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Cultura e Imperialismo - Edward Said

Por:   •  6/6/2018  •  Resenha  •  3.945 Palavras (16 Páginas)  •  504 Visualizações

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FICHAMENTO – PARTE II

JANE AUSTEN E O IMPÉRIO

Não houve na época do imperialismo resistência cultural à ideia de missão imperial. Essa era sempre baseada em um “pressuposto de atraso e inaptidão dos nativos para serem independentes, “iguais” e capazes”.

  • J.A Hobson: “Imperialismo é a expansão na nacionalidade”

Europa e empreendimento imperial: a cultura europeia validava suas preferências e defendia que essas fossem exercidas nos domínios imperiais. Foram assim criados “moldes de ideias ou reflexos condicionados” pautados nas “grandes ideias e valores humanitários promulgados pela cultura europeia predominante”

Inglaterra: A literatura inglesa antes do período de expansão territorial foi marcada pelo uso de “estratégias cuidadosas, mas eficazes: ideias positivas sobre a pátria ou lar, sobre nação e língua, ordem adequada, bom comportamento e valores morais”, essas ideias não se limitavam em validar o “nosso mundo”, mas também desvalorizar outros (o que auxilia na ação de práticas imperialistas). No entanto, é preciso que se faça um contraponto entre os “padrões dos textos ingleses sobre a Inglaterra e representações do mundo além das ilhas britânicas”.

A Inglaterra moderna antes da era imperial: “período de crise que se seguiu ao vasto cercamento das terras inglesas no final do século XVIII. As antigas comunidades rurais orgânicas foram dissolvidas e formaram-se outras novas sob o impulso da atividade parlamentar, da industrialização e de deslocamentos demográficos, mas também ocorreu um novo processo de realocar a Inglaterra (e a França na França) num círculo muito maior no mapa mundial”.

Jane Austen: De acordo com William, seu romances “expressam uma “qualidade de vida atingível”, em termos de dinheiro e bens adquiridos, feitas as discriminações morais, realizadas as escolhas certas, implementadas as “melhorias corretas”, afirmada e classificada a linguagem de delicadas nuances”. Ele justifica tal afirmação dizendo que: “O que [Cobbett] nomeia, andando a cavalo pela estrada, são as classes. Jane Austen, do interior das casas, nunca consegue enxergá-las, a despeito de sua intricada descrição social. Toda a sua discriminação é, compreensivelmente, interna e exclusiva. Ela está interessada na conduta de pessoas que, entre as dificuldades do aprimoramento, estão constantemente tentando se transformar numa classe. Mas onde se enxerga apenas uma classe, não se enxerga nenhuma classe”.

Mansfield Park (1814) – Jane Austen:

- Sobre a obra: Mansfield Park é um romance que transcorre numa Inglaterra que, para manter seu estilo de vida, depende de uma ilha caribenha. “Mansfield Park vincula as realidades do poderio britânico no ultramar à confusão doméstica na propriedade Bertram (família “imperial”) [...] Tendo lido Mansfield Park como parte da estrutura de uma aventura imperialista em expansão, não podemos simplesmente devolvê-lo ao cânone das “grandes obras-primas literárias” — ao qual sem dúvida pertence — e o deixar lá, sem mais. Em vez disso, creio eu, o romance inaugura de maneira firme, ainda que discreta, um vasto campo de cultura imperialista doméstica sem a qual não seriam possíveis as subsequentes aquisições territoriais britânicas”.

Assim como em outros romances de Austen, em Mansfield Park, “os laços de sangue não bastam para assegurar a continuidade, a hierarquia, a autoridade, tanto domésticas quanto internacionais”. Fanny Price, uma das personagens da obra, é caracterizada como: “a sobrinha pobre, a menina adotada da cidade distante de Portsmouth, a jovem honrada, recatada, negligenciada e esquecida” que precisa de uma autoridade externa que sua experiência pessoa pessoal não há fornece. Na obra, Austen apresenta dois processos aparentemente díspares, mas que na verdade são convergentes: “o aumento da importância de Fanny para a economia dos Bertram (família apresentada na obra), e a firmeza de Fanny diante de inúmeros desafios, ameaças e surpresas”.

        Quando Fanny chega a Mansfield encontra-se numa situação de ignorância frente a tal cenário, com sensação de separação, afastamento e medo, devido a seu “desenraizamento” inicial. No entanto, posteriormente, “Fanny torna-se uma espécie de consciência delegada quanto ao certo e ao abusivo. Entretanto, ela não tem poder de implementar sua incômoda consciência, e as coisas continuam à deriva, sem leme, até o súbito retorno de sir Thomas ( patriarca da família Bretoms)”.

        Quando sir Thomas volta: “Não é apenas um Crusoé pondo as coisas em ordem: é também um antigo protestante eliminando todos os traços de comportamento frívolo. Nada em Mansfield Park nos desmentiria, porém, se fôssemos supor que sir Thomas faz exatamente as mesmas coisas — em escala mais ampla — em suas “fazendas” de Antígua. Tudo o que estivesse errado por lá — e as indicações internas reunidas por Warren Roberts sugerem que estavam em pauta a depressão econômica, a escravidão e a concorrência com a França —, sir Thomas foi capaz de endireitar, assim mantendo o controle sobre seu domínio colonial. Aqui, mais do que em qualquer outra parte de sua obra, Austen estabelece uma sincronia entre a autoridade doméstica e a autoridade internacional, deixando claro que os valores associados com coisas superiores tais como a ordenação sacerdotal, o direito e a propriedade devem ter raízes sólidas na posse e no domínio efetivo do território. Ela vê com clareza que ter e governar Mansfield Park é ter e governar uma propriedade imperial em íntima, para não dizer inevitável, associação com ela. O que assegura a tranquilidade doméstica e a atraente harmonia de uma é a produtividade e a disciplina regrada da outra.”

De nossa perspectiva atual, nos é válido interpretar o poder de sir Thomas de ir e vir de Antígua como resultante da “experiência nacional emudecida da identidade, da conduta e da “ordenação” individuais”.

No decorrer da obra Fanny voltar para Portsmouth, e, nesse momento, Austen aborda a questão do que significa “estar em casa” para além do espaço. “Ela estava em casa. Mas, ai!, não era uma casa dessas, não tivera a acolhida que... ela se deteve; não estava sendo razoável. [...] Um dia ou dois mostrariam a diferença. Ela era a única culpada. No entanto, pensava que não teria sido assim em Mansfield. Não, na casa de seu tio haveria uma consideração dos tempos e estações, uma adaptação do assunto, um decoro, uma atenção a cada pessoa que não havia ali”. Austen traduz, nessa parte da obra, os riscos da insociabilidade, que, para ela, são corrigidos em espaços maiores e bem administrados.

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