maior referência para a LP, segundo Leite de Vasconcellos (1926, p. 23), “A principal fonte que contribui para a formação do léxico português [...]”. Porém, ela não é a única fonte do nosso léxico. Os Romanos inserem no seu vocabulário palavras dos idiomas que encontraram na Península Ibérica e essas palavras, a seguir, constituem também o léxico português, via latim. Está aí a introdução dos primeiros estrangeirismos na Língua Portuguesa, que continuou incorporando ao seu repertório outras expressões enquanto ainda se formava e mesmo depois de ser expandida para outras terras, como América e África.

        O processo de empréstimo linguístico que ocorreu entre os povos na época da colonização romana foi mútuo e decisivo. Ocorreu de forma gradual e resultou na introdução da língua latina na língua destes outras falantes e vice-versa. A partir daí, é possível afirmar que a assimilação de palavras de uma língua não se deve à ação de um indivíduo, porque, segundo Saussure (2002), este não tem a força para provocar tal alteração na língua, uma vez que a língua, em vez de individual, é social. O empréstimo é consequência da ação de uma língua sobre outra, o que está diretamente relacionado à influência sociocultural. Machado (1994, p. 6) afirma que “Resulta esta dos contatos com outros povos, fornecedores de novos conceitos que os beneficiados nem sempre conseguem designar como elementos do seu fundo vocabular, do seu léxico preexistente.” Ainda segundo Machado, isso ocorre porque o progresso e a cada vez maior facilidade nas comunicações configuram decisivos meios para acelerar a importação lexical em todos os idiomas. Partindo desse princípio, pode-se afirmar que a ocorrência de estrangeirismos não é inédita ou incomum na língua, visto que é extremamente frequente o contato entre povos e, consequentemente, línguas, deixando clara a alta probabilidade de incorporação de novos vocábulos oriundos de alguma outra língua.

Embora haja concordância sobre a origem e a naturalidade da presença de palavras estrangeiras no nosso idioma, há ainda opiniões destoantes no que diz respeito a aspectos conceituais das mesmas. encontrando-se, pois, entre os autores que discutem esse tema, divergências quanto ao que seja o estrangeirismo.  Em Cunha (2003, p. 5-6), por exemplo, encontra-se a distinção entre estrangeirismo e palavra estrangeira. Segundo ele (p. 5), “estrangeirismo [é] aquela palavra que proveio de uma língua estrangeira (palavra esta que não pertence, portanto, ao nosso patrimônio latino) e que foi introduzida em português e nele perfeitamente adaptada”. Sobre  palavra estrangeira, Cunha diz: “[...] consideramos palavra estrangeira aquela palavra que, embora usada por alguns dos nossos escritores e, mais frequentemente, na linguagem da imprensa, ainda não foi completamente adaptada ao nosso idioma.” (p. 6).

Já Machado (1994, p. 13), não diferencia estrangeirismo de palavra estrangeira. Sobre palavras estrangeiras diz “Tenho-as encontrado na linguagem oral, em jornais, revistas e livros sobre os mais variados assuntos, incluindo mesmo estudos que enumeram e condenam estrangeirismos”, confrontando a ideia de Cunha. O fato de existirem, no português, palavras cujas formas gráficas foram aportuguesadas, é uma objeção a essa diferenciação feita entre palavra estrangeira e estrangeirismo.

Sendo assim, conceber-se-á estrangeirismo de acordo com o que dizem Garcez e Zilles (In: FARACO, 2002, p. 15), que afirmam:

Estrangeirismo é o emprego, na língua de uma comunidade, de elementos oriundos de outras línguas. No caso brasileiro, posto simplesmente, seria o uso de palavras e expressões estrangeiras no português. Trata-se de um fenômeno constante no contato entre comunidades linguísticas, também chamado de empréstimo.

Discutindo sobre o tema, Machado diz (1994, p. 14): “Não deve haver idiomas sem estrangeirismos e alguns destes também em Português não são de hoje nem de ontem, pois já tem idade de vários séculos [...]”. A ideia do autor sobre a presença dos estrangeirismos na LP é um reforço à discussão aqui levantada e ratifica que a recorrência desses é fato na história da nossa língua.

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