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Como a ciência vira técnica de investigação

Por:   •  24/4/2017  •  Projeto de pesquisa  •  14.357 Palavras (58 Páginas)  •  162 Visualizações

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Como a ciência vira técnica de investigação:

A imagem matemática do mundo.

                                                                                                                                                        Um pesquisador, eu? Oh não use a palavra!_                

Sou somente pesado _ de muitos quilos!

                                         Eu caio, caio sem parar

E enfim chego ao fundo!

(Nietzsche, Gaia Ciência)

Introdução:

Nietzsche já anunciava, na virada do século retrasado, o peso de sua época e das épocas que se seguiriam. Mas como? De onde provém o peso de nossa era? O peso dizia, e ainda diz respeito ao que se deve ter e produzir, diz respeito aos mandamentos do conhecer moderno; diz respeito a tudo o que se pode, e não se pode mais jogar fora; mais que isso, o peso eqüivale ao novíssimo empreendimento do conhecer, aquele tornado pesquisa e investigação. A pesquisa vale o quanto pesa, o quanto calcula e produz. A questão não é tanto responder o quanto pesa a ciência ou se os cientistas suportam o peso de suas ciências,  a questão primordial  traduz-se em saber quem percebeu e perceberá, em meio a um mundo tão pesado, que este peso é tão vazio?

As palavras de ordem: pesquisar, investigar, avançar, sucesso. Palavras que não pertencem somente aos ditames da ciência moderna, elas pertencem também a todos os outros modos de ser da modernidade, compreendendo aqui, desde já, que todos os outros modos, foram de alguma maneira dominados, ou melhor, fundados a partir mesmo do modo de ser científico. No mundo moderno, digo com isso, na era moderna, era da qual ainda fazemos parte, tudo necessita ser radical, implícito ou explicitamente, científico. É o que denuncia Husserl em sua Krisis, Ortega no ensaio Em torno a Galileu, e Heidegger, em muitos escritos, porém, de forma mais específica nos escritos: O tempo da imagem no mundo e em <O que é uma coisa?>.

  Husserl questiona, filosófica e historicamente, de que maneira, o projeto científico de sua época, e das épocas anteriores, pôde ter se tornado ao mesmo tempo “eficaz”, infundado e destrutivo. Heidegger questiona, também historicamente, no âmbito do questionamento da história da metafísica, qual seria a essência da ciência moderna, essência que teria fundado, em sentido amplo e ontológico, toda a modernidade. Já Ortega nos fala da problemática referente à imaginação exata, própria às ciências contemporâneas a Galileu, tal problemática diz respeito mais fortemente: à estruturação da disciplina história, e a sua busca por cientificidade, e à física moderna, aquela cujas bases foram postas por Galileu e Newton.

Para Heidegger, a essência da modernidade se identifica com o fundamento metafísico da ciência moderna. Isto significa, na visão heideggeriana, que toda a modernidade está comprometida com  os estatutos da investigação e do avançar sistemático. Em seus escritos, Heidegger nos revela que o que funda a ciência moderna,  é algo bastante singular, e, é bem distinto daquilo que funda as ciências medieval e grega. Husserl também admite a peculiaridade das ciências modernas, e mais especificamente, identifica, na história das ciências, da grega até a moderna, certos acontecimentos que considera marcantes para a caracterização da situação de crise (crise de fundamentação) das ciências.

A tese que trataremos de investigar neste trabalho (capítulo) é justamente esta: a essência da modernidade é a ciência. Cabe a nós refletir: que ciência é essa? Trata-se de compreender em Heidegger, Husserl e Ortega - o que é isso, a ciência moderna?

Perceberemos rapidamente, em nossas investigações, que a questão filosófica caminha para um questionamento mais primordial: como foi possível que o modo de ser científico fosse posto como fundamento e valor supremo do mundo moderno? As respostas de Heidegger e Husserl, (e também indiretamente a de Ortega) em certos momentos, se completam, noutros se eqüivalem e em outros se distanciam. Certo é que os três identificam como questão chave para a satisfação desta pergunta: o moderno ideal matemático das ciências da natureza. Os autores aqui investigados identificam que o projeto (ou modo de ser) matemático das ciências modernas, mais especificamente da física e da própria matemática, elucida, de maneira exemplar, a essência da ciência moderna e a própria essência da modernidade. Husserl e Heidegger, e também de forma tímida, Ortega, cada qual ao seu modo, identificam a moderna matemática, mais especificamente o moderno “modo de ser matemático”, como aquele modo responsável pela inauguração de um novo fundamento, um novo pensar, e um novo agir, para a ciência e para aquilo que se convencionou chamar, na modernidade, de investigação científica. O que está em questão: as ciências modernas foram, em sua essência, convertidas em matemática;  convertidas à manifestação bem peculiar da matemática moderna, ao seu caráter radicalmente antecipador e premeditador: o cálculo. Porém, veremos mais adiante que a questão não consiste apenas no fato da ciência moderna “calcular”, posto que a ciência antiga e a medieval também calculavam, a questão consiste em saber, “de que modo, os cálculos e medidas são aplicados e realizados, e que alcance têm para a determinação dos próprios objetos”[1] da ciência moderna.

Ortega percebe, de forma um pouco diversa, o caráter peculiar das ciências modernas, percebe que em torno de Galileu todas as ciências são construídas na primazia de uma imaginação bastante peculiar, aquela que é definida por Ortega, como sendo uma imaginação exata[2]: uma imaginação que concebe figuras, relações e deduções rigorosamente matemáticas. De forma um pouco mais complexa, Husserl percebe na sua “história da Crise das ciências”, e Heidegger identifica na  sua história da Metafísica que a essência da ciência moderna e da própria modernidade se torna visível no momento em que o “mundo” começa a ser re-apresentado, e isto, de maneira radicalmente matemática. Poderíamos dizer que, o mundo começa a tomar a forma de uma imagem matemática.

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