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Educação do sujeito surdo: algumas reflexões

Por:   •  4/3/2016  •  Monografia  •  4.516 Palavras (19 Páginas)  •  268 Visualizações

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Educação do sujeito surdo: algumas reflexões

Introdução

Na nossa sociedade, observamos diariamente pessoas portadoras de deficiência auditiva tendo que lutar para realizar atividades cotidianas: estudar, se locomover, ter um trabalho, etc. Embora essas dificuldades não sejam exclusivas da pessoa surda, salienta-se que ela enfrenta inúmeros desafios diários para ter garantidos os seus direitos básicos enquanto cidadão, os quais estão previstos na legislação brasileira. Assim, a motivação para a realização deste estudo advém da necessidade de melhor compreender o complexo processo que envolve o surdo e sua participação na vida social.

Do ponto de vista metodológico, com o intuito de se alcançar o objetivo proposto far-se-á uso de revisão de literatura de textos acadêmicos e de documentos oficiais, tais como: Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, LDB (Lei de diretrizes e bases), o Decreto 5626, a Lei de Libras e o PNE (Plano de educação nacional). As perguntas-guia da discussão a que se propõe neste estudo são as seguintes: a) Como se dão as práticas da educação dos surdos no Brasil? ; b) A educação oferecida ao surdo no Brasil é realmente inclusiva?

Muitas são as implicações em torno da alfabetização do surdo, a exemplo do uso da oralidade, em que se pregava o método denominado de oralismo, o qual sofreu uma série de críticas pelos limites que apresenta, mesmo com o incremento do uso de próteses, cujo objetivo era impor a oralização dos surdos para que fossem aceitos socialmente, processo no qual a maioria dos surdos ficava fora de toda a possibilidade educativa, de desenvolvimento pessoal e de integração na sociedade, levando-os a se organizarem de forma quase clandestina. Por outro lado, os gestualistas, eram mais tolerantes diante das dificuldades do surdo com a língua falada e também eram capazes de enxergar o potencial dos surdos em desenvolver uma língua que, mesmo diferente da oral, proporcionava uma comunicação, abrindo-lhes assim, portas para o conhecimento cultural, incluindo aquele voltado para a língua oral.

A educação dos sujeitos surdos, apesar das muitas conquistas obtidas, mantém-se um assunto que inquieta, devido às dificuldades impostas pelo processo educacional e suas limitações. As propostas educacionais dirigidas para o surdo têm como escopo viabilizar o desenvolvimento pleno de suas capacidades, porém, isso não condiz com o observado na prática. Alguns educadores pregam que a pessoa surda é tão capaz quanto à ouvinte, no entanto, em suas falas acabam em contradição, demonstram não acreditar na capacidade do aluno surdo.

No geral, visualizamos que o aluno mesmo apresentando “restrições” é promovido para a série seguinte sem alcançar os objetivos estabelecidos para a série em curso e, consequentemente, serão sujeitos que apresentam uma série de limitações do ponto de vista educacional, e que, ao final da escolarização básica, são incapazes de ler e escrever satisfatoriamente ou ter um domínio adequado dos conteúdos acadêmicos, fator que desencadeará um alto índice de dificuldades futuras, não só para as pessoas surdas, pois isso ocorre também com ouvintes.

O estudo discorre sobre o uso da língua de sinais em salas de aula de alunos surdos (L1 como primeira língua e língua portuguesa como L2), também a formação inicial e continuada de professores que irão atuar em salas de alfabetização do aluno com surdez e a observação de como ocorre o processo de alfabetização e letramento desses sujeitos, tendo como embasamento teórico as pesquisas de autores renomados nesta área de estudo, a exemplo de Skliar 2003, p. 47), para quem diz:

“[...] a pedagogia de um tempo outro, de outro tempo. Uma pedagogia que não pode ocultar as barbáries e os gritos impiedosos do mesmo, que não pode mascarar a repetição monocórdia, e que não pode, tampouco, ordenar, nomear, definir, ou fazer congruentes os silêncios, os gestos, os olhares e as palavras do outro”.

Assim a busca por essa pedagogia das diferenças visa à aquisição de subsídios, não para discutir a surdez, mas para compreender o sujeito surdo e proporcionar-lhe, desse modo, uma educação de qualidade.

Acerca da atuação docente na alfabetização do surdo, Botelho (2002, p. 20) diz que as dificuldades dos surdos com relação à linguagem ocorrem pelo fato de os professores usarem as mesmas práticas pedagógicas vigentes na educação de crianças ouvintes e ainda direciona críticas às escolas que, segundo ela, desconhecem o aluno surdo e as consequências da surdez.

Diante do pressuposto de que surdos e ouvintes apresentam dificuldades semelhantes na aprendizagem, verificamos que as práticas pedagógicas deixam a desejar para todos, significando que as escolas desconhecem os sujeitos de modo geral, deixando evidente a necessidade de se repensar a educação ofertada no país urgentemente, incrementando os investimentos em formação de professores, recursos didáticos e tecnológicos e, especialmente, na adoção de metodologias que atendam as especificidades dos que serão atendidos de forma que lhes proporcione uma educação de qualidade.

Com o objetivo de refletir sobre o processo da educação do sujeito surdo, este estudo traz, nas seções a seguir, de forma sumária, importantes informações acerca da história da educação do surdo, das bases legais para a educação do surdo, das possibilidades e desafios para a educação desses sujeitos, bem como da proposta de escolas bilíngues no Brasil.

1-História da educação do surdo

Por muito tempo os surdos foram discriminados e marginalizados. Os povos egípcios, por exemplo, os consideravam como deuses. Para eles a pessoa surda era o elo entre os faraós e os deuses, consequentemente, os respeitavam e temiam, mas havia povos que os lançavam em penhascos ou no mar; outros, como os gregos, viam o surdo como incompetentes por não terem uma linguagem, incapazes de raciocinar, por conseguinte, não tinham direitos, viviam à margem e na maioria das vezes, eram condenados à morte. Os romanos como os gregos, também viam os surdos como seres imperfeitos e os excluíam da sociedade. Tempos depois, Santo Agostinho acreditava que os casais tinham filhos surdos como castigo por algum pecado cometido.

Quanto à educação, o primeiro professor para surdos que recebeu créditos foi o monge beneditino espanhol Pedro Ponce de León (1520-1584), o qual desenvolveu um alfabeto manual, conhecido também como datilológico. Alguns anos depois, Ivan Martim Pablo Bonet, publica o

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