DAS TELINHAS PRA VIDA REAL

DAS TELINHAS PRA VIDA REAL

RICARDO BORBOREMA DOS SANTOS

Desde os primórdios da civilização, o ser humano mostra necessidade de representar cenicamente seus dramas pessoais e vicissitudes existenciais. O "reality show" é uma das versões pós-modernas da encenação da vida humana, fazendo muito sucesso com o público brasileiro e mundial. Criado originalmente e idealizado pela produtora holandesa Endemol por John de Mol e Joop van den Ende, e recebendo o título de "Big Brother", ele foi o primeiro programa do mundo a ser simultaneamente apresentado em TV aberta, TV a cabo (pay-per-view) e pela Internet. Sendo assim, a estratégia discursiva central é a criação de efeitos que mimetizem, ao máximo, a realidade (escolha de pessoas comuns, imagens de atos cotidianos, linguagem coloquial, técnicas de filmagem, etc).

Boa parte da sociedade reconhece o avanço da tecnologia no mundo, o que faz com que a mídia se infiltre por todos os lugares, e de certa forma, ela vem impondo costumes, padrões de vida e de consumo. É indubitável que a cada edição do programa, uma pauta social, moda, hábitos e linguagem sejam discutidos e sejam mantidos sob os holofotes do assíduo público, tais quais o racismo causado pela polêmica ganhadora do BBB19 Paula Von Sperling, o feminismo levantado pela cantora Manu Gavassi na edição de número 20 do programa onde as buscas pela palavra “sororidade” subiram 250%, ou até mesmo a busca desenfreada pelo batom usado pela influenciadora Rafa Kalimann ao aparecer no programa ao vivo.

Nesse sentido, é importante ressaltar o aspecto positivo dos crescentes debates sobre as pautas que sempre são levantadas no programa, já que questões importantes são discutidas devido estarem em alta. Por outro lado, a busca desenfreada por produtos que os participantes da “vitrine virtual” estão expondo como por exemplo, a sandália Chunky classic de Manu Gavassi põe em cheque a individualidade em um contexto onde a maioria da população almeja aquele bem com o intuito de ser socialmente aprovado.

Por conseguinte, é necessário afirmar que o sucesso do reality provém da necessidade do público de confirmar a volatilidade da experiência humana pós-moderna: não queremos sentir, pensar ou agir, abdicamos da angústia existencial para que outros, nem atores e nem personagens, vivam por nós e ditem nossos hábitos, moda e discussões socias.