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Epistemologia De Kuhn

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Por:   •  17/9/2014  •  4.127 Palavras (17 Páginas)  •  265 Visualizações

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Cad.Cat.Ens.Fis., v.13,n3: p.184-196, dez.1996. 184

A EPISTEMOLOGIA DE KUHN

Fernanda Ostermann

Instituto de Física, UFRGS

Porto Alegre Rs

Resumo

Neste trabalho, é apresentada a epistemologia proposta por Kuhn, a

partir de alguns conceitos principais de sua teoria: paradigma, ciência

normal, revolução científica, incomensurabilidade. O modelo kuhniano

encara o desenvolvimento científico como uma seqüência de períodos

de ciência normal, nos quais a comunidade científica adere a um

paradigma. Estes períodos, por sua vez, são interrompidos por

revoluções científicas, marcadas por crises/anomalias no paradigma

dominante, culminando com sua ruptura. A crise é superada quando

surge um novo candidato a paradigma. Ao comparar o antigo e o novo

paradigma, Kuhn defende a tese da incomensurabilidade. Algumas

implicações de suas idéias para o ensino de Ciências são também

discutidas.

I. Introdução

O trabalho de Thomas Kuhn (1977, 1978) é um marco importante na

construção de uma imagem contemporânea de ciência. Suas idéias sobre o

desenvolvimento científico são precursoras - a primeira edição de seu primeiro livro A

estrutura das revoluções científicas é de 1962 - época na qual autores como Lakatos

(1989) e Feyerabend (1989) ainda não haviam publicado suas obras principais, e

Popper (1972) não tinha sido traduzido nos países de língua inglesa.

Ao propor uma nova visão de ciência, Kuhn elabora críticas ao positivismo

lógico na filosofia da ciência e à historiografia tradicional. Em síntese, esta postura

epistemológica superada pelo modelo kuhniano acredita, entre outras coisas, que a

produção do conhecimento científico começa com observação neutra, se dá por

indução, é cumulativa e linear e que o conhecimento científico daí obtido é definitivo.

Ao contrário, Kuhn encara a observação como antecedida por teorias e, portanto, não

neutra (apontando para a inseparabilidade entre observações e pressupostos teóricos),

185 Ostermann, F.

acredita que não há justificativa lógica para o método indutivo e reconhece o caráter

construtivo, inventivo e não definitivo do conhecimento. Esta posição, mais tarde,

configurar-se-á como o que existe de consenso entre os filósofos contemporâneos da

ciência. Em verdade, nos dias de hoje, assistimos a um rico e controvertido debate entre

os diferentes modelos de desenvolvimento científico (modelos como o de Popper

(1972), Lakatos (1989), Feyerabend (1989), Toulmin (1972), Laudan (1977), entre

outros), mas, ao mesmo tempo, podemos reconhecer que cada um, a seu modo,

representa uma oposição à postura empirista-indutivista.

Em particular, para Kuhn a ciência segue o seguinte modelo de

desenvolvimento: uma seqüência de períodos de ciência normal, nos quais a

comunidade de pesquisadores adere a um paradigma, interrompidos por revoluções

científicas (ciência extraordinária). Os episódios extraordinários são marcados por

anomalias / crises no paradigma dominante, culminando com sua ruptura.

Um possível esquema para o modelo de ciência kuhniano seria o seguinte:

Fig. Erro! Argumento de opção desconhecido.: O modelo kuhniano

Cad.Cat.Ens.Fis., v.13,n3: p.184-196, dez.1996. 186

A seguir, discutiremos os conceitos centrais da teoria de Kuhn apresentados

na Fig. 1, mais detalhadamente.

II. Paradigma

Certamente, paradigma é o conceito mais fundamental de sua teoria. No

entanto, após a publicação do Estrutura das revoluções científicas , grande polêmica

instalou-se em torno de seu significado. Em 1965, quando é realizado o Seminário

Internacional sobre Filosofia da Ciência em Londres - evento marcante para a

discussão do tema - Kuhn recebe várias críticas.

Masterman (1979), por exemplo, constatou a ambigüidade apresentada pela

palavra paradigma na sua primeira obra: o termo fora utilizado por Kuhn de vinte e

duas maneiras diferentes. Reconhecendo as confusões induzidas pela apresentação

original, Kuhn esclarece seu significado no Posfácio - 1969 (Kuhn, 1978).

O termo paradigma tem um sentido geral e um sentido restrito. O primeiro

foi empregado para designar todo o conjunto de compromissos de pesquisas de uma

comunidade científica (constelação de crenças, valores, técnicas partilhados pelos

membros de uma comunidade determinada). A este sentido, Kuhn aplicou a expressão

matriz disciplinar . Disciplinar porque se refere a uma posse comum aos praticantes

de uma disciplina particular; matriz porque é composta de elementos

...

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