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Terapia Focal: psicoterapia breve psicodinâmica

Por:   •  28/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  9.358 Palavras (38 Páginas)  •  2.366 Visualizações

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Terapia focal: psicoterapia breve psicodinâmica

A psicoterapia breve psicodinâmica tem sua origem na psicanálise freudiana. A terapia focal é uma modalidade de psicoterapia breve psicodinâmica que se desenvolveu, principalmente, a partir das contribuições de Ferenczi (Técnica Ativa), Alexander (Experiência Emocional Corretiva), Malan (Foco e Triângulos de Interpretação), Sifneos (Psicoterapia como experiência de aprendizado para o paciente) e McCullough (Integração de diferentes táticas terapêuticas). A terapia focal baseia-se nos conceitos de experiência emocional corretiva e efeito carambola, possuindo características técnicas específicas que a distinguem das outras psicoterapias breves psicodinâmicas.

O termo psicoterapia breve (PB) originou-se da tentativa de Ferenczi e Rank (1924) de encurtar o tempo de duração dos tratamentos psicanalíticos. Na época, era imprescindível a referência à psicanálise, por não haver outra modalidade de tratamento psicoterapêutico. Até a Segunda Guerra Mundial, a psicanálise foi utilizada quase como uma “panaceia universal” para qualquer tipo do desenvolvimento de múltiplas abordagens terapêuticas é que surgiram alternativas viáveis de atendimento psicoterapêutico. Com isso, atualmente os PBs são divididas em duas grandes linhas:

  • As de abordagem psicodinâmica, com origem nos primeiros atendimentos psicanalíticos do início do século XX – psicoterapias breves psicodinâmicas (PBPs);
  • As de abordagem cognitiva e comportamental, originadas das teorias de aprendizagem de Skinner e Thorndike – psicoterapias breves cognitivo/comportamentais (PBC/Cs).

Em um segundo comparativo de literatura, efetuado por Blagys e Hilsenroth (2000), foram identificadas sete características mais comumente enfatizadas nas PBPs do que nas PBC/Cs:

  • Afeto
  • Resistência
  • Identificação de padrões consistentes de relacionamentos, sentimentos e comportamentos.
  • Experiência passada
  • Experiência interpessoal
  • Relacionamento terapêutico
  • Desejos, sonhos ou fantasias

O desenvolvimento maior da PB ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, em um contexto no qual a população mundial era de um bilhão e seiscentos milhões de pessoas. Nos primeiros anos do século XXI, esse número chegou a mais de seis bilhões e quinhentos milhões, e o incremento populacional está à razão de um milhão de nascimentos por semana no mundo, o que provocou um aumento de demanda por tratamento psicoterápico. Atualmente, entretanto, a utilização cada vez maior de sistemas de seguro-saúde (no Brasil, cerca de 40 milhões de pessoas têm hoje seguro-saúde, por meio da rede privada) vem refletindo-se na restrição do atendimento psicoterapêutico particular a situações de crise e problemas emergenciais e, também, na diminuição da procura por psicoterapias que não possam ser cobertas pelo sistema de seguro.

No presente capítulo, são apresentadas as características e um breve histórico de PBPs, discutidas as dificuldades de trabalhos de pesquisa que são inerentes às peculiaridades da abordagem psicodinâmica e, também, explicados os fundamentos teóricos e as táticas específicas da TF. Além disso, são apresentados alguns exemplos clínicos.

Histórico

Os trabalhos pioneiros de Freud e seus seguidores foram identificados por Crits-Chritoph e Barber (1991), em livro sobre as PBPs, como fazendo parte da “primeira geração de PBPs”. Nos primeiros anos da psicanálise, os tratamentos eram bastante curtos e eficazes, mas o tratamento psicanalítico tornou-se progressivamente mais longo porque Freud abandonou sua técnica inicial, desenvolvendo uma formulação mais complexa de sua teoria. Seu discípulo, Ferenczi, propôs, então, técnicas ativas para abreviar os tratamentos psicanalíticos e, em colaboração com Rank (Ferenczi; Rank, 1924), introduziu diversos conceitos que até hoje são básicos em relação à PBP:

  • Importância dos fatos da vida atual, em relação aos da infância do paciente; conceito depois desenvolvido por Alexander (1946);
  • Importância de fixar-se uma data para o término do tratamento, a fim de criar a possibilidade de trabalhar as questões ligadas à separação; posição desenvolvida posteriormente por Mann (1973);
  • Importância do nível de motivação do paciente para mudança; considerado por Sifneos (1972, 1989, 1993) como elemento essencial para o tratamento, desde quando iniciou seus estudos sobre psicoterapia breve, no final da década de 1950.

Crits-Christoph e Barber incluem também Alexander nesta “primeira geração da PBP”, composta basicamente por psicanalistas. No livro Psicoterapia Breve: A Técnica Focal, Alexander é descrito como o “fundador” da PBP, por ter criado o conceito de experiência emocional corretiva (EEC), e Ferenczi, como o “pai” dessa abordagem, por ter ousado lançar sua proposta da técnica ativa na ocasião em que Freud propunha abstinência e neutralidade (Lemgruber, 1984).

        A EEC foi rechaçada por várias décadas e injustamente desvalorizada na área das psicoterapias psicodinâmicas na época em que foi apresentada, possivelmente por reatância em função da posição muito inovadora de Alexander. Ele sugeriu, inclusive, que seu modelo terapêutico, denominado reeducação emocional, fosse considerado como a “quinta etapa da evolução da psicanálise”, sendo as fases anteriores: hipnose catártica, sugestão em estado de vigília, associação livre e neurose transferencial. Os estudos de psicologia social demonstram que, quando uma nova ideia é apresentada de forma totalmente oposta e contrária às nossas crenças e valores arraigados, a tendência é provocar uma reatância pela oposição firma às novas propostas, a fim de se preservar os valores preestabelecidos (Rodrigues, 1979). Hoje, sabemos que a proposta de Alexander era a de uma abordagem terapêutica inovadora e diferente, que viria a ser o fundamento da técnica atual da TF.

        A “segunda geração de PBP” surgiu com as propostas de Malan (1979, 1981), Mann (1973), Sifneos (1972, 1989, 1993) e Davanloo (1982). Ainda de acordo com os critérios de Crits-Christoph e Barber, a “terceira geração da PBP” corresponderia às abordagens psicodinâmicas que desenvolveram manuais de tratamento, especificando os detalhes do processo terapêutico. Esse tipo de manual foi originalmente criado para as terapias comportamental cognitiva. Os primeiros manuais com abordagem psicodinâmica foram o de Luborsky, como uma espécie de codificação dos princípios básicos da sua técnica de apoio-expressiva (1984), e o de Strupp e Binder (1984).

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