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Análise do Filme “O Poço” relacionado com a pandemia do Covid-19

Por:   •  17/11/2021  •  Monografia  •  1.378 Palavras (6 Páginas)  •  82 Visualizações

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Análise do filme “O Poço” relacionado com a pandemia do Covid-19

        A presente análise tem por objetivo compreender o contexto do filme “O poço” com a pandemia do Covid-19. Em uma sociedade imaginária existe um centro vertical de autogestão, onde há diversos andares, chamados de níveis. Em cada nível há duas pessoas reclusas que são alimentadas através de uma mesa composta por um banquete. Os níveis mais altos podem se alimentar bem e à vontade, enquanto os “detentos” dos andares mais abaixo conseguem comer quase nada e muita vezes nada.

        Diante da situação em que muitos esbanjam a comida e outros passam fome, nos colocamos diante de uma metáfora clara: a sociedade vive de maneira desigual, onde a maioria das pessoas não se importam com as outras. Em pequenas palavras, para sobreviver é preciso matar ou morrer.

        Quando a mesa de comida é elaborada, percebe-se que há comida para todos, porém o individualismo gera fome e necessidade de sobrevivência. Submeter os atores a condição de fome (situação limite) faz compreendermos a condição humana. O mundo realista e idealista está presente no filme através dos “chavões” usados pelos personagens. A palavra “óbvio” tanto utilizada pelo ator mais velho, está amplamente inserida num contexto de vida regrado que necessita se reinventar pela sobrevivência.

        Enquanto isso o personagem principal se indaga de tudo o que ocorre no poço. Cada pessoa tem direito de levar consigo para o poço alguma coisa. A pessoa que representa o idealismo leva consigo uma faca e o idealista um livro.

Que preço se paga pelo que fizemos? Quanto vale um certificado? Estar vivo apenas é o que importa?

O filme reflete o drama atual: a era do Coronavírus, especialmente no que tange a luta de classes sociais. As cenas de violência, em grande maioria repugnantes e desnecessárias tenta passar reflexões, contudo, a mensagem que o filme deixa explícita é como a disputa por migalhas de comida em meio à escassez opressiva se adequa aos indigestos tempos da pandemia de Coronavírus. Um dos produtos a serem citados que “desapareceram” dos supermercados foram os papéis higiênicos, bem como álcool líquido e em gel. A comida em geral começou a apresentar preços absurdos pelos fornecedores. O contexto atual levou a sociedade à paranoia. As pessoas mais abonadas correm para estocar o que julgam ser necessário, e quem não possui condições que tente sobreviver com o que tem. Para um cenário como é óbvio dizer que precisamos de um consumo consciente para que não ocorra desabastecimento. Essa função parece mais emaranhada que a do protagonista do filme, que implora discurso para as paredes até ter medidas extremas. A expectativa é que realidade de pandemia em que o mundo vive, seja melhor e mais humano que a distopia do filme.

Quanto mais fundo se desce, maior o sofrimento. A ideia está no Inferno da Divina Comédia. Há uma referência religiosa da culpa. No terceiro círculo do Inferno ( e na sexta cornija do Purgatório) estão punidos os gulosos. O mais importante é tomar consciência do próprio pecado.

Trimagasi matou alguém e optou por aquela pena no poço. Goreng busca certificados, uma espécie de esforço de meritocracia e de competitividade. Ao contrário de Dante, existe mobilidade no Inferno e isso permite que opressores sejam oprimidos.

A experiência da dor da fome pouco ou nada ensina aos apenados.Existe um mundo de planejamento, tecnocrático e muito elaborado. Na entrevista, perguntam sobre alergias e cuidados. Na cozinha luxuosa, a apresentação é tudo e a qualidade e higiene é rigorosa. Na prática, todo o planejamento (estatal?) resulta inútil e em desastre.

Quem organiza a seleção e a alimentação não possui visão do todo. A mesa volta sempre sem nada e isso pode ser lido na cozinha como êxito da culinária. Se a panacota voltar intacta, isso pode ser uma mensagem de que algo não funciona. A funcionária que trabalhou 25 anos na seleção também diz nada saber.

Existe uma síndrome de Eichmann e do mal banal. Quem pensa o modelo não sabe como ele funciona e quem sofre o planejamento não tem acesso aos que elaboram tudo. Todos cumprem ordens.

O filme é anterior ao coronavírus mas serve perfeitamente ao momento. Tenho de me salvar, comprar o máximo possível, salvar a mim. Pouco ou nada me importam os outros. Assim, como no filme, a teoria de Hobbes supera a de Rousseau: a natureza humana é má e egoísta. Uma criança seria a esperança? Um bom selvagem? Existiria de verdade ? Só a ameaça educa (“vou defecar na sua comida”) e só funciona para baixo.

Não existe bom-senso, apenas ameaça. É o mundo hobbesiano que precisa de Estado forte. Em plena epidemia, é o Estado (democrático, por sinal) que está ditando regras de controle cada vez mais amplas. Para salvar a vida, abrimos mão da liberdade e da própria humanidade. Só queremos viver. Todo o resto é secundário. O sucesso do Poço não é acidental.

A principal angústia d’O Poço é querer enquadrar a obra em uma proposta de esperança. O filme é realista, politicamente maquiavélico (no sentido de não mostrar o mundo como deveria ser, todavia como é). Chamamos isto de Realpolitik em oposição a um mundo idealizado. Vejamos exemplos:

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