EM BUSCA DOS IMPONDERÁVEIS DA VIDA REAL O MÉTODO ETNOGRÁFICO

EM BUSCA DOS IMPONDERÁVEIS DA VIDA REAL

O MÉTODO ETNOGRÁFICO

        O Método etnográfico é utilizado quando se quer apreender, com profundidade, os significados presentes em uma cultura. O método consiste no levantamento de todos os dados possíveis de uma determinada comunidade e na sua descrição, com o objetivo de conhecer melhor o estilo de vida ou a cultura específica dessa comunidade.

        Há que se distingui uma etnografia de uma etnologia. A primeira refere-se à descrição de uma dada cultura; a segunda, na análise dessa descrição.

        A etnologia é a parte dos estudos antropológicos, responsável pela análise dos dados, fatos e documentos levantados pelo método etnográfico.

        O método etnográfico implicar conhecer o “outro”, de modo que quando o “outro” faz parte da própria sociedade do pesquisador, é preciso estranhar o familiar e descobrir o exótico que existe em cada um de nós.

        A etnografia não é o trabalho de campo, mas sim o que se escreve sobre ele.

        Uma das técnicas para obtenção de dados para o texto etnográfico é a observação participante, criada por Malinowski. O teórico diz que o trabalho etnográfico só terá valor científico irrefutável se pudermos distinguir os resultados da observação direta e das declarações dos nativos dos posicionamentos (inferências) do autor. O observador precisa mergulhar no cotidiano da cultura a ser pesquisada. Somente assim, poderá compreender o universo sociocultural, que é o objeto de sua pesquisa.

        Porém, Malinowski, ressalta para a importância de se despir das ideias preconcebidas ao se fazer um estudo etnográfico. O pesquisador tem de estar apto para mudar seus pontos de vista constantemente, abandonando as ideias preconcebidas e estar apto também para levantar problemas, que segundo ele, é uma das maiores virtudes do cientista.

        Para Malinowski, existem fenômenos de grande importância que não podem ser captados em sua essência pelo pesquisador. A única maneira de apreendê-los é através da observação em sua plena realidade. A esses fenômenos ele denominou de imponderáveis da vida real.

         O registro desses imponderáveis deve ser feito em um diário de campo, que é o espaço onde são registrados pelo pesquisador todos os dados da pesquisa. Nele, o pesquisador irá narrar, com cuidado, todos os acontecimentos ocorridos dia após dia. Também devem ser anotadas as expressões próprias dos grupos pesquisados e os sentimentos do pesquisador, pois é por meio do diário de campo que será construído o texto etnográfico e as impressões particulares do pesquisador poderão ser melhores compreendidas e eliminadas quando a descrição da cultura dos pesquisados é realizada.

        É importante não misturar as duas falas, de modo que o êmico (categoria dos pesquisados) e o ético (categorias do pesquisador) não se confundam. Desta maneira, evita-se o etnocentrismo, ou seja, a análise de uma outra cultura mediante as categorias de análise do pesquisador.

        As primeiras impressões transmitidas pelo contato do pesquisador com o campo devem ser cuidadosamente registradas, pois com o passar do tempo haverá uma tendência em considerar normal determinados fenômenos que a princípio causaram estranheza ao pesquisador.

        Outro ponto importante diz respeito à sensibilidade, da empatia que deve se estabelecer entre pesquisador e informantes. A riqueza ou pobreza dos dados obtidos sofre influência desses aspectos caracteristicamente humanos. Além disso, a qualidade dos dados está profundamente relacionada com a capacidade do etnógrafo de ouvir e compreender o outro com base na emoção, que se constituiu num elemento indispensável para quem quer conhecer outra cultura, ao contrário do que possa parecer, ela não constitui um entrave ao trabalho etnográfico.

        No entanto, cabe ao etnógrafo ter consciência dessas cargas afetivas, emocionais, para tirar proveito da situação; sabendo o momento certo de se aproximar ou se afastar do objeto de pesquisa de forma a obter um registro mais fiel da cultura que está sendo pesquisada.

        Algumas dificuldades no trabalho etnográfico merecem ser destacadas:

        - O perigo da observação superficial. Não acreditar. Não acreditar que se sabe por que se viu; não fazer nenhum julgamento moral. Não se admirar. Não se irritar. Ou seja, sentimentos humanos que podem, caso não se atentem para os mesmos, interferir na coleta e posterior análise dos dados.

        - O trabalho deve ter uma organização sistemática de dados de modo a evitar um caos no futuro, na hora da construção do texto.

        - Como cada pesquisador escreve sua própria história com o seu olhar particular, esse trabalho não tem uma padronização, de modo que dificilmente outro pesquisador conseguirá relatar a mesma história. Por isso, torna-se difícil replicar um estudo dessa natureza.

        - As qualidades individuais do pesquisador, aliadas ao contexto do grupo pesquisado e a bagagem teórica do antropólogo faz com que, ao estudar um mesmo problema, etnógrafos produzam distintas monografias.

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