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O Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas

Por:   •  22/4/2020  •  Trabalho acadêmico  •  1.596 Palavras (7 Páginas)  •  132 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas

Filologia Românica I

Prof. Dr. Luiz Antônio Lindo

O Appendix Probi e a sua importância na identificação do protorromânico como língua-fonte das línguas românicas

São Paulo, 20 de junho de 2016

Introdução

        Trazido à luz no século XIX, o Appendix Probi é um documento do século III d. C (aproximadamente) de grande importância por ser considerado uma fonte do chamado latim vulgar. Trata-se de um apêndice à gramática de Probo que apresenta cinco partes: 1- notas sobre declinação, 2- notas sobre regência de casos, 3- nota sobre ortografia, 4- notas sobre sons homofônicos e 5- enumeração de verbos.

        Neste trabalho, tentaremos descrever a importância do Appendix Probi na identificação do protorromânico como língua-fonte das línguas românicas. Para isso,

estudaremos o item 3 do Appendix Probi, que aborda os conflitos ortográficos e no qual seu autor identifica as formas de vocábulos existentes, o linguajar da população, comparando-as com as formas validadas pela gramática. Descreveremos brevemente as etapas de transformação do latim ao protorromânico e analisaremos alguns vocábulos desse apêndice e tentaremos mostrar como o protorromânico relaciona-se com as línguas românicas.

1- O Appendix Probi

1.a) O autor e o local onde foi elaborado

        O Appendix Probi é “um anexo a uma obra do gramático Probo”. Entretanto, seu autor é desconhecido (SILVA NETO, 1957, p. 110). Em relação ao local onde foi escrito, Gaston Paris afirma que o documento foi redigido em Cartago. O autor argumenta que poderíamos pensar que o texto foi elaborado em Roma, porque faz referência a uma rua dessa cidade: “Vico capitis Africae non Vico caput Africae”. Nessa rua, havia um paedagogium que poderia ter produzido o anexo e que era responsável pela instrução de jovens escravos destinados ao serviço do palácio imperial. Além disso, a nota “septizonium non septidonium” parece mostrar sua origem romana. Entretanto, o Vico capitis Africae não é o único mencionado: “Vico stabuli proconsulis non vico tabulu proconsulis”, “ Vico castrorum non vico castrae”, “ Vico strobili non vico trobili”. Não há, porém, nenhum procônsul em Roma, como sugere a citação. Por outro lado, o autor do documento, refere-se a três nomes de lugar da mesma região da África: Syrthes, Byzacenus e Capsensis. Para solucionar essa questão, Gaston Paris afirma que o Appendix Probi foi redigido em uma cidade onde um procônsul residia, isto é, Cartago (SILVA NETO, 1946, p.116-120).

b) A sua importância

        O Appendix Probi contém “referências mais ou menos frequentes a erros cometidos pelos indoutos ou ao uso popular e corrente de certas formas rejeitadas pela língua literária”. Esse apêndice “é um trabalho gramatical, contendo uma lista de palavras de 227 formas incorretas e a indicação das formas corretas correspondentes”. É considerado uma “das fontes usuais para o estudo do latim vulgar” (MAURER JUNIOR, 1962, p.16-17) por trazer indícios do emprego do registro popular, sendo que definimos “o “latim vulgar” como o latim popular, falado por todas as classes sociais de Roma”[1].  Portanto, esse documento é uma “fonte para o conhecimento da história das línguas românicas” (Löfstedt apud SILVA NETO, 1946). Ele pode mostrar tendências linguísticas que se afirmaram nas línguas românicas.

2- Etapas da metamorfose[2]        

        Neste item, descreveremos brevemente como aconteceu a transformação do latim falado clássico em latim falado tardio 2 ou protorromânico, isto é, mostraremos como as tendências linguísticas se afirmaram no protorromâncio, língua-fonte das línguas românicas.

São três as etapas da metamorfose. A primeira delas aconteceu entre os séculos II a.C. e III d.C. Durante esse período, falamos de latim falado clássico e latim falado tardio.  Nesse estágio, há o “aparecimento duma forma assumida pouco a pouco pelos falantes. A forma marcada, variável livre no início, entra na língua” e não impõe uma regra. O diassistema do latim mantém-se estável.

No segundo estágio, ocorrido entre os séculos IV e VII, ocorre uma gramaticalização da forma nova e “há uma concorrência entre a forma antiga e a nova” (a variável livre). “A forma marcada tende a tornar-se não marcada”, isto é, não causa estranhamento nos falantes, como na fase 1. Há um “polimorfismo intenso”, ou seja, várias formas convivem e o “diassistema torna-se instável”. Trata-se do latim falado tardio 1 e do latim falado tardio 2.

No terceiro estágio, ocorrida entre os séculos VII e IX, a nova forma torna-se a “forma usual do enunciado” e o “diassistema inverte-se”.  Nesse período, falamos de latim falado tardio 2 e de protorromânico. Os falantes não entendem mais o latim clássico, a menos que o estudem.

3- Transformações observadas nos vocábulos do Appendix Probi

        

Neste item, mostraremos algumas transformações que podemos observar nos vocábulos do Appendix Probi a partir das correções indicadas por seu autor.

  1. Troca das vogais e, i, u por i, u

Na linha 2, temos tolonium non toloneum. A forma padrão era telonium; ocorreu a assimilação e - ó > o - ó. Segundo Silva Neto (1946, p. 133-140), na linguagem corrente houve uma tendência para o fechamento dos hiatos, propiciando uma série de ultracorreções. Podemos encontrar outros exemplos no Appendix Probi: vinia, osteum, cavia, brattia, cochlia, cocliare, paliarium, lancia, solia, calcius, aleum, lileum,linia, baltius, fasiolus, lintium, laneo, dolium. Segundo o autor, “na linguagem falada de nossos dias manifesta-se o mesmo fenômeno”, como em: apear que pode soar apiar e toalha, tualha.

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