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A Gestação do Espaço Psicológico no Século XIX: Liberalismo, Romantismo e Regime Disciplinar

Por:   •  17/9/2017  •  Resenha  •  1.268 Palavras (6 Páginas)  •  954 Visualizações

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O liberalismo e o individualismo tiveram seu alto no século XIX como a base para as organizações política e econômica. Liberalismo, romantismo e práticas disciplinares, embora contraditoriamente, são verdadeiras formas de entender o século XIX.

John Locke criou as linhas básicas do liberalismo original, apoiando a tese dos direitos naturais do indivíduo a serem defendidos e importantes para um Estado nascido de um contrato livremente firmado entre pessoas autônomas para garantir seus interesses. O Estado não teria o direito de intervir na vida pessoal de nenhum indivíduo, mas apenas suavizar as relações de todos para que seus direitos não sejam violados.

Para manter o Estado nessa condição limitada, aceitava desagregar os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, separar regionalmente e valorizar as tradições locais e as experiências particulares, dando importância para a jurisprudência e a consideração de casos concretos, em prejuízo de leis gerais e racionalmente construídas.

Propõe então, uma nova interpretação dos pensamentos liberais que indicou ao liberalismo um rumo diferente que, depois foi desviado. Podemos atribuir isto a obra de Jeremy Bentham, pai do utilitarismo. O utilitarismo substitui aos poucos a crença e a defesa inflexível dos direitos naturais dos indivíduos pelo cálculo racional da felicidade . Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo)

No século XX um modelo mais aprimorado de benthamismo é desenvolvida, e cabe ressaltar que foi do próprio Bentham a invenção de patropticon, exaltado por Foucault o emblema do regime disciplinar.

O Estado e suas filiais educacionais, corretivas, sanitárias e militares tomam para si novas tarefas neste regime; da mesma forma, a família deixa de ser o espaço da liberdade privada, em contraposição às regras dos espaços públicos, e se transforma numa agência disciplinadora visando individualizar e padronizar suas crianças, jovens e adultos. Bentham, é então, considerado na tradição liberal uma espécie de ovelha negra para as demais.

Stuart Mill em seu clássico On Liberty , cria um argumento de metas e modos de vida social e política em que as êxitos civis liberais são impostas a serviço dos valores românticos. Podemos dizer que as marcas da disciplina e do princípio utilitário estão aí presentes; porém, limitada a certas situações em que abraçam métodos de exclusão. Na introdução de On Liberty, posso dizer que Stuart Mill através de sua escrita estaria apresentando o crescimento do regime disciplinar. Já no terceiro capítulo Da individualidade como um dos elementos do bem-estar, emerge o ideário romântico: o destaque na diversidade, na singularidade, na espontaneidade e na interioridade dos indivíduos. Stuart Mill, ainda no regime disciplinar, se junta ao calvinismo e à sua ênfase na disputa dos impulsos e na obediência.

Há uma outra obra, neste século, que trata das mesmas questões: A democracia na América, de Alexis de Tocqueville (1805-1859). Tocqueville, lembrado como um estudioso pioneiro do individualismo moderno, traz em seu livro passagens antológicas. Segundo ele, o individualismo não equivale somente a separação e autonomização dos indivíduos, mas constitui, valoriza e enfraquece o indivíduo, dá lhe status e responsabilidades e lhe traz ameaças e desamparo.

Nas relações que Tocqueville estabelece entre uma cultura individualista e as novas forças e formas do despotismo, ele nota tanto um crescimento dos espaços de individuação como dos poderes das agências governamentais e da opinião pública, os quais, gradualmente tendem a invadir as esferas da privacidade. Se entregam a estes novos senhores, tiranos e meticulosos, os próprios indivíduos livres, mas rebaixados. Contudo, na análise de Tocqueville é a sua tese de que a regulação completa, capilar e abrangente das existências individuais não é apenas imposta pelo Estado em atenção às demandas da economia e da grande política, mas é como que solicitada pelos indivíduos autônomos e livres, que me parece ainda mais original e revelador.

Finalmente, é na versão do liberalismo de Stuart Mill, que mostra como em pleno século XIX o pensamento liberal necessitou recorrer ao ideário romântico para se fortalecer na sua luta contra os avanços do regime disciplinar.

O romantismo substitui uma noção de liberdade negativa por uma versão moderna na liberdade positiva, implicando na transformação dos sujeitos no que de fato eles são e também na permanente perda de suas identidades convencionais. A força do romantismo vinha da condição de marginalidade que lhe era destinada numa sociedade que se pensava a partir das perspectivas liberais e que já começava a se organizar, sob a proteção do regime disciplinar.

O romantismo nunca foi mais que uma coisa de 'eleitos'. Ou seja, A força do romantismo vinha da condição de marginalidade que lhe era destinada numa sociedade que se pensava a partir das perspectivas liberais e que já começava a se organizar, sob a proteção do regime disciplinar. Contudo, os artistas mantinham com o público através de suas obras uma relação contraditória, tanto a presença do escândalo e a mútua agressão como a reverência e mesmo a idolatria às grandes personalidades criativas, chamadas de gênios.

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