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Resenha do texto "Por que a guerra"?

Por:   •  27/5/2017  •  Resenha  •  2.857 Palavras (12 Páginas)  •  1.145 Visualizações

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RESENHA

FREUD, Sigmund. Por que a guerra? In: Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas, Vol. XXII. Rio de Janeiro: Imago, 2006, pág. 193 a 208.

        Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o mundo sofreu profundas transformações políticas, sociais e econômicas. Neste crítico momento da História surge a Liga das Nações, antecessora a ONU, que tinha como principal objetivo promover a paz entre os povos. A Liga e seu Instituto Internacional para a Cooperação Intelectual, em Paris, propôs a Albert Einstein (1879-1955) que convidasse uma pessoa de sua livre escolha para um franco intercâmbio de pontos de vista sobre algum assunto pertinente à conjuntura do país na época. Foi então que em 1932, às vésperas da invasão nazista na Áustria, Albert Einstein escolheu Sigmund Freud para trocarem entre si cartas sobre as origens da guerra e as possibilidades da paz entre as nações. Einstein escolheu um tema que ele julgou o mais urgente de todos e que seria um problema a ser enfrentado pela Civilização.

Albert Einstein (1879-1955) foi um físico alemão responsável pela Teoria Geral da Relatividade dentre outras descobertas durante a sua brilhante carreira científica marcando definitivamente a Ciência do Séc. XX. Ganhador de vários prêmios por sua genialidade, dentre eles o Nobel de Física (1949). Einstein era um entusiasta dos direitos humanos. Escreveu vários livros e artigos para além da Física Moderna, dentre eles “Como vejo o mundo” (1949), no qual o autor fala sobre a sua visão de mundo e sua concepção de homem. Suas grandes descobertas associaram o seu nome a gênio. Sigmund Freud (1856-1939) considerado o “pai” da Psicanálise era médico, terapeuta, pensador e construiu uma carreira sólida em Viena. Dono de uma extraordinária capacidade intelectual mudou a História da Humanidade com suas geniais e controversas teorias e técnicas psicanalíticas acerca da Concepção do Inconsciente e da relação entre “Mal-estar” e  Cultura/Civilização. As marcas registradas pelo pensamento Freudiano o incluiu  na lista dos grandes pensadores do século 20, embora suas primeiras pesquisas datem do final do século 19. Sua figura marcante virou um bordão: “Freud explica”.

 A essência do pensamento de Einstein, ao formular ao criador da Psicanálise as suas instigantes perguntas, demonstra a preocupação do grande físico, inicialmente com a ameaça constante de nova guerra: “Existe alguma forma de  livrar a humanidade da ameaça da guerra?” Destaca para o Dr. Freud, assim, que, com o progresso da Ciência de nossos dias, o tema adquiriu significação relevante nos últimos tempos tratando-se de um assunto de vida ou morte para a Civilização.

 Ao justificar o seu apelo ao famoso psicanalista, em nome das entidades de caráter social e científico que representa, o criador da Teoria  Geral da Relatividade  declara que “o objetivo habitual do seu pensamento não lhe permite uma compreensão interna das obscuras regiões da vontade e do sentimento humano”, e posiciona a sua expectativa de que Freud “proporcione a elucidação do problema mediante o auxílio do seu profundo conhecimento da vida instintiva do homem”. Einstein prossegue a sua reflexão constatando que o único meio de evitar a guerra seria a instalação de uma autoridade legislativa com condições de arbitrar as situações litigiosas. No horizonte deste pensamento, podemos identificar a então ainda existente Sociedade das Nações, e na seqüência, a ONU, instalada depois da Segunda Guerra Mundial. Outro ponto abordado pelo Físico é a questão da segurança entre os homens. Para que haja uma previsibilidade de comportamentos é necessário que as nações abdiquem, em determinada medida, à sua liberdade de ação. O gênio da Física Moderna, seguindo a linha de Thomas Hobbes (1588-1679), propõe a reestruturação da sociedade baseada num governo soberano e absoluto. Hobbes e Einstein foram homens que viveram em diferentes contextos históricos, no entanto, entenderam que para se obter a paz era preciso regular as ações humanas e que acabar com a guerra era interesse próprio dos homens para manter a Civilização e não se exterminarem até o último homem. Hobbes era um filósofo contratualista e autor do Leviatã (1651), uma das obras mais influentes já escritas sobre o pensamento político. É no Livro Leviatã que o filósofo explica sua visão sobre a natureza humana egoísta e o porquê de o homem viver em sociedade. O Leviatã, um monstro bíblico, representa um soberano que deve punir os desobedientes. A obra foi escrita no decorrer da Guerra Civil Inglesa.

A única maneira de instituir um tal poder comum[...] é conferir toda sua força e poder a um homem ou a uma assembléia de homens que possa reduzir suas diversas vontades por uma pluralidade de votos (plurality of voices) a uma só vontade (HOBBES, Leviatã, pág. 109).

A partir dessas premissas, Einstein encontrou algumas falhas, dentre elas, o poder e a manipulação, na qual uma maioria defende e luta por interesses de uma minoria. Mas o físico é também realista, sem dúvida mais que o filósofo. Ele observa que a esta sua perspectiva pacifista opõem-se os desejos de poder de todos os Estados pouco inclinados a aceitar o menor golpe à sua soberania e nota que este desejo de poder político quase sempre é a expressão de um outro, mascarado, o desejo de um poder econômico sem limites, emanando de pequenos grupos já possuidores de riquezas.

O intenso desejo de poder que caracteriza a classe governante em cada nação é hostil a qualquer limitação de sua soberania nacional. Essa fome de poder político está acostumada a medrar nas atividades, de um outro grupo, cujas aspirações são de caráter econômico puramente mercenário [...] ( FREUD, Vol. XXII, pág. 194)

Ainda seguindo suas reflexões sobre a guerra e tudo o que a circunda, o Físico reconhece outro contraponto: Porque esta minoria consegue dobrar a vontade da maioria, a qual se conforma em  sofrer ou até morrer numa situação em prol da ambição de poucos?

Parece que uma resposta  óbvia a essa pergunta seria que a minoria, a classe dominante atual, possui as escolas, a imprensa, e, geralmente, também a Igreja, sob seu poderio. Isto possibilita organizar e dominar as emoções das massas e torná-las instrumento da mesma minoria. (FREUD, Vol. XXII, pág. 195).  

Complementando, ainda, todo o ponto complexo e crucial, Einstein afirma que o desejo de ódio e destruição inerente ao homem é um enigma que só um profundo conhecedor da Ciência dos instintos humanos pode resolver. Uma vez que o condicionamento ao qual as massas são submetidas por parte das instituições, aparelhos religiosos ou de comunicação não pode se constituir numa explicação suficiente, é preciso, insiste Einstein, que haja no homem a presença de uma necessidade de odiar e de aniquilar. O que pensa a esse respeito "o conhecedor das pulsões humanas?" Este especialista conhece um meio de dirigir para outros objetivos estas pulsões negativas? Existe um meio de canalizá-las e de dar aos homens a possibilidade de resistir a elas?

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