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A Cultura do Medo na Comunicação Social

Por:   •  11/12/2018  •  Trabalho acadêmico  •  2.598 Palavras (11 Páginas)  •  246 Visualizações

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A Cultura do Medo na Comunicação Social

RESUMO:

No nosso quotidiano existe um clima de insegurança e de instabilidade, visível em todas as áreas da nossa vida. Esta é uma realidade que não podemos desmentir.

Temos a perceção de que há uma relação, mais ou menos direta, entre essa realidade e as notícias transmitidas pela comunicação social, num mundo global onde tudo se encontra acessível a todos em tempo real. Quisemos aquilatar da veracidade desta constatação.

Para isso, procedemos ao estudo das manchetes de um jornal diário, durante um dado período de tempo, para perceber até que ponto as notícias e a linguagem que é escolhida para as veicular instilam sentimentos de medo na população.

Verificamos que a ‘cultura do medo’, conceito que explicitamos, está subjacente à linguagem das manchetes e ao seu conteúdo. Parece inquestionável a influência da comunicação social na formação das nossas opiniões e na maneira como agimos em conformidade.

 

PALAVRAS-CHAVE:

‘cultura do medo’, comunicação social, jornais

Joaquim Pedro Silva Monteiro *

pedrobaco@hotmail.com

* Aluno de Ciência Política, Universidade do Minho, Portugal, 2012  

  1. INTRODUÇÃO

O quotidiano informativo da comunicação social é preenchido com a violência, a tragédia e as políticas repressivas. Qual é a intenção subjacente a esta realidade? Por que razão as páginas principais dos jornais insinuam sentimentos de medo?

Podemos colocar várias hipóteses para responder a estas questões. Uma delas é de que as notícias são utilizadas pela comunicação social como forma de controlo da população. Outra, de que a comunicação social é um instrumento de repressão social, fomentando o medo e criando, desta forma, uma ‘cultura do medo’.

Com efeito, constatamos que, hoje, o discurso e as atitudes das pessoas são dominados pelo medo. Este facto assume uma particular importância dados os condicionalismos da crise económica que vivemos.

O medo afecta a vida e a forma como a encaramos. O medo limita a nossa ação.

O nosso trabalho pretende mostrar a forma como o medo influencia a liberdade das pessoas. Para isso, estabelecemos como objectivo entender de que forma a comunicação social potencia os sentimentos de medo, de insegurança e de instabilidade no seu quotidiano, influenciando, assim, a sua liberdade de ação.

Para atingir este objectivo escolhemos a análise da linguagem utilizada por um jornal diário, o Jornal de Noticias (JN), num determinado período de tempo, entre 1 de Janeiro de 2010 e 31 de Dezembro de 2011, para perceber se as palavras e expressões escolhidas são portadoras de significados com relevância para a nossa temática.

  1. DESENVOLVIMENTO

Ao longo da história, o poder sempre exerceu influência sobre a população. Com discursos de maior ou menor esperança os líderes políticos e religiosos pretendiam influenciar e controlar as pessoas, levando-as a adotar atitudes e comportamentos consentâneos com os seus desejos. Quando as promessas falharam, houve necessidade de inventar uma nova forma de controlo. Foi assim que surgiu a ‘cultura do medo’ que atinge todas as vertentes da nossa vida, tanto privada como pública.

Esta ‘cultura do medo’ que baliza a representação que temos do mundo, leva-nos a pensar em violência e criminalidade. Uma forma de atingir fácil e eficazmente a população é a utilização dos meios de comunicação social como instrumentos de difusão dessa cultura.

Sabemos que a história do ser humano é a história da violência. Embora, no seu íntimo, anseie constantemente por amor, segurança e felicidade, o Homem recorre sempre em primeiro lugar à violência para solucionar os seus problemas. De facto, há até várias vozes que negam por completo a capacidade humana para não o fazer. Friedrich Hacker, um importante médico norte-americano, não se coibiu de denominar o homem de “besta sem inibições” (Agression, 1973, p.17). O etólogo holandês, Niko Tinbergen, ainda assim distinguido com o prémio Nobel, definiu o ser humano como um “assassino fora de eixos” (Loc. Cit., p. 98). Na generalidade dos mamíferos encontramos muitos conflitos, lutas e gestos ameaçadores, mas poucas batalhas sangrentas e mortais. O ser humano é o único mamífero assassino e sádico (Cf. Erich Fromm, Reinbek 1977, pp. 21, 245). Nenhum macaco assassina os seus próprios congéneres. Esta característica é humana.

A violência é contagiosa como uma epidemia. Desde sempre que o homem se sente fascinado por ela e este fascínio transformou-se, mais frequentemente, em imitação do que em medo e horror. Todas as épocas, todas as sociedades criaram os seus instrumentos de tortura, violação e homicídio.

Ninguém nega que o ser humano tende a resolver os conflitos através da violência: este comportamento pode ser observado desde a infância, confirmando a exatidão desta análise. Mas esta análise não é completa. Homo hominis lupos (o homem é o lobo do homem) – razão pela qual é necessário que se proteja de si mesmo; e o Homem tem consciência disso. Exatamente porque o ser humano é perigoso, é necessário criar mecanismos de segurança, e ele fá-lo. O homem não é um ser natural que domina completamente tudo o que assegura a sua sobrevivência. Antes pelo contrário, chega ao mundo desamparado e dependente de uma aprendizagem. A educação revela-se, deste modo, como um processo central e literalmente necessário na vida humana. Através da legislação, o ser humano criou outro muro de proteção contra a sua natureza, um emaranhado de acordos necessários à manutenção da vida. A educação e a legislação não fazem do Homem uma criatura pacífica, já que ele é, como referido, diferente dos restantes mamíferos. Porém, compensa indicar-lhe os meios e os caminhos que lhe permitam desenvolver-se como um ser não violento. O pacifismo não está na natureza do Homem. Contudo, pode ser aprendido e tornar-se a sua segunda natureza.

Isto reforça ainda mais o papel da comunicação social. Ela ultrapassa a sua vocação informativa para assumir um carácter didático que reveste, perigosamente, a forma de propaganda. A ‘cultura do medo’ não remete apenas para ameaças físicas, mas também para violações de cariz social e moral.

Encontramos hoje, na sociedade contemporânea, um sentimento de medo generalizado, um medo direcionado para campos diferentes, dos mais específicos aos mais amplos e até inusitados, um medo que perpassa as relações sociais e políticas, influenciando tanto a esfera pública, como a privada. O poeta Sebastião Alba dizia “Só temos um inimigo! O medo!” (Albas, 2003, livro III), confirmando esta realidade, transformada em motivo poético.

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