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Análise do filme: Hoje eu quero voltar sozinho

Por:   •  25/4/2018  •  Resenha  •  1.372 Palavras (6 Páginas)  •  2.628 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE-UNICENTRO[pic 1]

SETOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

ANGELICA STEFANIAK

ANÁLISE DO FILME “HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO”

Trabalho apresentado ao professor Me. Felipe Miranda Barbosa, na disciplina de Psicologia da Pessoa Portadora de Deficiência, como requisito parcial de avaliação semestral.

IRATI

2018

        O filme “Hoje eu quero voltar sozinho”, dirigido pelo diretor Daniel Ribeiro é um longa adaptado do curta-metragem “Hoje eu não quero voltar sozinho”, produzido por ele. O filme retrata a história de Leonardo, um adolescente de classe média, que tem deficiência visual desde nascença e que está prestes viver o seu primeiro amor. A trama traz um duplo tabu, a deficiência visual de Leonardo e a descoberta de sua homossexualidade e trata de assuntos como a inclusão de pessoas com deficiência e as relações familiares.        
        Leo mora com seus pais e faz o ensino médio em uma escola regular com outros alunos que não possuem deficiências, de forma inclusiva. A escola em que estuda possui adaptações para a sua deficiência, como uma máquina de escrever em braile e livros em braile, recursos esses que não fazem parte do cotidiano de muitas pessoas que têm deficiência visual. Apesar de tratar do tema deficiência, podemos perceber que a realidade de Leonardo, mesmo fazendo parte de uma minoria, é diferente de muitos dos casos de deficiência visual, pois sua família possui recursos que fazem com ele tenha uma vida mais próxima da realidade dos adolescentes que não possuem deficiência, principalmente quando falamos em educação inclusiva. Apesar do século XXI trazer à tona discussões como a educação especial e inclusão de pessoas com deficiência ainda estamos longe de sair do modelo de exclusão que perpetua desde o período pré-cristão.         
        O protagonista estuda na mesma classe que Geovana, a sua melhor (e se não única) amiga. Os dois se conhecem desde criança e tem uma relação de muita proximidade, frequentam a casa um do outro e Geovana está sempre disposta a ajudar Leo com suas limitações, levando ele até em casa todo dia depois da aula e ditando as anotações feitas no quadro pela professora, por exemplo. O filme apresenta algumas cenas em que Leonardo e Geovana sofrem
bullying por seus colegas de classe, relacionados a deficiência de Leo e a proximidade que os dois tem, fazendo piadas sobre o fato de Geovana ser a “cuidadora” do protagonista. Apesar de abordar o bullying, o diretor não foca nas dificuldades que Leo tem de viver em sociedade por conta de sua deficiência e nem nos conflitos internos que essa limitação traz para sua vida. Apesar de algumas cenas de bullying terem um conteúdo bem forte, capaz de mexer com o emocional dos telespectadores (como a cena e que um grupo de colegas de classe de Leonardo o persegue em um dia que estava indo sozinho para casa de sua avó e é derrubado no chão, por exemplo), são um recorte de um quadro maior, com outro enfoque. Podemos perceber que o diretor usa o bullying para demonstrar que ele influência no processo de crescimento e desenvolvimento do protagonista, mas não dá um enfoque maior nesse tema. Daniel Ribeiro não busca instrumentalizar as particularidades de Leo, procurando trazer à tona reflexos de sua autoafirmação enquanto portador de deficiência e não de processos que levaram à sua autodescoberta.

        Além disso entra na discussão a superproteção de seus pais, devido ao fato do protagonista ser cego, e ainda por cima filho único do casal. Eles limitam muito a sua liberdade de ir e vir, o que faz com que o adolescente desenvolva uma vontade de fazer intercambio para fugir de todo esse excesso de cuidado e exercer melhor sua independência e liberdade. Os pais, principalmente sua mãe, acabam por limitar o seu convívio social que, por conta de sua deficiência, já não era como o dos adolescentes de sua idade, causando sofrimento para Leonardo. A pessoa quem tem deficiência, seja ela visual ou de qualquer outro tipo, já tem que conviver com as suas próprias limitações e inseguranças, esse comportamento dos pais só faz com que o protagonista se sinta mais diferentes das pessoas que estão a sua volta e impossibilite uma autoafirmação de si mesmo enquanto sujeito “normal”.        

        No decorrer do filme o personagem Gabriel é inserido na trama. Gabriel é um adolescente que vem transferido de outra escola e passa a estudar na mesma classe que Leonardo. Logo no primeiro dia Gabriel se senta em uma carteira atrás de Leonardo e no decorrer do filme eles começam a ficar mais próximos devido à um trabalho sugerido pela professora, onde meninos deveriam formar duplas com meninos e as meninas com meninas, impossibilitando Leo e Geovana de ficarem na mesma dupla, como de costume. Os dois começam a passar mais tempo juntos e Gabriel começa a frequentar a casa do protagonista e a proximidade que começa a surgir entre os dois desperta em Leonardo alguns sentimentos que nunca havia experienciado. Diferente da maioria das pessoas que passaram pela vida do protagonista, Gabriel não o tratava com diferença devido à sua deficiência, e ajudou Leo a explorar seus outros sentidos o levando ao cinema (contando tudo que acontecia no filme para ele) e para presenciar um eclipse (quando Gabriel usa pedras para explicar a Leonardo a lógica de funcionamento desse fenômeno). A forma como Gabriel trata Leonardo foge do superprotecionismo de seus pais e de Geovana, ele trata o protagonista de uma maneira que faz ele se sentir normal, muitas vezes abordando comentários sobre a sua deficiência com um certo tom de humor (como quando ele fala pra eles irem ao cinema e logo lembra que Leonardo não conseguiria assistir ao filme, dizendo que logo se acostumaria com o fato dele ser cego).        
        O filme traz também a questão dos desejos e sexualidade de Leonardo, a partir de algumas discussões que ele tem com Geovana sobre a vontade de dar seu primeiro beijo e sua insegurança em relação a isso pelo fato de ter deficiência visual, supondo que ninguém teria vontade de beijá-lo. No decorrer da trama Leonardo começa a se questionar com relação aos seus sentimentos por Gabriel, e depois do primeiro beijo que dão, em uma festa com seus colegas de classe, o romance entre os dois vai se desenvolvendo até a cena final do filme, na qual os personagens estão indo embora da escola e o grupo de amigos zomba com o novo casal (que até então era associado a figura de Leonardo e Geovana) e então Leonardo e Gabriel saem de mãos dadas, dando a entender o conforto que o casal desenvolveu para assumir sua homossexualidade. Após muitas idas e vindas o casal descobre juntos as possibilidades do “novo mundo” a qual pertencem e fazem suas auto definições pessoais.        O filme trata o tabu da deficiência sem muito militarismo, com muita sensibilidade e naturalidade. O roteirista trata o tema com muita delicadeza, trazendo os desejos e preocupações de Leonardo assim como em qualquer filme com um protagonista sem deficiência. Embora o filme traga uma representação mais romântica do modo como a sociedade funciona, dentro de um cenário branco, de classe média alta e urbano, Daniel Ribeiro torna possível uma reflexão acerca dos preconceitos e dificuldades do convívio social ligadas a deficiência, dando a essa temática uma conotação de uma condição que apenas leva o sujeito por caminhos diferentes aos que estamos habituados, mas que chegam nos mesmos lugares. O modo como o protagonista é apresentado, de forma que a deficiência não é ilustrada como um fardo em sua vida, permite aos telespectadores refletirem sobre o fato da vida já ter problemas suficientes e o que precisamos, independente de ter deficiência ou não, é coragem para viver a vida da forma como julgamos correta e lidar com isso da melhor maneira possível.

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