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O Mundo e Trabalho

Por:   •  20/9/2021  •  Trabalho acadêmico  •  8.283 Palavras (34 Páginas)  •  111 Visualizações

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LISBOA, Marilu Diez. Orientação Profissional e mundo do trabalho. In LEVENFUS, Rosane Schotgues; SOARES, Dulce Helena Penna. Orientação vocacional ocupacional. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Capítulo 2

Orientação Profissional e Mundo do Trabalho

Reflexões sobre uma Nova Proposta Frente a um Novo Cenário

Marilu Diez Lisboa

INTRODUÇÃO

No presente capítulo serão trabalhados conceitos relativos ao mundo do trabalho atual, considerando-se as mudanças que se vêm processando e suas consequências nas relações homem/trabalho. Dentro desse contexto, as possibilidades de escolha profissional se fazem muito importantes, não somente na busca de realização pessoal, mas, fundamentalmente, na abertura da consciência e no entendimento mais profundo sobre um novo cenário que se apresenta. A autora parte da ideia de que o conhecimento do mesmo, para quem se dispõe a refletir sobre a escolha profissional, poderá determinar um diferencial na inserção do indivíduo como profissional, uma vez que um dos maiores méritos da Orientação Profissional reside na possibilidade de reflexão aprofundada sobre os elementos que constituem o projeto profissional, considerando o contexto do trabalho como um dos mais importantes. Uma vez que tais transformações têm-se apresentado como altamente significativas nos últimos anos, o fórum da Orientação Profissional torna-se um dos mais apropriados para discussões que não necessariamente ocorrem na família ou em outros meios, no que tange à pessoa que escolhe e à realidade. Cobranças, autocobranças, ideias e ideais desvinculados dessa realidade são alguns dos pontos que merecem ser confrontados, enquanto reflexão e construção de um projeto de futuro baseado ao máximo no conhecimento do que a dinâmica do mundo do trabalho oferece. Este capítulo traz elementos para a reflexão de orientadores profissionais, educadores, profissionais ligados à orientação, orientandos e para a sociedade em geral, contribuindo para que as pessoas tenham um maior conhecimento sobre esta área enquanto abordagem ampla e comprometida com a ajuda na abertura de consciência na construção de projetos profissionais de jovens e adultos. Igualmente, estimula os orientadores profissionais à reflexão sobre a importância do compromisso social que seu trabalho encerra, principalmente considerando-se, a partir da análise objetiva feita, os encaminhamentos que historicamente o trabalho vem adquirindo dentro do sistema capitalista em que vivemos.

SOBRE O TRABALHO

O trabalho e a segunda revolução industrial

Para facilitar o entendimento do que ocorre no atual mundo do trabalho, com respeito ao seu processo bem como às relações que nele se estabelecem, faz-se importante uma breve análise das concepções sobre o trabalho que embasam o enfoque do presente capítulo, bem como o que vem ocorrendo neste campo a partir da Segunda Revolução Industrial.

O conceito de trabalho começa a ser formulado enquanto dimensão física, como esforço e energia despendidos por seres humanos, animais ou máquinas, postos a serviço da satisfação das necessidades humanas (Liedke, em Cattani, 1997).

Marx (1968), em O capital, obra escrita entre 1867/68, enfoca o trabalho como dispêndio de energia física e mental, contribuindo para a reprodução da vida humana, individual e social. Essa concepção significa que o trabalho constrói e transforma a sociedade e as relações que nela se estabelecem de um modo geral. O autor concebe o trabalho em duas dimensões: a do concreto e a do abstrato, ou seja, sob o ponto de vista do valor de uso e do valor de troca das mercadorias. Neste sentido, nos deixa muito clara a relação entre a produção de bens materiais e a possibilidade de aquisição/utilização dos mesmos, por parte de quem os produz, que não é uma relação necessária, uma vez que o produzir ou o ganho com a produção não necessariamente possibilitam o alcance ao consumo daquele bem.

Marx faz a crítica à economia política clássica (Adam Smith, em A riqueza das nações, 1776), apontando as relações de produção capitalistas como relações de valores de troca, objetivando a acumulação de capital - pelos proprietários de terras e dos meios de produção - via a expropriação da mais-valia - advinda da força de trabalho dos trabalhadores. Segundo Liedke, em Cattani (1997 p. 271): “A venda da força de trabalho torna-se a única alternativa do trabalhador livre para obter, através do salário, sua sobrevivência”.

Enfatiza, ainda, como um dos pilares de sua teoria, que a troca no processo de compra e venda de força de trabalho não é, de maneira alguma, uma troca de equivalências, porque nela está necessariamente presente um excedente que é apropriado pelo capitalista. Assim, chama a atenção para a questão da posição do trabalhador na esfera social como alguém que, além de vender a sua força de trabalho, se situa em uma posição inferior quanto às possibilidades de acesso não somente aos bens de consumo como quanto ao nível de vida, enquanto classe social.

Na chamada Era Moderna, após o advento das grandes navegações, o mundo ocidental centrou-se na expansão dos mercados e na manufatura, com base nos princípios de liberdade de mercado, autodeterminação individual e racionalidade científica. Foi nesse contexto que, na Europa, se sedimentou, entre os séculos XVIII e XIX, o processo de diferenciação do mercado capitalista, ou seja, a oposição entre trabalho e não-trabalho, ou lazer, e a separação das esferas doméstica e pública da vida social. Ao mesmo tempo, ocorreu a diferenciação entre trabalho livre e trabalho assalariado, sendo o trabalho assalariado desempenhado na e para a produção, o que, segundo Liedke, em Cattani (1997, p. 273):

(...) tornou-se um importante referencial para o desenvolvimento emocional, ético e cognitivo do indivíduo ao longo do seu processo de socialização e, igualmente, para o seu reconhecimento social, para a atribuição de prestígio social intra e extragrupal. O desemprego tornou-se fonte de tensão psicossocial, tanto do ponto de vista individual como comunitário.

No início do século XX, mais precisamente em 1913, Henry Ford introduz em sua fábrica, a Ford Motor Co., em Detroit, um modelo de produção e gestão baseado em um sistema de inovações técnicas e organizacionais, tendo como objetivos a produção e o consumo em massa, mais conhecida como produção em série. Como prática de gestão, o fordismo apresenta uma separação radical entre concepção e execução, com base em um trabalho simplificado e fragmentado, de ciclos operatórios curtos, requerendo pouca formação e pouco tempo de treinamento dos trabalhadores.

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