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A economia Politica Internacional na crise Líbia

Por:   •  1/10/2019  •  Artigo  •  4.158 Palavras (17 Páginas)  •  277 Visualizações

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A ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL NA CRISE LÍBIA

Ádria Caroline Souza da Costa

Relações Internacionais, Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)

Laura Góes Rodrigues

Relações Internacionais, Universidade Federal do Amapá (UNIFAP)

Resumo: Este trabalho tem como objetivo analisar de que maneira a crise política e humanitária, que envolve leilões públicos de escravos e a migração forçada dos cidadãos líbios, ocorrendo atualmente no país pode ser explicada pela EPI, usando como referência principal o livro Economia Política Internacional, de Reinaldo Gonçalves. A pesquisa foi desenvolvida através do método bibliográfico, explorando artigos, livros e reportagens que ajudassem a compreender o desenvolvimento desta crise e a inabilidade dos organismos internacionais em contribuir para a seu fim, além dos conflitos gerados no cenário internacional pela escravidão explícita que ascende na Líbia, as condições desumanas dos centros de detenção do país e a crise migratória para países europeus, que passam a repudiar os refugiados líbios.

Palavras-chaves: Líbia. Economia Política Internacional. Crise política.

Introdução

Há aproximadamente oito anos a Líbia vem enfrentando uma crise política e humanitária que se tornou cada vez mais complicada com o passar do tempo. Esta crise pode ser compreendida como o resultado de diversos fatores sociais, econômicos e históricos. Este trabalho tem o objetivo de analisar separadamente como esta crise se desenvolveu, a maneira como ela afeta socialmente os cidadãos líbios e outros migrantes africanos que atravessam o território para chegar ao Mar Mediterrâneo, as respostas do cenário internacional, e por fim de que maneira a Economia Política Internacional pode ajudar a esclarecer os conflitos gerados e perpetuados no território Líbio. A principal bibliografia usada neste trabalho foi o livro “Economia Política Internacional – Fundamentos teóricos e as Relações Internacionais do Brasil” de Reinaldo Gonçalves, para a análise de EPI. Para explanar a crise política e humanitária foram usados diversos artigos e reportagens jornalísticas que ajudaram a reconstituir parte da História Líbia, a gênese da crise e as repercussões internacionais.

A primeira parte do trabalho abordará a história da Líbia, desde a sua colonização até o golpe de estado dado por Muammar Kadhafi, em 2011, que instaurou uma ditatura durante mais de quarenta anos e foi o último governante legítimo antes do estopim da crise, que começou durante a Primavera Árabe. Assim como, retratará as mudanças sociais e econômicas ocorridas no país com a descoberta do petróleo, na década de 60, e após o início das revoltas e da intervenção militar ocidental, retratando de que maneira a ausência de um governo centralizado no país contribuiu para atual crise política e social.

Na segunda parte do trabalho, será explorada a crise migratória que evoluiu para uma crise humanitária devido aos abusos físicos e morais sofridos pelos imigrantes líbios e de outros países africanos, a venda explícita de indivíduos escravizados, e a falta de ação imediata para impedir essa crise. O papel de ONGs internacionais na tentativa de amenizar a crise e ajudar os refugiados também se mostra como de suma importância no contexto internacional.

Finalmente, será realizada uma análise da crise pela perspectiva da Economia Política Internacional, com base no livro de Reinaldo Gonçalves, explorando de que maneira a crise na Líbia pode ser relacionada com as asserções do autor acerca da relação entre Estado, poder e classes sociais, e como a luta de classes antagônicas por poder pode ser compreendida como uma das influências fundamentais ao conflito, tanto na sua origem e desenvolvimento quanto na sua prolongação, uma vez que a crise permanece sem previsão de fim.

História da crise política na Líbia

A Líbia, desde 1912, passou por uma intensa colonização Italiana, sendo esta exercida de maneira violenta e repressiva diante dos grupos opositores. Durante a 2° guerra mundial o país foi cedido pela ONU para ser administrado pelo Reino Unido e França. E em 1952 o país conseguiu a sua independência, sendo considerado uma monarquia hereditária, ficando assim sob o comando do Rei Idris I. Após a sua independência o país se encontrava marcado por uma luta política entre aqueles que apoiavam a monarquia e os que eram contra, este grupo incluindo principalmente os generais do exército. Nesse contexto emerge a figura de Muammar Kadhafi, líder do Conselho do Comando Revolucionário (RCC), que posteriormente assume o poder levantando a bandeira do nacionalismo árabe, e instaurando assim a República Líbia (ANONNI, FREITAS; 2012). Na década de 60 são descobertas as grandes reservas de petróleo no país, fato que irá transformar sua economia e atrair a entrada do capital estrangeiro, com a instalação de várias petroleiras ocidentais que começam a fomentar o setor do petróleo e gás, o que posteriormente permitirá o investimento em várias áreas como saúde, educação e moradia para a população, ocasionando uma transição do meio rural para o urbano (BRASIL, 2017).

Ao assumir o poder, em 1969, Kadhafi começou a governar assumindo uma postura radical e extremamente nacionalista ao tentar assumir uma posição de liderança no mundo Árabe, expulsando principalmente os italianos e judeus e confiscando seus bens, assim como nacionalizou as empresas estrangeiras. A Líbia então adota uma postura de oposição ao ocidente no Oriente Médio e na África, e Kadhafi posteriormente exige a retirada de bases militares americanas e inglesas do país (ANONNI, FREITAS; 2012).

Após o isolamento da Líbia do ocidente, o país sofreu uma série de ataques e sanções internacionais, durante as décadas de 80 e 90, que começou a fragilizar a sua economia e a piorar as condições de vida. Em 1981 caças estadunidenses derrubaram duas aeronaves militares líbias no Golfo do Sirte, região onde há grande reserva de petróleo (BOYLE, 2013). E no ano seguinte colocaram um embargo sobre a importação de petróleo da Líbia. Alguns anos depois os Estados Unidos com apoio do Reino Unido bombardearam as cidades de Trípoli e Benghazi, devido a ataques terroristas ocorridos em Berlim, que foram associados às forças de inteligência da Líbia (LEWIS, 2011).

Diante de tantas sanções internacionais impostas ao país, Kadhafi se viu obrigado a retirar o país do isolamento e assim tentou uma reaproximação das relações com as potências ocidentais, estas viram a reaproximação como necessária, devido a sua preocupação com o fornecimento do petróleo após os ataques do Iraque. A partir desse contexto de reaproximação, Kadhafi dá início na Líbia a uma série de privatizações, em busca de atrair investidores estrangeiros e grandes petroleiras, atitude que posteriormente culminará no aumento do desemprego e dos preços, e consequentemente na insatisfação popular, gerando assim protestos e levantes armados contra o governo (OLIVEIRA, 2015). Segundo aponta reportagem do G1, cerca de um terço da população Líbia vivia na pobreza e o principal apelo dos jovens era contra os altos níveis de desemprego, aumento dos preços dos alimentos e os gastos exorbitantes do governo com armamento[1].

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