A Docência Interdisciplinar

        A escola apresentada no caso-problema exemplifica aspectos reais do sistema educacional brasileiro, emanentes sobretudo da falta de motivação e identificação dos discentes com a escola e a comunidade na qual fazem parte. Desse descompasso, não apenas atitudes depredativas por parte do alunado ocorrem, como também propiciam a evasão escolar, sobretudo no paradigma atual da pandemia global de COVID-19, como demonstra um estudo conduzido pela Unicef^[1].

Tomando a contextualização do caso-problema como ponto de partida é possível pensar na elaboração de um projeto interdisciplinar que seja capaz de oportunizar aos alunos a reconexão entre eles e suas histórias de vida com a comunidade da qual fazem parte, suas tradições e culturas. A interdisciplinaridade, como definida pela autora Heloísa Lück^[2], surge como essa ferramenta de reconexão porque ela é capaz de engendrar sentido e união a partir de conhecimentos que anteriormente estavam dissociados, produzindo uma identidade que não ignora a multiplicidade que a originou, mas que é capaz de reconduzir as partes anteriormente fragmentadas ao todo comum, gerando a sensação de pertencimento que possibilitaria uma transformação no comportamento do corpo discente.

O projeto deve partir da pluralidade de disciplinas representadas no corpo docente. Embora a carência de uma formação continuada dos docentes ainda seja obstáculo a ser superado para o pleno desenvolvimento da interdisciplinaridade nas escolas, os professores têm um papel fundamental nesse processo de resgate: eles devem analisar essa realidade e elaborar uma proposta de trabalho interdisciplinar na qual os discentes possam assumir protagonismo.

Independentemente do que for relacionado pela interdisciplinaridade, o projeto poderá ter como estratégia a produção de aprendizado de maneira dialética, entre a pesquisa e a construção, como definido por Lenoir^[3]. A pesquisa pode ser direcionada para uma investigação sobre os aspectos sócio-históricos e culturais da realidade regional, nacional e global em que vivem todos os agentes daquela comunidade.

A construção do aprendizado de maneira interdisciplinar objetivando a reconexão entre o corpo discente e a sua comunidade possibilitaria uma transformação em seu comportamento de negativo e depredatório, para afirmativo e construtivo, pois a ressignificação do saber pautada em uma prática realizada pelos próprios alunos como protagonistas é capaz de construir não apenas identidades, mas vínculos das partes com o todo que sejam mais humanas.

---

[1] Pandemia aumenta evasão escolar, diz relatório do Unicef. CNN Brasil, 28/01/2021 às 10:30. Disponível em: <https://bit.ly/3jbkTHQ>. Último Acesso: 16/10/2021.

[2] LÜCK, Heloísa. Pedagogia interdisciplinar: fundamentos teórico-metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2004.

[3] LENOIR, I. Didática e interdisciplinaridade: uma complementaridade necessária e incontornável. Interdisciplinaridade, São Paulo, v. 1, n. 6, abr. 2015. São Paulo: PUCSP, 2015.