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O CRESCIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DE MULHERES NA STREET ART O GRAFITE COMO EXPRESSÃO NA LUTA DE GÊNERO EM PERNAMBUCO

Por:   •  22/11/2016  •  Artigo  •  2.154 Palavras (9 Páginas)  •  414 Visualizações

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O CRESCIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DE MULHERES NA STREET ART

O GRAFITE COMO EXPRESSÃO NA LUTA DE GÊNERO EM PERNAMBUCO

Amanda Cibele Farias de Santana / Universidade Federal de Pernambuco

RESUMO

Este trabalho pretende elaborar um breve ensaio acerca da participação das mulheres no atual cenário da street art, com foco nas pinturas do grafite, tendo como parâmetro as produções das artistas recifenses. E o uso dessa forma de expressão para estampar a luta feminista com análise de algumas obras e as temáticas a que se refere.

PALAVRAS-CHAVE

Street art; mulher; feminismo; grafite.

ABSTRACT

This work aims to develop a short essay about the participation of women in the current scenario of street art , focusing on graffiti paintings, having as parameter the productions of artists Recife . And the use of this form of expression to stamp the feminist struggle with analysis of some works and the issues referred to.

KEYWORDS
Street art; woman; feminism; graffiti.

Escrever sobre as mulheres que fazem à cena na street art é simultaneamente problemático e satisfatório. Problemático, principalmente, porque quase não há informação documental sobre os trabalhos realizados. O pouco que existe consiste nas informações disponibilizadas pelos grupos por meio de redes sociais e entrevistas; atualmente, os restritos locais em que essas mulheres encontram espaços para exporem suas ideologias e divulgarem seus trabalhos. Isso evidencia a desvalorização dessa arte a partir de julgamentos que tem pelo menos dois pilares: primeiro, o existente pré-conceito com as obras da street art. Sendo esta, expressões que historicamente acontecem à margem da sociedade, e divide opiniões. De um lado reconhecida por sua qualidade artística e de outro sofrendo preconceitos que as definem como poluição visual ou até vandalismo. O segundo pilar existente, consiste por se tratar de grupos de mulheres que somam ao seu trabalho de grafitagem, o sofrimento decorrente do impacto negativo do machismo em vários outros aspectos sociais. A satisfação em escrever sobre esse tema consiste em perceber o crescimento da luta por um espaço e pelo reconhecimento dessa participação cultural e sua legitimação por parte da sociedade. E o espaço atualmente conquistado demonstra avanços significativos nesse sentido. Obviamente, pela escassez de informação e por conhecer apenas algumas dessas obras, não se tem a pretensão de realizar uma análise aprofundada sobre os trabalhos realizados. Dessa forma, é mais honesto tratar o trabalho que segue como uma série de impressões sugeridas pelas próprias obras.

A dificuldade de acesso às obras não significa que a mesma deve ser ignorada. Pelo contrário, pode servir de ponto de partida para uma discussão sobre o problema da luta de gênero que se acentuou nos últimos anos no Brasil.

Historicamente o grafite foi usado como forma de expressar toda a opressão a que o ser humano é submetido, principalmente os menos favorecidos, ou seja, o grafite reflete a realidade das ruas, expondo assim com o preconceito racial, de classe assim como a luta de gênero.

Alguns grupos, ou crews, expressão usada para denominar um conjunto de grafiteiros que se reúne para pintar ao mesmo tempo, já deixaram sua marca na história do grafite feminino no Recife. Pode-se citar as Flores crew, que começaram os seus trabalhos em 2004 e hoje podem ser vistas como o grupo mais antigo ainda atuante na cidade. Trata-se de um coletivo feminista, que atuam em vários movimentos de rua, e promovem oficinas de grafite, hip-hop e fotografia, voltados para crianças e jovens. Desenvolvem painéis de grafite retratando as lutas e resistência das mulheres e negros.

A representação da mulher

A representação da mulher negra se tornou marca registrada desses trabalhos, personagem criada por Gabi Bruce, uma das artistas que pinta há mais tempo em Pernambuco, desde 2004. Inspirada em mulheres negras, sempre com um penteado black power. “A ideia é mostrar que o cabelo da mulher negra é um universo de possibilidades” [1]. Essa personagem aparece em uma grande quantidade de murais, com várias roupagens e releituras. O destaque para essa forma valida o trabalho que valoriza a busca por representatividade e o reconhecimento da classe.  A figura da mulher negra com cabelos naturais, estampado pela cidade, traz à tona um perfil do oprimido, o registro do cabelo crespo, natural, carimba a beleza no autêntico. Como podemos ver nos trabalhos a baixo, de duas artistas, a já citada Gabi Bruce e Natalia Ferreira, de Recife, que assina suas artes com o nome Nathê. As obras, que distam mais de dez anos de suas produções, mostram o perfil caracterizado à cima, com destaque para a liberdade na pintura dos cabelos, que são tratados com criatividade e aproxima do lúdico como explica Brune: “pode ser um céu, um mar ou estrelas. A ideia é mostrar que o cabelo da mulher negra é um universo de possibilidades”[2].

[pic 1]

Gabi e Rastro (2014)

Garanhus-PE FIG

[pic 2]

Gabi Bruceno (2013)

Praia de gaibu,PE

[pic 3]

Nathê, 2015

comunidade Novo Horizonte, Barra de jangada

É possível destacar, nessas formas, os traços africanos nos rostos, a preocupação de fugir do estereótipo da mulher negra com traços europeus, que esconde por anos a fio o preconceito da sociedade.  Como fica claro no discurso divulgado na apresentação de murais pelo Poder Feminino Crew, grupo atuante na mesma vertente, em uma rede social elas declararam sobre as obras da integrante Nathê:

“Artes da nossa integrante Nathê (...), que tem o empoderamento das mulheres negras como foco dos seus desenhos e grafites. Arte subversiva, porque enxergamos que a preservação da estética afro é uma forma de resistência, auto-afirmação e subversão. Entre tantas coisas, o empoderamento da mulher negra significa assumir sua cor, seu cabelo, seus traços, sua raiz, a história de seu povo, e passar a ver tudo isso como motivo de muito orgulho e instrumento de luta, é assumir sua identidade, se amar, resgatar suas raízes e voltar pra si mesma, se empoderar é se apoderar de si.” (Poder feminino Crew, 2015)[3]

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