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Influência das línguas africanas no português do Brasil

Por:   •  21/10/2018  •  Artigo  •  2.447 Palavras (10 Páginas)  •  255 Visualizações

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O PRECONCEITO LINGUÍSTICO EM RELAÇÃO AOS DIALETOS AFRICANOS QUE INFLUENCIARAM A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL

Henrique Mancini Nevado, Isabela Velocini S. Novais, Izabella Damasceno Alves, Maria Laura de Paula Nogueira


Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Belo Horizonte, Minas Gerais/Brasil

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo estudar o preconceito linguístico em relação aos dialetos africanos que influenciaram a língua portuguesa no Brasil. O que se busca é elaborar uma análise entre contexto histórico e atual do preconceito linguístico afro-brasileiro. Adotaremos como referencial teórico pesquisas do português afro-brasileiro divulgadas por Lucchesi (2009) e preconceito linguístico do português brasileiro publicada por Bagno (2015). A partir dessa perspectiva, investigamos fatores históricos linguísticos que conceberam variações do nosso português em relação ao português de Portugal, e as raízes do preconceito linguístico brasileiro. Os resultados indicam que foram mais de um os fatores que condicionaram o preconceito, dentre eles a tentativa de homogeneização da língua pela coroa portuguesa, a miscigenação que dificultou o surgimento de uma língua crioula dos negros e a gramática tradicional do português brasileiro que até os dias atuais tenta homogeneizar a língua e discrimina toda variação fora de suas normas. Desta forma, propomos algumas soluções para o ensino e para sociedade na inclusão dessas variações no combate ao preconceito linguístico.

Palavras-chaves: Preconceito linguístico.  Dialetos africanos.  Língua portuguesa.

1. Introdução

             Os dialetos africanos influenciaram na formação da língua portuguesa falada no Brasil de diversas maneiras, sejam elas semânticas (empréstimo de palavras) ou morfológicas (variação no uso de flexões verbais e ocorrência de concordância nominal e verbal). Apesar disso, sua influência sofre preconceito linguístico, sendo inferiorizada e muitas vezes negada.

              O objetivo dessa pesquisa é analisar fatores históricos que condicionaram a origem do preconceito linguístico sofrido por dialetos afro-brasileiros, conscientizar aqueles que fizerem leitura deste e propor algumas soluções. Esperamos que os resultados sejam relevantes para a visibilidade de uma língua e cultura inferiorizadas e, na maioria das vezes, rejeitadas pela sociedade brasileira.

              Quanto aos objetivos específicos, por meio de pesquisas e leituras iremos analisar o preconceito linguístico em nossa língua, como ele ocorre e a forma com que afeta a sociedade, principalmente grupos sociais tidos como “inferiores”. Utilizaremos exemplos para explicar como os dialetos africanos ajudaram na formação de nossa língua, mostrando que, muitas palavras que os falantes utilizam diariamente são provenientes deles. Dessa forma, visamos alertar os leitores de um preconceito que muitos nem sequer estão cientes da existência. Ademais, procuramos explicar os motivos pelos quais esses dialetos não são mencionados nas bases de ensino como parte da formação da língua. Nessa perspectiva, Lucchesi (2009) observa: “a maioria das análises publicadas sobre a história do português brasileiro nem menciona o contato entre línguas e quando fazem é para negá-lo, fundamentando-se metafisicamente em uma “deriva secular”’, por isso se faz de grande relevância esse estudo.

2.  Revisão da literatura

            Uma mesma língua é falada de diversas formas diferentes, pois seu uso varia de acordo com o grupo de falantes analisado. Podem haver várias razões para a ocorrência dessas diferenças, entre elas, o grau de escolaridade e o poder aquisitivo de cada conjunto social.

           Com essa grande diversidade linguística, é comum que certos grupos coloquem a sua variedade acima de outras. Isso é fortalecido pelo fato de que, geralmente, os mesmos ocupam os maiores cargos na sociedade. Ao fazer isso, esses grupos acabam por excluir todos os falantes que não usam a sua variedade, taxando-os de inferiores. Assim ocorre a origem do que chamamos de preconceito linguístico, que está presente em todas as sociedades e em todas as línguas e consiste, basicamente, na inferiorização de determinados grupos que não falam de acordo com a norma padrão, considerada superior às outras.  

            Atualmente, em todos os níveis do conhecimento, a cultura africana está incorporada à brasileira. Com essa herança cultural, por inúmeros momentos, pronunciamos algumas palavras de origem africana sem ao menos ter conhecimento disso. Como, por exemplo, “axé”, “samba”, “calombo”, “banguela”, “jiló” e “quiabo”.

            A presença de línguas africanas no Brasil está diretamente associada à colonização. Não se sabe ao certo o número de línguas que aqui chegaram, mas sabe-se que, desde o princípio, Portugal tentou homogeneizar a língua falada no Brasil, impondo o português como língua oficial. Essa imposição é de cunho preconceituoso, elitista e hierarquizado e, apesar de o país ter deixado de ser colônia há mais de duzentos anos, esses problemas permanecem até os dias atuais.

          O português brasileiro é considerado por alguns autores como semi-crioulo, uma variedade que, embora tenha algumas das características estruturais, não resultou de um processo de crioulização radical, sofrendo uma reestruturação parcial. A crioulização depende de forma crucial da nativização da língua-alvo (proveniente dos dominadores), a qual ocorre através de seu contato com a língua da população dominada. Essa nativização coloca a nova língua, precariamente adquirida, diante de necessidades expressivas e comunicativas, dessa forma, com o tempo, a língua-alvo é alterada por diferentes origens fonéticas e sintáticas.

         Obrigados a usar o idioma do dominador, os africanos modificaram a língua portuguesa, enriqueceram o léxico, deram ênfase na acentuação e sonoridade das palavras e alteraram a estrutura das frases. Muitas dessas modificações ainda estão presentes em nosso idioma e é devido a isso que o português falado no Brasil é diferente daquele falado em Portugal.

           Além dessa socialização, a miscigenação no Brasil foi geral, ao ponto que, no final do século XIX, os mestiços eram quase a metade da população, esse fato foi decisivo para que não ocorresse a representatividade de uma crioulização da língua, haja vista que, a maioria dos mestiços tinha interesse em aprender e utilizar a língua dominante, o português. A miscigenação também impediu a segregação racial, na qual teríamos um português culto (dos brancos e mais escolarizados) e um português negro (dos menos escolarizados, desviando da norma culta), o que ocorreu, e ainda ocorre, é um processo de segregação social, com evidentes reflexos linguísticos, no qual a parcela mais pobre da sociedade, em sua maioria negra e mestiça, adquire a língua de forma irregular e, a partir daí, surgem os preconceitos linguísticos. (Lucchesi, 2009)

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