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Artigo Identificação com Times Oficial

Por:   •  26/3/2019  •  Artigo  •  4.526 Palavras (19 Páginas)  •  133 Visualizações

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Identificação e fanatismo em torcedores de futebol: A[a] avaliação psicométrica de dois instrumentos

Talídyna Moreira de Oliveira

Introdução

O futebol, esporte herdado da cultura inglesa, chega ao Brasil em 1894, (Caldas, 1994), conquista o país e torna-se um dos principais elementos de identificação nacional. O que antes era uma modalidade elitista, transforma-se em um fenômeno de massa (Lourenço & Bravin, 2011), que se desvincula do amadorismo e se instaura em padrões profissionais, transformando a indústria do entretenimento e o mercado brasileiro (Costa, Rocha & Oliveira, 2008).

Nomeado como país do futebol, o Brasil não encara esta prática apenas em termos técnicos, de jogadas e passes, mas obtém nessa modalidade esportiva um estilo de vida, um conceito de cultura, que constituí identidades e dita hábitos e costumes de uma nação devota, que assiste, consome, vibra, discute e se une pela paixão ao esporte (Souza, 2013).

O fenômeno que explica a devoção do brasileiro para com seu time é conhecido como identificação grupal, construto que é compreendido por Tajfel (1972) como a noção que os indivíduos possuem de seu pertencimento aos grupos sociais, que envolve a significância emocional e o valor adquirido nessa pertença. A noção[b][c][d] de grupo nessa perspectiva transcende a ideia de grupo como uma formatação de sujeitos interdependentes em interações reais (Bouas e Arrow, 1996) e adota uma concepção mais abrangente de grupo psicológico, que compreende um conjunto de sujeitos que se sentem vinculados a uma categoria social (Tajfel, 1982).

Na teoria de identificação grupal, o pertencimento ao grupo per si não é suficiente, uma vez que faz-se necessário a categorização de si e dos outros enquanto membros de uma instância coletiva (Wachelke, 2012). Biscoli e Lima (2017) comentam que é afirmando sua identidade e enfatizando o não pertencimento a outros grupos, que os indivíduos tornam-se cientes de sua pertença grupal. A argumentação dos autores é observada no comportamento extremista de torcedores altamente identificados que tendem a encarar sujeitos de outra torcida como inimigos a serem combatidos. Esse comportamento muitas vezes extrapola a fronteira dos estádios e acaba se instaurando no convício social (Bicoli e Lima, 2017).

Sendo a identificação grupal a medida da magnitude da conexão dos indivíduos com seus grupos (Fisher & Wakefield, 1998), pode-se inferir que os sujeitos se envolvem com as  instâncias coletivas em níveis variados, assim, no caso da identificação com times de futebol, teremos torcedores menos identificados, que possivelmente assistirão jogos esporadicamente e apresentarão certa solidariedade quanto ao seu time, mas também iremos nos deparar com torcedores com altos níveis de identificação, que serão assíduos em seu comprometimento com o clube e provavelmente estarão incluídos em movimentos coletivos ou torcidas organizadas.

Algumas pesquisas apontaram relações existentes entre os níveis de envolvimento com o time e o comportamento dos torcedores. Branscombe e Wann (1994) constataram que indivíduos com alto nível de identificação utilizam o menosprezo como estratégia para aumentar a auto-estima em situações de ameaça ao time, o que não é observado em indivíduos com níveis baixos. Também observa-se que torcedores mais identificados frequenta mais jogos, consomem mais produtos, são mais satisfeitos com seus time (Madrigal, 1995; Wann &Brasncome, 1993) e têm maior adesão a serviços ofertados por seu clube (Pereira, Pessôa, Ferreira & Giovanni, 2014).

Fisher e Wakefild (1998) ao estudarem sobre identificação com times, se interessaram em compreender a identificação de torcedores com times vitoriosos e pouco vitorioso. Em seu estudo, os autores observaram que a variável desempenho do time não era eficaz em predizer a força da conexão em times poucos vitoriosos, visto que o envolvimento com o esporte e a atração por jogadores do time se mostraram mais importantes na identificação. Entretanto, nos torcedores de times vitoriosos, o desempenho do time se mostrava um importante preditor, juntamente com a variável envolvimento com o esporte.

Mesmo que o desempenho do time tenha influências distintas na identificação de torcedores de times vitoriosos e fracassados, a derrotas em jogos, rebaixamentos e outras situações conflituosas envolvendo o time parecem ocasionar emoções fortes e negativas ou até transtornos psicológicos de alguma severidade aos torcedores (Banyard & Shevlin, 2001; Kerr, Wilson, Nakamura & Sudo 2005), principalmente naqueles extremamente identificados, que passam a enxergam o sucesso e o fracasso do time como seu (Absten, 2011).

Essas emoções intensas vivenciadas por torcedores geralmente ocorrem em uma condição denominada fanatismo, que é caracterizada por um elevado nível de identificação, que resulta em dedicação excessiva ao time e ocasiona uma série de comportamentos não adaptativos à vida social e cotidiana (Wachelke, Andrade, Tavares & Neves, 2008). Os denominados fanáticos possuem investimento pessoal e emocional de longo prazo com os clubes, estão sempre comprometidos com a torcida e geralmente oferecem apoio financeiro ao time (Giulianotti, 2012).

O elevado nível de identificação desses indivíduos tem favorecido as finanças dos clubes brasileiros, dado que esse construto parece ter influência direta no comportamento de consumo dos torcedores (Patrocínio, 2017). Capelo (2017) informa que no ano de 2016 os maiores clubes país arrecadaram cerca 5 bilhões de reais, sendo 770 milhões desse montante arrecadados através de bilheterias e programas de sócio-torcedor e 660 milhões adquiridos através de patrocínio de marcas e venda de produtos.

Visto isso, pesquisas nas áreas de psicologia, administração e marketing têm se interessado por tal fenômeno, e chegaram a constatar que além de consumirem mais e frequentarem mais jogos (Wann &Brasncome, 1993), os torcedores mais identificados tendem a ter maior reconhecimento dos patrocinadores do seu time e possuem atitudes de rejeição a marcas patrocinadoras de times rivais (Patrocínio, 2017; Toledo & Andrade, 2017).

A identificação com times de futebol também tem se mostrado variável importante em campos como as políticas públicas e a segurança nacional, uma vez que o fanatismo com times está diretamente correlacionado com a agressividade e o Brasil possui estatísticas alarmantes de violência entre torcedores ( Coriolano & Conde, 2017). Sendo considerado um dos países com maiores índices de homicídios entre torcidas, o Brasil e suas estatísticas de violência nos estádios obtiveram repercussão mundial em episódios como o confronto entre torcidas na arena Joinville em 2013 (Moreira, 2013), o arremesso de vasos sanitários entre torcedores no Estádio Arruda em 2014 ( Lins, 2014) e a invasão e vandalismo no Maracanã em 2017 (Burlá, Almeida & Castro, 2017).

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