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A FÁBULA DOS PORCOS ASSADOS

Por:   •  11/8/2016  •  Pesquisas Acadêmicas  •  1.505 Palavras (7 Páginas)  •  333 Visualizações

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A FÁBULA DOS PORCOS ASSADOS

Certa vez... aconteceu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, que acabaram assados pelo fogo... Os homens, acostumados a comer carne crua, experimentaram e acharam deliciosa a carne assada. A partir daí, toda vez que queriam comer porco assado... incendiavam um bosque... Isso aconteceu, até que alguém achou algo que podia revolucionar o sistema...                                                                          

Mas antes vejamos...  Fazia tempo que as coisas não iam lá muito bem no sistema.  Às vezes, os animais ficavam queimados demais e às vezes parcialmente crus. O processo preocupava muito a todos, porque se o sistema falhava, as perdas ocasionadas eram muito grandes. Afinal, eram milhões os que já se alimentavam da carne de porco assada e também, eram milhões os que se ocupavam com nobre tarefa de assá-los. Portanto, o sistema simplesmente não podia falhar... Curiosamente, quanto mais crescia a escala da atividade, mais apareciam  falhas, perdas e externalidades (efeitos indiretos que alguns críticos, maldosamente, teimavam em dizer que eram advindas do sistema) ... Em razão de inúmeras deficiências, avolumavam-se as queixas...   Já era um clamor geral a necessidade de reformar mais profundamente o sistema... Escolas, cursos, congressos,  seminários e conferências passaram a ser realizados cada vez mais frequentemente, para buscar soluções para cada um dos problemas que iam surgindo.                            Parece entretanto que não acertavam no melhoramento dos mecanismos, das tecnologias e das técnicas... Assim, no ano seguinte, repetiam-se os congressos, seminários e conferências, e o sistema ficando cada vez mais intrincado. Alguns adversários do sistema, achavam que essa complexidade não podia ser interpretada como sua grande qualidade.
As principais causas dos fracassos do sistema, segundo alguns especialistas, eram atribuídas à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, ou à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou ainda às arvores, ora excessivamente verdes ora muito secas, ou à umidade da terra ou ao Serviço de Informações Meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento, a freqüência e  a intensidade de chuvas, calmarias ou vendavais. As causas eram, como se podia ver, difíceis de se determinar... Na verdade, o sistema para assar porcos ficava cada dia mais complexo. Não era para qualquer um, mesmo! Foram montadas grandes estruturas, com maquinário diversificado, profissionais dedicados exclusivamente a acender o fogo e mais, os incendiadores eram também especializados (“Incediadores da Zona Norte”, da “Zona Oeste” etc, “Incendiadores Noturnos” e “Diurnos” (com sub-especialização “Matutina” e “Vespertina” – “Incendiador de Verão”, de “Incendiadores de Inverno” etc... Haviam também especialistas em ventos - os “Anemotécnicos”... Havia um Diretor Geral de Assamento e Alimentação Assada... Havia um Diretor de Técnicas Ígneas (com seu Conselho Geral de Assessores); Um Administrador Geral de Reflorestamento; Uma Comissão de Treinamento Profissional em Porcologia; Um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias (ISCUTA), além do famoso Bureau Orientador de Reforma Igneooperativas.
Havia sido projetada e encontrava-se em plena atividade a formação de bosques e selvas, de acordo com as mais recentes técnicas de implantação, priorizando-se as regiões de baixa umidade e onde os ventos não sopravam mais que três horas seguidas. Eram milhões de pessoas trabalhando na preparação dos bosques... que logo eram incendiados. Havia um corpo de consultores internacionais, especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e suas sementes, capazes de fornecer o fogo mais potente ... Haviam grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, além de mecanismos sofisticados para deixá-los sair apenas no momento oportuno... direto para o fogo. Foram formados centenas de professores especializados na construção dessas instalações de ponta. Pesquisadores renomados trabalhavam para as universidades, para que os professores fossem especializados na construção das instalações para porcos. Fundações de amparo, apoiavam os pesquisadores que trabalhavam para as universidades, que preparavam os professores especializados no aperfeiçoamento e construção das instalações para porcos ... As soluções mais modernas do último congresso sugeriam, por exemplo, aplicar triangularmente o fogo depois de atingida determinada velocidade do vento, soltar os porcos 15 minutos e 30 segundos antes que um incêndio de médias proporções na floresta, atingisse 47° graus, posicionando ventiladores gigantes em direção oposta à do vento, de forma a dosar e conduzir tecnicamente o fogo. Não é preciso dizer que, nem sempre os especialistas estavam de acordo entre si, sendo que cada um embasava suas idéias em dados e pesquisas científicas específicas, setorizadas.

  Um belo dia... um incendiador categoria AB/SODM-VCH (ou seja, tecnicamente classificado de Acendedor de Bosques Especializado em Sudoeste Diurno, Matutino, com Bacharelado em Verão Chuvoso), chamado João, apareceu com uma idéia diferente, dizendo que os problemas do sistema poderiam ser mais facilmente resolvidos. Sua idéia basicamente, consistia em primeiro lugar, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando então os pedaços sobre uma armação metálica localizada acima de brasas, revirando-os periodicamente, até que o efeito do calor - e não as chamas - assasse a carne...                                 Tendo sido informado sobre a idéia “escalafobética” do funcionário, o Diretor Geral de Assamento ordenou que o chamassem imediatamente até o gabinete da diretoria. Assim, depois de ouvi-lo com certa impaciência, disse-lhe: "Tudo o que o senhor disse pode estar muito bem, pode até dar certo, mas não vai funcionar na prática... Senão vejamos: O que o senhor faria, por exemplo, com os nossos profissionais Anemotécnicos, caso viéssemos a aplicar a sua teoria? Onde seriam empregados todos os conhecimentos dos Acendedores das diversas especialidades?". "Não sei", disse João.  “E os Especialistas em Sementes? E os Técnicos em árvores importadas? E os Desenhistas de Instalações para Porcos, com suas modernas máquinas purificadores automáticas de ar?". "Não sei" disse João. "E os Anemotécnicos, que levaram anos especializando-se no exterior, e cuja formação custou tanto dinheiro ao nosso país? Vou mandá-los limpar e cortar porquinhos? E os conferencistas, cientistas e estudiosos, que ano após ano tem trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramento do Sistema? Que faço com eles, se esta sua solução realmente resolvesse tudo? Heim?". "Não sei", repetiu João, encabulado. "O senhor percebe agora, que a sua idéia não vem ao encontro daquilo de que necessitamos? O senhor não vê que se tudo fosse tão simples assim, nossos especialistas já teriam encontrado esta solução há muito tempo atrás? O senhor com certeza, compreende que eu não posso simplesmente convocar os Anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas (sem chamas) sob pedaços de carne! O que o senhor espera que eu faça com os quilômetros e quilômetros de bosques já preparados, cujas arvores não dão frutos e poucas folhas para dar pouca sombra? Vamos, diga-me?". "Não sei, não, senhor", disse o cismado João. "Diga-me, os nossos três famosos engenheiros em Porcopirotecnia, o senhor não considera que sejam personalidades científicas do mais extraordinário valor?". "Sim, parece que sim". "Pois então? O simples fato de possuirmos valiosos engenheiros em Porcopirotecnia e em todos ramos do saber, indica que nosso sistema é muito bom, moderno e de ponta. Exemplo para o planeta. O que eu faria com indivíduos tão importantes para o nosso pais?" "Sei não" resmungou o João. "Viu? O senhor tem que trazer soluções para certos problemas específicos, por exemplo: Como melhorar as anemotécnicas atualmente utilizadas (sua especialidade, afinal). Como obter mais rapidamente Incendiadores de Oeste (nossa maior carência);  ou Como construir instalações para porcos, com mais de sete andares, para reduzir o custo do transporte? Temos que fazer reformas para melhorar o sistema e não transformá-lo radicalmente. O senhor João entende? Ao senhor, falta-lhe sensatez!".  "Realmente, eu estou perplexo!", respondeu João cabisbaixo. "Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia por aí dizendo que sua idéia pode resolver tudo. O problema é bem mais sério e mais complexo do que o senhor imagina. Agora, cá entre nós: Devo recomendar-lhe que não insista nessa sua idéia tão radical. Isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo. Não por mim, o senhor entende? Eu falo isso para o seu próprio bem, porque eu o compreendo, entendo perfeitamente o seu posicionamento, mas o senhor sabe que pode encontrar outro superior menos compreensivo, não é mesmo?".

O João coitado, não falou mais um "a". Sem despedir-se, meio atordoado e meio assustado, com uma sensação de estar caminhando de cabeça para baixo, saiu de fininho... e ninguém nunca mais o viu...

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