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A subjetividade presente no filme "Moonlight"

Por:   •  4/8/2017  •  Artigo  •  1.404 Palavras (6 Páginas)  •  535 Visualizações

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A produção de subjetividade no universo “Moonlight”

Discente: Ana do Carmo Farias Souza

Resumo:

Procuro nesse ensaio fazer uma análise da discussão subjetiva entranhada no filme “Moonlight”, entendendo a singularidade da experiência do negro homossexual no contexto periférico. Proponho assim uma reflexão acerca da sexualidade e como ela atua nos processos de docilização dos corpos, recorrendo assim, principalmente, a questionamentos foucaultianos e freudianos.

Palavras-chave: subjetividade; negro; homossexualidade; sexualidade; Moonlight.

  1. Introdução

Estudar o plano subjetivo humano implica em entender o homem enquanto um produto do movimento, uma vez que estamos em constante mudança. É através da nossa subjetividade que estabelecemos um espaço relacional, ou seja, nossa relação com o outro. Esse sistema de alteridade nos leva a construir e reconstruir nossas identidades, nos apropriando de novas vivências e assim nos reinventando. Por muito tempo, o grande problema do estudo subjetivo era tratar o ser humano de forma unitária, estigmatizando o diferente. A quebra de padrões éticos que normatizam e marginalizam esse diferente nos leva a entender a subjetividade através do peculiar, e sobre como esse peculiar se manifesta não somente na forma particular, mas como ele reverbera no todo. Dessa forma, o presente ensaio propõe uma análise sobre o filme “Moonlight”, uma vez que esse apresenta discussões do plano subjetivo pouco abordadas na esfera pública no que diz respeito à sexualidade.

Moonlight, dirigido por Barry Jenkins e escrito por Tarell Alvin McCraney, é um filme de 2016 que conta a história de um garoto chamado Chiron, criado na periferia de Miami. A trama se inicia quando Juan, um narcotraficante cubano, conhece o menino enquanto este é perseguido por outras crianças que o apelidam de “Little”. Esse termo, que significa ‘pequeno’ em português, era utilizado para inferiorizar Chiron, uma vez que seus colegas julgavam seus trejeitos afeminados. Assim, revelo o tema central do filme a ser discutido nesse ensaio: a produção de subjetividade de um garoto negro, periférico e homossexual (intersecção de identidades sociais pouco discutida na mídia).

  1. O homem negro e gay no contexto periférico

Chiron teve uma infância muito conturbada: filho de mãe solteira (usuária de drogas), sem nenhum amparo emocional para entender sua identidade e sexualidade, oprimido e perseguido pelos colegas de escola por ser diferente. Esse é o cenário vivido pelo personagem, que ao conhecer Juan, encontra em seu afago um refúgio para todos os seus problemas. Tamanha é a aproximação entre os dois que Juan e Teresa (sua namorada) acabam desempenhando o papel de pais do garoto.

No início do filme, Kev (único amigo de Chiron) fala “você é engraçado”. Ele dizia entrelinhas que Chiron era de alguma forma diferente, e o diferente sempre é tido como estranho. Isso pode ser relacionado com o estudo das “heterotopias” de Michel Foucault (filósofo francês), onde ele procura estudar os ditos loucos, os socialmente minorizados. Em sua obra “A história da sexualidade” Foucault discute o processo de assujeitamento a que estamos constantemente submetidos. Desse modo, vemos no filme que a sociedade espera que um negro interprete o esteriótipo animalesco, zoomorfizando assim a produção subjetiva desse sujeito. Diante disso, o filme aborda a peculiaridade da experiência desse garoto, enquanto homossexual, em um contexto tão hostil.

Em uma das cenas do filme vemos os colegas de escola de Chiron no banheiro comparando o tamanho e a forma de suas genitálias, o que remete ao complexo de Édipo conceituado por Freud. Em sua teoria ele explora a expressão da masculinidade do falo enquanto objeto de poder e, desse modo, em Moonlight vemos como Chiron, sobretudo no período da adolescência, é constantemente pressionado a exercer essa masculinidade, a exemplo da cena em que ele acaba sonhando com Kev fazendo sexo com uma garota. Esse processo de reconhecimento de sua própria identidade e sexualidade é acompanhado por abusos físicos e emocionais. Na trama, Chiron pergunta a Juan “o que é bixa?” e ele explica que é um nome que utilizam para ofender pessoas homossexuais. Então o garoto retruca “eu sou bixa?”. O homem responde que ele pode ser gay, mas nunca pode deixar que o chamem de bixa. Cito assim uma música de Caio Prado que leva o título de “Não Recomendado” onde ele diz “a placa de censura no meu rosto diz: não recomendado à sociedade; a tarja de conforto no meu corpo diz: não recomendado à sociedade”.

Foucault entende o controle sobre da sexualidade como um dos fatores fundamentais para o adestramento dos corpos, e é justamente esse o dilema do personagem em Moonlight. Em sua primeira experiência sexual, Chiron é masturbado por Kev e logo após ele se sente envergonhado. O tabu sexual experienciado pelo menino é construído baseado em um sistema de vigilância, onde somos desencorajados a conhecer e estimular nossos prazeres. Após a relação íntima entre os dois, Kev, mesmo contra sua própria vontade, acaba agredindo Chiron na frente de toda a escola por pressão dos demais colegas. Esse é um exemplo claro do processo de assujeitamento a que somos submetidos para podermos ser aceitos dentro do convívio social. A diretora da escola ainda culpabiliza Chiron por ele ter sido agredido ao falar “se você andasse com mais homens ao seu lado nada disso teria acontecido”. Dessa forma, legitima-se assim o poder coercitivo para se adestrar os corpos através de um sistema extremamente machista e violento. Chiron, ao se rebelar contra seus algozes, que saíram impunes, é assim preso.

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