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Análise Psicofarmacológica do Filme Mr. Jones

Por:   •  5/7/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.466 Palavras (10 Páginas)  •  824 Visualizações

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Análise Psicofarmacológica do Filme Mr. Jones

Apesar de ser um filme de 1993 com certa “pitada” de romantismo hollywoodiano, Mr. Jones trata de uma patologia muito frequente em nossa sociedade e que muitas vezes, como no início do filme, pode ter um diagnóstico precipitado. O filme inicia com o despertar dos protagonistas. Logo depois, Mr. Jones pedalando em sua bicicleta ao som da música “I FEEL GOOD” de James Brown, e percebe-se um comportamento competitivo em relação a outros ciclistas. A música tema (“ I feel good, I knew that I would, now. I feel good, I knew that I would, now. So good, so good, I got you”) demonstra o estado de Mr. Jones, um homem com aproximadamente 40 anos.

Com extrema inteligência e entusiasmo, se oferece para trabalhar em uma obra. Assim que inicia o trabalho, sincroniza o martelar com outro carpinteiro, Howard, e já faz amizade com ele. Mr. Jones aparenta não ter medo de altura e caminha na viga mais alta do telhado. Ele verbaliza a sensação de sentir o vento e sua velocidade, relativiza questões de física, de equilíbrio e da estabilidade, de sentir-se como um avião, querer voar. Howard consegue agarrá-lo. No hospital, um problema que acontece, também, nos nossos hospitais: a necessidade de tratar logo para liberar o leito. Tal situação é entendida pela fala da médica chefe: “avaliar, medicar e liberar”. Mr. Jones aparece contido e sedado com Haldol, apresentando sintomas de delírios, alucinações auditivas, agitação. Recebe o diagnóstico de esquizofrenia. Como parte da semiótica da doença, é perguntado a ele seu nome e a data daquele dia.

Em seguida, em uma reunião de equipe, Dra. Libbie afirma que o diagnóstico de Jones foi equivocado, que, pelo seu comportamento (expansivo, impulsivo, eufórico), teria psicose maníaco - depressiva bipolar. Na rua, é expansivo e sedutor, às vezes invasivo também. O som de uma orquestra estimula ainda mais seu lado maníaco. Apresenta logorréia, realizando verbalmente cálculos muito difíceis. Não se reconhece como doente e, mesmo sob forte medicação, ele afirma “vou descansar, mas não vou dormir”. A dra. Libbie destaca também que ele tem ideias desordenadas, perigosas para si, vive em um estado de euforia com capacidade de discernimento diminuída, gastos excessivos, hiperatividade, aumento de energia, entre outros sintomas. Teme que ele apresente, posteriormente, depressão com descontrole, tristeza, desespero e anedonia, correndo risco de suicídio. E é justamente isso que acontece - logo aparecem sinais de melancolia.

“Eu não consigo acabar com a tristeza”. Mr. Jones reconhece que precisa de tratamento e o inicia. A médica afirma que ele tem dois problemas: um, químico, e o outro, a dor que possui, e pergunta “vai colaborar? Posso contar com você?”. Jones inicia o tratamento no hospital psiquiátrico com terapia de grupo, remédio, terapia ocupacional - pintura - e terapia individual. Dra. Libbie busca identificar a origem do problema na sua história de vida. Jones é solitário, passou toda a vida sendo internado em hospitais psiquiátricos sem curar-se. Sua dor é maior do que os sintomas da doença, sente-se cansado e cético em relação a si mesmo. Enquanto está internado, Jones salva a Dra. de um ataque de outro paciente. Sente efeitos dos fármacos administrados, como o tremor nas mãos.

Outro aspecto interessante do filme foi a questão da adesão ao tratamento. Em um vários momentos do filme, Dra. Libbie questiona Mr. Jones sobre tratamentos já feitos, início dos sintomas, e oferece a ele a oportunidade de tomar remédios que poderiam melhorar o seu bem-estar. Em uma dessas conversas, Mr. Jones refere que já faz uso de Lítio, 4 vezes ao dia, e mostra o frasco de comprimidos para a doutora. A própria doutora demonstra-se cética quanto à possibilidade de ele tomar o remédio 4 vezes ao dia e, logo em seguida, vemos uma cena de Mr. Jones jogando o frasco no lixo.

Segundo Rosa (2006), a não-adesão ao tratamento do transtorno bipolar se dá por diversos fatores, incluindo a crença do paciente de que não está doente e os efeitos adversos do medicamento. Por ser um tratamento profilático, muitas vezes o paciente pode acreditar estar curado durante a fase de humor eutímico. O filme também sugere que, durante a fase maníaca, a autoestima elevada e a elevada sensação de bem-estar alteram a percepção de Mr. Jones quanto aos seus próprios limites físicos, ainda mais os de sua doença. Diferentemente da diabetes, que Dra. Libbie compara ao transtorno, nessa fase maníaca, o paciente percebe ter um “ganho”, por mais que coloque-se em situações de risco para si e para os outros. Já na fase depressiva, podemos perceber que Mr. Jones sente-se incapaz até mesmo de pedir ajuda. O desleixo de sua aparência sugere que ele não consegue tomar cuidados de higiene pessoal, o que nos faz pensar que o uso do remédio e a procura por um tratamento talvez também não fosse possível naquele momento.

Além das várias questões referentes à saúde da psiquiatra, que não aparentava ter um espaço de escuta para si, e as muitas problematizações éticas sobre sua conduta, o filme abre uma visão humana sobre a doença mental, mostrando que é possível e necessário mudar a relação que se tem com os deprimidos, bipolares e outros psicóticos. Jones sobe duas vezes no telhado da casa, na esperança de voar. É com o abraço da doutora que ele consegue dizer: “eu queria tanto poder voar, mas eu não posso”. E ela: “Eu sei, sinto muito”. O filme não demonstra a cura do transtorno em Jones, mas sim o tratamento nele através de psicoterapias e da utilização de psicofármacos, tentando não criar um quadro estereotipado de perigo em cima da doença. Jones ama e é amável, apesar de ser, às vezes, muito sonhador, e, às vezes, completamente destruído.

O transtorno afetivo bipolar tem como característica um caráter fásico ou episódico, havendo uma variação entre episódios de euforia ou alegria intensa e momentos de depressão. Tanto os episódios de euforia quanto os de depressão ocorrem delimitado no tempo, e há períodos de eutimia ou tranquilidade do paciente entre um e outro, o que faz com que as características sintomáticas regridam.

Segundo Dalgalarrondo (2008, pág. 316) são descritos três subtipos de transtorno bipolar:

Transtorno bipolar tipo I - episódios depressivos leves a graves, intercalados com fases de normalidade e fases maníacas bem-caracterizadas.

Transtorno bipolar tipo II - episódios depressivos leves a graves, intercalados com períodos de normalidade e seguidos de fases hipomaníacas (estado mais leve de euforia, excitação, otimismo e,

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