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Parte Escrita - Resenha Crítica “O Caso Marie L.”

Por:   •  4/6/2022  •  Resenha  •  2.052 Palavras (9 Páginas)  •  104 Visualizações

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CENTRO UNIVERSITARIO NEWTON PAIVA

INSTITUTO CULTURAL NEWTON PAIVA FERREIRA LTDA

CURSO DE PSICOLOGIA

VITOR CELESTINO CARDOSO

RESENHA CRITICA

BELO HORIZONTE – MG

2022

“Pedem-me para curar seres humanos; no entanto, durante 75% do tempo, constato minha ineficácia. Seria necessário curar, também, a vida dessas pessoas.”

Pierre  Gaspar. L’Asile [O asilo]

Vitor Celestino Cardoso

RESENHA CRITICA: o caso Marie L.

Trabalho acadêmico apresentado ao curso de Psicologia, do Instituto Cultural Newton Paiva Ferreira LTDA, do Centro Universitário Newton Paiva, como requisito parcial para a obtenção da média semestral.

Àrea de Concentração: Psicologia e Saúde Mental no Trabalho

Orientador (a): Saulo Rodrigues de Moraes

BELO HORIZONTE – MG

2022

Resenha crítica com teor do texto “O Caso Marie L.” nos escritos de Louis Le Guillant (1900-1968), baseando-se em interlocuções teóricas, críticas, análises, e levantamento de hipóteses.

RESENHA CRÍTICA - O CASO MARIE L.

Nas diversas discussões expostas nas aulas de Psicologia e Saúde Mental no Trabalho, com apresentações de ideias sobre a Centralidade do Trabalho decorrentes no campo de Saúde Mental e as causas de sofrimento mental nesta sociedade, podemos trazer por aqui alguns argumentos, ilustrações e diversas situações da congruência entre o adoecimento mental e determinadas condições de trabalho que ainda é difícil de ser reconhecido na sociedade contemporânea.

Consoante, sabemos que o trabalho ocupa um espaço fundamental nas relações cotidianas do homem, porém, a atividade profissional, muitas vezes, é vista como peculiar na vida pessoal, não sendo considerado que esta é indivisível das relações sociais que permanece a partir do próprio trabalho. Essas perspectivas nos parecem reducionistas, pois traduzem, na verdade, formas oblíquas de se considerar o adoecimento no trabalho, uma vez que nas sociedades em que predominam interesses conflitantes entre classes, seus aspectos subjetivos e objetivos por meios de prover a satisfação das necessidades humanas, tem início há uma divisão social do trabalho desigual, como também dos produtos do trabalho.

Entende-se, com o desenvolvimento do capitalismo e o advento das grandes indústrias, o modo de produção alcançou escalas nunca antes vistas, pois o trabalho no capitalismo sempre usufruiu um sentido determinado, a valorização do valor e a produção incessante ao lucro. Nesse sentido, sob a condução do capitalismo, o ser humano não proprietário dos meios de produção, é constrangido a se sujeitar às exigências da burguesia, oferecendo a sua única propriedade, sua única mercadoria, que é a força de trabalho, em troca de salário, isto é, o que vai lhe permitir acessar o necessário à manutenção de sua vida para sobreviver.

E por se tratar de uma sociedade em que o trabalho é desumano, degradante e subjugada pelos interesses de uma burguesia, as causas do adoecimento são estreitadas, onde a saúde possui um discurso reduzido a fatores isolados e dissociados da vida em sociedade, reduzidas ao mero acaso, assim, a humanidade direcionou-se que as lutas tomaram fôlego em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Entre a relação do modo de produção capitalista e as causas de sofrimento mental nesta sociedade, o grande psiquiatra francês Louis Le Guillant (1900-1968), questionava a Psiquiatria de seu tempo, apresentando estudos sobre a saúde mental dos trabalhadores, ao perscrutar as condições a que estavam submetidas as telefonistas, empregadas domésticas e condutores de trem na sua época. Tendo sido um dos membros mais importantes do movimento denominado Psiquiatria Social, que surgiu na França a partir de 1945 logo após a Segunda Guerra Mundial. Durante esse movimento, o psiquiatra criticou em seus estudos a forma como o trabalho era organizado no modo de produção capitalista, pois este impactava na saúde mental dos trabalhadores, relacionado aos sentimentos e sensações ligados ao desconforto e mal-estar gerados pela sociedade. Na tentativa de apreender os fenômenos na sua realidade concreta, Le Guillant destacou-se entre os teóricos que contribuíram para a construção do campo da Saúde Mental e Trabalho naquele país que, inspirados nos trabalhos de Georges Politzer, propunham que se entendesse a gênese da loucura, antes de mais nada, como uma questão social.

Dessa forma, o psiquiatra Louis Le Guillant, trazendo essa interpelação intrigante sobre o sofrimento mental dos trabalhadores e sua relação com o modo de produção capitalista, não negligenciando a presença e a pertinência dos fatores orgânicos nos distúrbios mentais, tendo por base o antagonismo entre o capital e o trabalho, considerando que o meio tem uma importância crucial no desenvolvimento do psiquismo humano e, consequentemente, na gênese da doença mental. Portanto, sua observação não estava limitada a uma concepção exclusivamente sociogênica desses distúrbios, ao contrário, ele recomendava que fosse realizado um trânsito entre uma perspectiva que idealizava os dados observados na realidade e aqueles coletados em entrevistas com os sujeitos em geral, admitindo que esse procedimento deveria ser realizado passando de uma interlocução teórica à outra, ou seja, num movimento de vai e vem constante, contrapondo que se modifica ao longo da história, mas permanece imutável em sua essência.

Desse modo, enfatizamos que as análises de Le Guillant, logo após a Segunda Guerra Mundial, ele desenvolveu uma Reforma Psiquiátrica de sua época, com a formulação da Psicopatologia do Trabalho, valorizando a história dos pacientes em relação ao trabalho. É de grande responsabilidade trazer os estudos desse autor, sobre tudo a sua coletânea de textos intitulada, Escritos de Louis Le Guillant, que se destacou no âmbito da ergoterapia à Psicopatologia do Trabalho, sendo essa só traduzida para o português, organizada por Maria Elizabethe Antunes Lima.

Na contramão da psiquiatria de sua época, Le Guilant juntamente com outros autores/pesquisadores do Centro de Tratamento e de Readaptação Social de Villejuif, inseriu em 1956 uma pesquisa sobre a neurose das telefonistas parisienses, no que diz respeito à influência das condições de vida e trabalho dos trabalhadores em sua saúde mental. O artigo “A neurose das telefonistas”, seu texto mais conhecido no Brasil, tornou-se literatura obrigatória para aqueles que pretendam atuar no campo da Saúde do Trabalhador. Este artigo busca colaborar o conhecimento da riqueza do autor, O trabalho inovador que desenvolveu com seus pacientes e a desvendar as complexas relações entre saúde mental e trabalho, uma disciplina que permite situar o indivíduo, ao mesmo tempo, no meio em que vive e na sua história real. Portanto, o referido estudo “A neurose das telefonistas”, surgiu de uma cuidadosa seleção de alguns dos melhores textos de Louis Le Guillant, publicado anteriormente na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, este que vem ser ignorado em nosso país, sendo de pouco acesso ao leitor brasileiro, já que não possuía tradução em português. Conforme os autores, elas sentem a cabeça vazia “Torna-se muito difícil, para não dizer impossível, entabular uma conversação; não suportam que alguém atreva-se dirigir-lhes a palavra. As vezes esquecem seus pertences, tomam o metrô na direção oposta e só percebem o engano no fim da linha (LE GUILLANT et al., 2006, p. 177).”

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