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Periódico Publicado no Império do Brasil

Por:   •  26/3/2022  •  Abstract  •  23.036 Palavras (93 Páginas)  •  93 Visualizações

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CORREIO BRASILIENSE

OU

ARMAZÉM LITERÁRIO

Volume I

Londres: Impresso por W. Lewis, Comércio.

1808

Correio Braziliense

Junho, 1808.

Na quarta parte nova os campos ara,

E se mais mundo houvera lá chegara.

Camoens, C. VII e 14

Introdução

O primeiro deve ser do homem em sociedade é ser útil aos membros dela; e cada um deve, segundo as suas forças físicas, ou morais, administrar, em benefício da mesma, os conhecimentos, ou talentos, que a natureza, a arte, ou a educação lhe prestou. O indivíduo, que abrange o bem geral de uma sociedade, vem a ser o membro mais distinto dela: as luzes, que ele espalha, tiram das trevas, ou da ilusão, aqueles, que a ignorância precipitou o labirinto da apatia, da inépcia e do engano. Ninguém mais útil pois do que aquele que se destina a mostrar, com evidência, os acontecimentos do presente e desenvolver a soma do futuro. Tal tem sido o trabalho dos redatores das folhas públicas, quando estes, munidos de uma critica sã e de uma censura adequada, representam os fatos do momento, as reflexões sobre o passado e as solidas conjecturas sobre o futuro.

Devem-se a nação portuguesa as primeiras luzes destas obras, que excitam a curiosidade pública. Foi em Lisboa, na imprensa de Crasbeck, em 1649, que este redator traçou, com evidência, debaixo do nome de boletim os acontecimentos da guerra da aclamação de Dom João IV. Neste folheto se viam os fatos, tais quais a verdade os devia pintar e desta obra interessante se valeu, ao depois, o Conde da Eríceira, para escrever a história da aclamação com tanta censura e acertada crítica, como fez.

É de admirar que, sendo nós os primeiros promotores dos jornais públicos, na Europa e sendo certo, que estas publicações excitaram tanto o entusiasmo público da nação portuguesa nas guerras da aclamação, que vários oficiais de ofícios mecânicos se prestaram voluntariamente a ajudar a tropa nas diferentes batalhas de linhas d’Elvas, Ameixial e Montes Claros, recolhendo-se depois da vitória ao seio das suas famílias e ao seu lavor ordinário, até que uma nova ocasião de defesa nacional pedisse outra vez o socorro das suas armas, para a exterminação do inimigo comum. Sendo também nós aquela nação, que comprou a sua liberdade e independência com estes jornais políticos, seremos agora a única, que se há de achar sem estes socorros, necessários a um estado independente o qual poderá algum, dia rivalizar, pela sua situação local, em que a natureza pôs o vasto Império do Brasil, às primeiras Potências do mundo?

Levado destes sentimentos de Patriotismo, e desejando aclarar os meus compatriotas, sobre os fatos políticos civis e literários da Europa, empreende este projeto, o qual espero mereça a geral aceitação daqueles a quem o dedico.

Longe de imitar só, o primeiro despertador da opinião pública nos factos, que excitam a curiosidade dos povos, quero, além disso, traçar as melhorias das ciências, das artes e numa. palavra de tudo aquilo, que pode ser útil à sociedade em geral. Feliz eu se posso transmitir a uma nação longínqua, e sossegada, na língua, que lhe é mais natural e conhecida, os acontecimentos desta Parte do mundo, que a confusa ambição dos homens vai levando ao estado da mais perfeita barbaridade. O meu único desejo será de acertar na geral opinião de todos, e para o que dedico a esta empresa todas as minhas forças, na persuasão de que o fruto do meu trabalho tocará a meta da esperança, a que me propus.

Londres, 1 de junho, de 1808.

POLÍTICA

Coleção de Documentos Oficiais relativos a Portugal.

DECRETO

Do Príncipe Regente de Portugal pelo qual declara a sua intenção de mudar a corte para o Brasil, e erige uma Regência, para governar em sua ausência.

TENDO procurado, por todos os meios possíveis, conservar a Neutralidade, de que até agora tem gozado os Meus Fieis e Amados Vassalos, a pesar de ter exaurido o Meu Real Erário e de todos os mais Sacrifícios, a que me tenho sujeitado, chegando ao excesso de fechar os Portos dos Meus Reinos aos vassalos do Meu antigo e Leal Aliado o Rei de Gram Bretanha, expondo o comércio dos meus vassalos a total ruína, e a sofrer por este motivo grave prejuízo nos rendimentos da Minha Coroa: Vejo que pelo interior do meu reino marcham Tropas do Imperador dos Franceses e Rei de Itália, a quem Eu Me havia unido no Continente, na persuasão de não ser mais inquietado; e que as mesmas se dirigem a está Capital: E querendo Eu evitar as funestas consequências, que se podem seguir de uma defesa, que seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue em prejuízo da humanidade, e capaz de acender mais a dissenção de umas Tropas, que tem transitado por este Reino, como anúncio, e promessa de não cometerem a menor hostilidade ; conhecendo igualmente, que elas se dirigem muito particularmente contra a minha real pessoa e que os meus leais vassalos serão menos inquietados, alentando-me deste Reino: Tenho resolvido, em benefício dos mesmos meus vassalos, passar com a rainha minha senhora e May, e com toda a Real Família, para os Estados da América, e estabelecer-me na cidade do Rio de Janeiro, até a paz geral. E considerando mais quanto convêm deixar o governo destes reinos naquela ordem, que cumpre ao bem deles e de meus povos, como coisa a que tão essencialmente estou obrigado. Tendo nisto todas as considerações, que em tal caso me são presentes: Sou servido nomear, para na minha ausência governarem e regem estes meus reinos, o Marquês de Abrantes, meu muito amado e prezado primo; Francisco da Cunha de Menezes, Tenente General dos meus exércitos; o Principal Castro, do meu conselho e regedor da justiças; Pedro de Mello Breyner, do meu conselho, que servirá de Presidente do meu real erário, na falta e impedimento de Luiz de Vasconselhos e Souza, que se acha impossibilitado com as suas moléstias; Dom Francisco de Noronha, Tenente General dos meus exércitos e presidente da mesa das consciências e ordens; e na falta qualquer deles o conde monteiro Mor, que tenho nomeado Presidente do Senado da Câmara, com a assistência dos dois secretários, o Conde de Sampaio, em seu lugar Dom Miguel Pereira Forjaz, do Desembargador do Paço e meu Procurador da Coroa, João Antonio Salter de Mendonça pela grande confiança, que de todos eles tenho e larga experiência que eles tem sido das coisas do mesmo governo; tendo por certo que os meus reinos e povos serão governados e regidos por maneira que a minha consciência seja desencarregada; e eles governadores cumpram inteiramente a sua obrigação, em quanto Deus permitir que eu esteja ausente desta capital, administrando a justiça com imparcialidade, contribuindo os prêmios e castigos conforme os merecimentos de cada um. Os mesmos governadores o tenham assim entendido, cumpram na forma sobredita e na conformidade das instruções, que serão com este Decreto por mim assinadas; e farão as participações necessárias as repartições competentes. Palácio de nossa senhora da ajuda em vinte e seis de novembro de mil oitocentos e sete.

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