Resolução de Conflitos
Por: Angelamara35 • 1/7/2025 • Trabalho acadêmico • 4.108 Palavras (17 Páginas) • 11 Visualizações
FUNDAÇÃO UNIVERSITÁRIA IBEROAMERICANA
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E MEDIAÇÃO
TEORIA DO CONFLITO
CASO PRÁTICO. HISTÓRIA DE UMA GUERRA
Trabalho apresentado como forma de avaliação – caso prático - da disciplina Teoria do Conflito, para o Curso de Mestrado em Resolução de Conflitos e Mediação da Fundação Universitária Iberoamericana.
Aluna: Ângela Mara Corrêa da Silva
São José do Rio Preto – SP
2025
OBJETIVO
O presente trabalho tem por objetivo a análise do Caso Prático denominado História de uma Guerra, proposto como atividade da disciplina Teoria do Conflito (DD091), do Curso de Mestrado em Resolução de Conflitos e Mediação da Fundação Universitária Iberoamericana.
A análise do caso prático - Conflito Iraque-Estados Unidos – deve ser feita à luz das matérias ministradas pela disciplina Teoria do Conflito, abordando mais especificamente os seguintes tópicos:
a) Análise do conflito Iraque – Estados Unidos e do funcionamento de ambos os países, a parir da perspectiva de paz e de violência;
b) Análise do conflito Iraque-Estados Unidos pela perspectiva de Burton e de Galtung;
c) Descrição do ciclo do conflito entre os dois países; e,
d) Considerações Finais.
1. Análise do Conflito Iraque–Estados Unidos sob a Perspectiva da Paz e da Violência.
O conflito entre Iraque e Estados Unidos vai muito além do confronto militar. Trata-se de conflito complexo, sustentado por interesses econômicos, divergências ideológicas, choques culturais e violações sistemáticas de necessidades humanas básicas. Para análise dessa dinâmica faremos uso das teorias de John Burton e Johan Galtung, mais precisamente os estudos para a paz e a resolução de conflitos.
Com a queda do Império Otomano, o Iraque passou a vivenciar tensões internas, especialmente entre sunitas e xiitas (interpretações distintas da mesma fé), além dos curdos, etnia autônoma que anseia por autonomia. Essas divisões são importantes para compreender a instabilidade política e social do país que abriga majoritariamente muçulmanos.
Os xiitas, mais tradicionalistas, acreditam que o sucessor legítimo de Maomé seria seu primo e genro, Ali, e valorizam a figura dos imãs como guias espirituais e representantes divinos na Terra. Para eles, a revelação divina teria se encerrado com a morte do profeta, mas a liderança espiritual continuaria por meio desses imãs. Já os sunitas, mais ortodoxos, sustentam que Maomé não teria designado sucessor e que a orientação para a vida deve seguir exclusivamente o Alcorão. Eles defendem a união entre Estado e Religião como única autoridade legítima.
Embora o Iraque tenha sido historicamente governado por sunitas, o país vem passando por uma transição rumo ao xiismo nas últimas sete décadas. A invasão americana de 2003 e a subsequente queda de Saddam Hussein inauguraram o primeiro governo árabe de maioria xiita, apoiado pela coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Essa abrupta mudança de poder provocou ressentimento profundo entre a população sunita, que se sentiu excluída do governo. Esse descontentamento foi aproveitado pelo autodenominado Estado Islâmico do Iraque (EII), braço da Al-Qaeda, hoje conhecido como Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS). O grupo se apresentou como defensor dos interesses sunitas, impulsionando uma jihad defensiva contra o governo xiita e seus apoiadores estrangeiros, em especial os Estados Unidos, fomentando a instabilidade e desafiando a soberania do país.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos representam o paradigma da cultura cristã ocidental, projetando-se como modelo a ser seguido por nações consideradas inferiores seja economicamente, seja militarmente. Essa visão etnocêntrica limita a empatia realista com o Iraque e alimenta estereótipos negativos que desumanizam o “outro”, ignorando suas diversidades e qualidades.
Weber (2004), em sua análise da ética protestante do trabalho, abordou a lógica que valoriza o lucro como fim em si mesmo e acima do bem-estar humano. Segundo referido autor, a cultura do ganho, em que o ser humano é subordinado aos interesses econômicos, está arrigada na mentalidade norte-americana e legitima a postura imperialista dos Estados Unidos no conflito iraquiano, especialmente no controle do petróleo.
Considerando o poderio do Estado Islâmico, que controla vastas reservas petrolíferas e silos de alimentos no Iraque e na Síria, com uma produção estimada de 80 mil barris diários e lucros na casa de milhões de dólares, não surpreende que os Estados Unidos, guiados pela lógica do lucro, tenham negligenciado os impactos humanos, sociais e econômicos de suas operações militares, em especial sobre a população civil iraquiana.
A despeito da relevância dos motivos invocados para a manutenção da guerra, tais como a defesa da democracia, da soberania e ideais humanitários, nada justifica as centenas de milhares de mortes, incluindo civis, nem tampouco a destruição de infraestrutura essencial. Tais posturas, como alertou, Weber, demonstram a hipocrisia das virtudes do americanismo.
Apesar das enormes diferenças culturais, políticas e religiosas entre Estados Unidos e Iraque, há um ponto convergente entre eles quando adotam a paz negativa como concepção de paz. Sem considerar a justiça social, a equidade e o respeito à soberania, a paz negativa resume-se tão somente à ausência de guerra declarada.
O conceito de paz negativa, oriundo da cultura greco-romana, sustenta uma ordem internacional anárquica, onde os Estados mais fortes, como os membros da coalizão liderada pelos EUA, impõem sua vontade sobre os mais fracos, como o Iraque, gerando sempre uma cultura de submissão.
Em contraponto, o conceito de paz positiva amplia a ideia para além das fronteiras da própria guerra, incluindo justiça social, equidade e a ausência de todas as formas de violência.
Johan Galtung contribuiu significativamente para esse debate ao conceituar a violência estrutural como a opressão, exploração e submissão incorporadas nas estruturas sociais, conceito este que cai como uma luva às ações dos EUA no Iraque, algumas até mesmo autorizadas pela ONU, que culminaram em violação da soberania, controle dos portos petrolíferos e imposição de um governo xiita em país de maioria sunita.
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