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Evidências do processo de desindustrialização no Brasil e no estado de Mato Grosso do Sul

Por:   •  9/4/2016  •  Artigo  •  4.017 Palavras (17 Páginas)  •  527 Visualizações

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EVIDÊNCIAS DO PROCESSO DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO

NO BRASIL E NO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL[1]

Joel Alexandre Grégio Bezerra[2]

Athos Juliano Maiolino Lacerda de Barros[3]

Staney Barbosa Melo[4]

Resumo

        Este estudo tem como objetivo verificar evidências sobre um possível processo de desindustrialização no Brasil e no estado de Mato Grosso do Sul a partir do Plano Real (1994). Partindo das teorias de ROWTHORN & RAMASWAMY (1999), TREGENNA (2009) e NAKAHODO & JANK (2006), com base nos dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) e das Contas Nacionais do IBGE, verificou-se a presença de um processo de desindustrialização no Brasil caracterizado pela redução da participação do valor adicionado da indústria no PIB e do emprego industrial no emprego total, além de uma relativa reprimarização da pauta de exportação e evidências de “doença holandesa”. O inverso foi verificado para o estado de Mato Grosso do Sul, com aumento da participação do valor adicionado da indústria no PIB e do emprego industrial no emprego total.

Palavras-chave: Desindustrialização; Emprego Industrial; Doença Holandesa.

Abstract

        This study aims to verify evidence of a possible de-industrialization process in Brazil and in the state of Mato Grosso do Sul from the Plano Real (1994). Based on the theories of Rowthorn & Ramaswamy (1999), TREGENNA (2009) and NAKAHODO & JANK (2006), based on data from the RAIS (Annual Social Information) and the National Accounts from IBGE, it was found the presence of a de-industrialization process in Brazil characterized by the reduction in the share of value added of industry in GDP and industrial employment in total employment, relative reprimarization of the export basket and evidence of “Dutch disease”. The inverse was observed in the state of Mato Grosso do Sul, with a higher share of value added of industry in GDP and industrial employment in total employment.

Keywords: De-industrialization; Industrial employment; Dutch Disease.

  1. Introdução

        O debate sobre o papel da industrialização para o desenvolvimento econômico não é novo. No Brasil, e na América Latina como um todo, a ideia da industrialização como solução para o desenvolvimento econômico tomou corpo a partir das proposições de política econômica da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe), órgão da ONU criado no final da década de 40, que defendia que a industrialização apoiada pela ação do Estado seria a forma básica para a superação do subdesenvolvimento latino-americano (COLISTETE, 2001). Nas palavras de Celso Furtado, um dos economistas mais importantes da CEPAL e do Brasil, o setor industrial era o que podia dar maior dinamismo às economias periféricas e criar as condições para que este atingisse o desenvolvimento econômico (ETCHEGOYEN, 2009).

        As ideias cepalinas alcançaram grande sucesso no Brasil, e atingiram seu auge durante os anos 50 e 60, quando técnicos da CEPAL estiveram muitas vezes no centro das decisões econômicas do país (COLISTETE, 2001), como no caso do Plano de Metas do governo de Juscelino elaborado a partir de relatórios da comissão CEPAL-BNDE (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe; Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), que constituiu a mais sólida decisão em prol da industrialização na história econômica do país (LESSA, 1975).

        O capítulo mais recente no debate sobre o papel da industrialização para o desenvolvimento econômico diz respeito ao fenômeno conhecido como “desindustrialização” que foi observado nas últimas décadas em vários países, fenômeno este geralmente associado à perda de participação do setor industrial, e tem levantado novas hipóteses quanto à evolução industrial no futuro.

        Nesse sentido, este artigo se propõe e identificar se a economia brasileira e do estado de Mato Groso do Sul, pós Plano Real (1994), segue o caminho da industrialização ou da desindustrialização. Na seção 2 serão abordadas teorias sobre a desindustrialização, na terceira seção há um breve levantamento bibliográfico sobre as evidências do processo de desindustrialização no Brasil e na quarta seção apresentaremos dados para averiguar se há um processo de desindustrialização no Brasil e no estado de Mato Grosso do Sul a partir das teorias apresentadas na segunda seção.

  1. Teorias sobre a desindustrialização

        Para ROWTHORN e RAMASWAMY (1999), o fenômeno da desindustrialização ocorre quando há uma redução persistente da participação do emprego industrial no emprego total de um país ou região. Essa redução, que foi identificada nos países industrializados nas décadas de 1970 e 1980, é, de acordo com os autores, causada principalmente por fatores internos às economias desenvolvidas.

Esses fatores internos retomam aos escritos de CLARK (1960), que defende que o desenvolvimento econômico é explicado por uma sequência bem definida de mudanças na composição da demanda. A hipótese de Clark é que, em um país pobre, a participação dos gastos com alimentação na renda declina à medida que a renda sobe, enquanto que aumenta a participação de outros bens como os manufaturados, ao passo que o país se desenvolve, a demanda se desloca para o setor de serviços, enquanto que a participação da demanda dos bens manufaturados na renda primeiramente se mantém constante e ultimamente declina - dado que o mercado está em equilíbrio, a redução da demanda industrial indicaria o inicio do processo de desindustrialização.

Contrariamente à hipótese de Clark, BAUMOL, BLACKMAN e WOLFF (1989) apud ROWTHORN e RAMASWAMY (1999) advogam que o processo de desindustrialização nas economias desenvolvidas é nada mais do que uma consequência de seu dinamismo industrial. Uma vez que nas economias desenvolvidas a grande parte da força de trabalho é alocada no setor industrial ou de serviços, e a produtividade da indústria cresce mais do que a dos serviços, devido ao desenvolvimento tecnológico mais intenso, isso levaria, no longo prazo, a uma maior absorção de mão-de-obra em favor do setor terciário.

Em contraponto à desindustrialização movida por fatores internos, ROWTHORN e RAMASWAMY (1999) postulam a tese de que a desindustrialização pode ocorrer devido a fatores externos que estão relacionados com o grau de integração comercial e produtiva das economias, o que pode ser percebido em PALMA (2005), que defende que uma das fontes da desindustrialização é de que os países em desenvolvimento começam a atrair e implantar corporações transnacionais de multi- produto (especialmente terceirização) em um estilo montagem intensivo em mão-de-obra, essa nova divisão internacional do trabalho reduziria o emprego industrial nos países desenvolvidos, principalmente o emprego ligado à mão de obra não qualificada.

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