Problemas Sociais Apresentados Na Obra ‘Salvar O Fogo’

PROBLEMAS SOCIAIS APRESENTADOS NA OBRA ‘SALVAR O FOGO’ :

A obra “Salvar o Fogo” de Itamar Vieira Junior, nos apresenta personagens humildes, descendentes de indígenas e africanos que ocupam uma pequena comunidade chamada Tapera. Essas pessoas vivem no dilema da exploração da mão de obra agrária, mas garantem sua sobrevivência e de seus familiares a partir daquilo que cultivam em suas pequenas propriedades.

O segundo elemento de destaque na vida da Tapera e de seus habitantes é o mosteiro, local que também é residência dos padres e único colégio da região. O mosteiro está localizado na periferia da comunidade, mas controla e influencia as ações das pessoas. Enquanto a Tapera vive na pobreza e na miséria, os padres alegram-se com o luxo do mosteiro. Eles sabem que uma forma de garantir o domínio sobre essas pessoas é criar uma hierarquia na Tapera.

Conflitos Agrários

Os problemas no campo brasileiro se arrastam há centenas de anos. A distribuição desigual de terras desencadeia uma série de conflitos no meio rural. Um artifício muito utilizado e que desencadeia uma série de conflitos é a grilagem. Esse método é destinado à falsificação de documentos de posse da terra, em que os grileiros colocam documentos falsos em caixas fechadas com grilos até que os papéis fiquem com aparência de envelhecidos. Posteriormente, o imóvel é vendido por meio desse documento falso, ocasionando a expulsão do proprietário, que normalmente é um pequeno agricultor.

O ato de grilagem é apresentado no livro. Depois da morte de Mundinho, Luzia percebe que alguns homens estão tomando conta da terra de seu pai. Quando decide enfrentá-los, ela descobre que a terra de seu pai fora vendida por um homem desconhecido. Luzia percebe que precisará ir ao encontro desse homem para concertar o desentendido e tomar de volta a terra que por direito é sua, porém ela percebe que seus documentos não são verdadeiros, sendo assim, não poderia tomar sua terra de volta.

Abuso de poder Religioso

De modo geral, o abuso de poder religioso liga-se à realização de discursos e prática de atos, que são corrompidos com vistas a manipular ou influenciar a formação da vontade dos fiéis, e interferir em seus comportamentos. Muitos fiéis são suscetíveis aos discursos religiosos e podem ser indevidamente influenciados pela opinião e pelas sugestões do líder religioso, até por vê-lo como autoridade em matéria espiritual e tê-lo como importante referência ético-moral em suas vidas.

O abuso de poder religioso é apresentado no livro como o mosteiro, local que abriga, ao mesmo tempo, a residência dos padres e a única escola da região, situa-se à margem da comunidade, mas controla e influencia as ações das pessoas. Vemos no livro o quanto Luzia e os demais habitantes da comunidade são influenciados pelos sacerdotes que lá habitam. Os sacerdotes, com seus discursos religiosos, atribuem ao sobrenatural todas as ocorrências do povoado, além de cobrarem impostos aos habitantes da Tapera. Eis aqui o que acontece a quem não paga o imposto exigido pela Igreja:

“Mas nem todos conseguiam pagar. Acumulando dívidas ano após ano, algumas famílias iam sucumbindo ao destino de serem excluídas do convívio de sua gente. Nos sermões proferidos nas missas, e mesmo diante do orgulho dos bons pagadores, se enchiam de uma vergonha que tornava a convivência cada vez mais difícil. Por fim, quando não morriam de velhice ou de doença, deixavam a Tapera pelo rio, nos saveiros, ou pela estrada, nos velhos ônibus, como um dia aconteceria comigo.”

Referências:

Vieira Junior, Itamar. Salvar o Fogo.