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A Astrologia De Um Ponto De Vista Diferente

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Por:   •  31/3/2014  •  9.390 Palavras (38 Páginas)  •  530 Visualizações

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O LUGAR DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO NA CONSTITUIÇÃO DOS GRUPOS PROFISSIONAIS

Grande parte das análises desenvolvidas na área da Sociologia das Profissões tem destacado a importância do conhecimento científico enquanto elemento estruturador das profissões modernas e recurso indispensável para a legitimação da autoridade profissional. Tendo como referência o papel funcional que o saber profissional desempenha nas sociedades modernas ou o grau de abstração do conhecimento, o fato é que a maioria dos analistas sociais trabalha com a idéia de que o sucesso no processo de organização das ocupações e sua transição para o campo profissional estão diretamente ligados à forma como é estruturado o conhecimento que se deseja monopolizar. Os estudos na área das profissões tendem a destacar o caráter científico do conhecimento como principal recurso no processo de institucionalização da profissão, o elemento essencial para a aquisição de autoridade e inserção na hierarquia posicional vigente dentro do campo profissional.

De fato, é bastante pertinente frisar a importância que a estruturação do conhecimento com base na racionalidade científica exerce sobre o processo de consolidação do grupo profissional, pois sabe-se que nas sociedades modernas, a ciência tem funcionado como um dos recursos mais eficazes para a legitimação da autoridade. O problema aparece quando, nas análises, o conhecimento científico sobrepõe-se e relega a segundo plano — quando não exclui — uma série de outros recursos que têm peso qualitativo equivalente no processo de construção da profissão. Quando isto ocorre, é como se o conhecimento esgotasse em si todas as possíveis estratégias utilizadas pelos grupos ocupacionais, no sentido de se consolidarem como profissões. Ou seja, se o conhecimento específico não é estruturado em uma base científica, as possibilidades de transposição para o campo profissional ficam praticamente reduzidas a zero. Nas análises que seguem essa perspectiva, o que vemos com freqüência é uma sobrevalorização dos aspectos técnico-formais em detrimento da dinâmica social que impulsiona o movimento de transição em direção à profissionalização. Essa dinâmica social que emerge no grupo ocupacional é peça indispensável para entender o próprio processo de estruturação do seu saber específico, com base no modelo vigente na área de conhecimento no qual procuram inserir-se.

Para colocar em prática essa proposta analítica, escolhemos trabalhar com a astrologia, ocupação cujo conhecimento é considerado, pela comunidade "profissional-científica", como algo que paira entre a "penumbra do misticismo" e a "fluidez da religião". Para muitos, pode parecer estranho optar por um grupo ocupacional tão atípico e cujo conhecimento se distancia, em grande parte, do modelo vigente no campo profissional. Mas, como tentaremos mostrar, essa escolha, em princípio estranha, tem a vantagem de trazer a análise da dinâmica social para primeiro plano, uma vez que o conhecimento monopolizado por esse grupo, não sendo aceito como parte integrante do modelo de saber legitimado no campo profissional, não pode ser considerado o elemento explicativo central do processo de institucionalização e regulamentação da astrologia. Em vista da posição marginal atribuída ao saber astrológico, em função da sua distância em relação ao conhecimento científico, não há outra maneira de entender o processo de institucionalização e regulamentação da astrologia senão através da dinâmica social que se estabelece dentro desse grupo ocupacional.

Ao estudar o processo de institucionalização da astrologia, buscamos romper com o determinismo científico que vem predominando nas análises sobre profissões que, ao privilegiarem o caráter científico do conhecimento como fonte principal de aquisição de poder e autoridade, deixam em segundo plano a análise da dinâmica social que está por trás da construção do conhecimento estruturado e também a luta pela criação de uma nova profissão. É justamente essa dinâmica social que nos interessa, ou seja, a perspectiva propriamente sociológica do surgimento de uma nova profissão. Não há, portanto, uma tentativa de verificar o grau de cientificidade ou de abstração do conhecimento astrológico para "medir" seu potencial de inserção no campo profissional geral. O que se objetiva é estudar o movimento dos agentes no sentido de monopolizar recursos e traçar estratégias que permitam a criação e a delimitação da profissão, bem como a estruturação do seu conhecimento com base no modelo adotado pelo(s) campo(s) de conhecimento ao qual pretende(m) filiar-se.

É preciso deixar bem claro que não estamos negando a importância do conhecimento racional-científico enquanto recurso importante para a consolidação da profissão e sua inserção no sistema formal de ensino. O que estamos tentando fazer é demonstrar que o conhecimento racional-científico é algo que necessita, para sua consolidação e legitimação, de um trabalho de construção social que defina o que seja racional-científico. Esse processo de construção social aparece em dois momentos diferentes. No primeiro, os agentes trabalham para estabelecer os critérios que determinam o que é o conhecimento científico. Uma vez definidos esses critérios, os agentes devem tentar adaptá-lo de maneira tal a alcançar o maior grau de correspondência com os critérios já consolidados. Trata-se, portanto, de um processo isomórfico1, em que o que está em jogo não é o conteúdo substantivo do conhecimento mas sim o trabalho de transformação e adaptação deste à forma através da qual é estruturado o modelo de conhecimento legítimo no campo profissional.

Ao adotar essa perspectiva, ou seja, mais sociológica e menos cientificista, é necessário deslocar a análise da medida do grau "real" de cientificidade do conhecimento para o estudo da ação dos agentes, no sentido de potencializar o grau de correspondência entre seu conhecimento específico e o conhecimento legítimo no campo. Não é o caso de se tentar estabelecer uma hierarquia científica no campo mas sim compreender de que maneira o conhecimento vem sendo adaptado de forma a incluir elementos inseridos no modelo vigente.

Estudar o processo de construção do modelo legítimo de conhecimento científico dentro do campo profissional não é o objetivo deste artigo. O que pretendo analisar são as estratégias utilizadas pelos astrólogos, especialmente aqueles com orientação mais voltada para o mercado, para convencer seus pares, o público consumidor potencial e a comunidade profissional de que a astrologia é uma ocupação apta a se

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