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Resenha do texto "Da razão antropofágica: diálogo da diferença na cultura brasileira"

Por:   •  5/10/2015  •  Resenha  •  991 Palavras (4 Páginas)  •  1.164 Visualizações

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RESENHA

AUTORA: ANDRÉIA PEREIRA DA SILVA

CAMPOS, Haroldo. Da razão antropofágica: diálogo da diferença na cultura brasileira. In.: CAMPOS, Haroldo. Metalinguagem e outras metas. 4 ed. São Paulo: Perspectiva, 1992, p. 231-255.

Irmão do conhecido poeta concretista Augusto de Campos, Haroldo de Campos se destaca pelo seu extenso trabalho tanto como poeta quanto como crítico, ensaísta e tradutor de relevantes escritores da literatura mundial. Também, ao lado do irmão e do amigo Décio Pignatari, Haroldo de Campos fundou o pioneiro e revolucionário movimento da poesia concreta, caracterizada pelo desapego dos versos à forma tradicional e linear de escrita. Assim, a poesia concreta se embasou numa forma irreverente de organizar os versos, explorando, inclusive, os recursos gráficos-visuais. Nasceu em São Paulo, em 19 de agosto de 1929, e faleceu três dias antes do aniversário, em 16 de agosto de 2003. Deixou mais de 30 volumes publicados, entre os quais o livro Metalinguagem e outras metas (1992), em que contém o ensaio analisado nesta resenha.

O livro,  em um primeiro momento, reúne ensaios do crítico sobre a literatura brasileira. Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Murilo Mendes e Manuel Bandeira são alguns dos escritores analisados. Haroldo de Campos vale-se do pioneirismo desses jovens que defenderam a luta em prol de uma literatura que fosse, de fato, nacional, para refletir sobre a historiografia e historicidade da literatura. Em um segundo momento, o livro apresenta trabalhos sobre Machado de Assis, Clarice Lispector, José de Alencar, entre outros. Assim, Haroldo de Campos passeia pela história da literatura captando pontos de tensão e de descobertas acerca do universo literário brasileiro. Nessa segunda parte do livro, Haroldo de Campos apresenta o trabalho intitulado “Da razão antropofágica: diálogo da diferença na cultura brasileira”, em que, entre outros aspectos, o autor provoca a reflexão sobre a questão do nacional e do universal, bem como sobre questões como: antropofagia, países subdesenvolvidos, tradição e ruptura, nacionalismo. Todas essas vertentes discursivas serviram de norte para a compreensão das postulações do crítico.

Embora o texto tenha sido apresentado ao público no século XX, a noção de país subdesenvolvido ainda não é um fator superado. A terminologia atual opta pela expressão de país em desenvolvimento, mas sabe-se que ainda falta muito para que o Brasil seja vanguarda no que tange o desenvolvimento econômico. No que se refere à literatura, apesar dos séculos de colonização e depedência, o Brasil foi galgando aos poucos a libertação dos dominadores, inclusive literários. “Isto explica porque pode acontecer que países economicamente retardatários possam, não obstante, tocar o primeiro violino em filosofia” (CAMPOS, 1992, p. 232). A justificativa concedida pelo próprio Haroldo de Campos abre os caminhos para defender a visão de que o país tupiniquins é hoje uma nação independente, pelo menos no que se refere ao plano literário. Todavia, ser  independente não exclui a tradição, não elimina o passado.

É interessante notar a importância que a independência literária tem por colaborar para a universalização da literatura brasileira, haja vista que, segundo o Manifesto Comunista: “As obras intelectuais de uma nação tornam-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se dia a dia mais impossíveis; e da multiplicidade das literaturas nacionais e locais nasce uma literatura universal” (1848).

A dependência do Brasil em relação ao avanço literário foi defendida por Haroldo de Campos que sempre considerou uma “falácia de socialismo ingênuo” (1992, p. 232) a literatura estar vinculada ao subdesenvolvimentismo de um país.

Outra questão a se ressaltar diz respeito ao processo de antropofagia, em que se pregava a conduta de “comer”, absorver a literatura estrangeira, a fim de “vomitar” uma literatura essesncialmente nacional. Em outras palavras, Haroldo de Campos explica o pensamento antropofágico:

A “Antropofagia” oswaldiana – já o formulei em outro lugar – é o pensamento da devoração crítica do legado cultural universal, elaborado não a partir da perspectiva submissa e reconciliada do “bom selvagem” (idealizado sob o modelo das virtudes européias no Romantismo brasileiro tipo nativista, em Gonçalves Dias e José de Alencar, por exemplo), mas segundo o ponto de vista desabusado do “mau selvagem”, devorador de brancos, antropófago. Ela não envolve uma submissão (uma catequese), mas uma transculturação; melhor ainda, uma “transvaloração”: uma visão crítica da história como função negativa (no sentindo de Nietzsche), capaz de apropriação como de expropriação, desierarquização, desconstrução. (CAMPOS, 1992, p. 234 – 235).

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