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A Noção de Pessoa

Por:   •  1/10/2018  •  Trabalho acadêmico  •  835 Palavras (4 Páginas)  •  411 Visualizações

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Mauss trata da noção de pessoa como uma das categorias do espírito humano que não é inata, mas fruto de longo processo de desenvolvimento. Entende-se que em todas as populações humanas há o senso da individualidade corporal e espiritual de cada ser humano, mas não é isso que interessa ao autor. Mauss busca, por um lado, (1) entender como cada sociedade elaborou e elabora a noção do “eu” e por outro, (2) traçar o desenvolvimento da noção de “eu” contemporânea desde seus primórdios na Grécia antiga. A (1) constatação da existência de outras formas de se elaborar a noção de “eu”, porém, é submetida (2) ao segundo projeto. Do primeiro projeto, tem-se que entre aborígenes australianos e ameríndios do norte, a pessoa é entendida como um personagem que encena um papel imutável numa configuração estabelecida. É dessa noção de personagem, contudo, que nasce a noção latina de persona; então, de certo modo, Mauss parte dos dados australianos e ameríndios para prosseguir com os encadeamentos históricos que levaram à noção contemporânea do “eu” como lócus da ação e da consciência. À persona latina como fato jurídico, acrescenta-se o caráter moral impresso pela noção grega de pessoa. Foi a teologia cristã que fez da pessoa moral uma entidade metafísica una, quando resolveu que a Trindade é una, assim como as duas naturezas do Cristo. O encadeamento seguinte engendrou a noção contemporânea de “eu” como categoria.

Dumont trata em O individualismo não de indivíduos empíricos, unidades da espécie humana observáveis em qualquer sociedade, mas do indivíduo como ser moral, contraposto à sociedade, tal qual se elaborou na ideologia moderna. Por ideologia, o autor compreende as ideias e valores vigentes numa configuração. A configuração moderna destaca-se pela ideologia que deu origem ao indivíduo como ser não-social, autônomo. Como para o autor a antropologia sempre trabalha com a comparação “nós”/”eles”, a Índia serve como contraste à configuração moderna.

O autor apresenta a gênese do individualismo moderno. De certo modo, sua pesquisa completa e aprofunda a de Mauss, uma vez que ambos os autores estão interessados em se compreender como se chegou à noção de “eu” como lócus de ação e consciência (Mauss), ou de indivíduo como ser não-social (Dumont). No que tange ao cristianismo, a exposição é, esquematicamente, a seguinte: nos primórdios do cristianismo, o indivíduo-em-relação-a-deus era um indivíduo-fora-do-mundo, semelhante ao renunciante indiano. As necessidades mundanas eram englobadas por esse individualismo-fora-do-mundo. Foi dessa configuração que foi de desenvolvendo- ao longo de séculos o individualismo moderno, quando o termo englobante da relação contaminou o englobado. O ponto de inflexão se deu no século VIII, quando a Igreja Católica rompeu com Bizâncio e reivindicou domínio político sobre parte da atual Itália. O indivíduo cristão passou ao mundo, passou a ter preocupações mundanas. É com o calvinismo que o individualismo se impôs definitivamente como valor: o extramundano (a glorificação de deus) deve ser exercido no mundo, através da vontade do homem predestinado. Em suma, a passagem do holismo ao individualismo teve como ponto intermediário a relação do indivíduo-fora-do-mundo englobando as necessidades mundanas. A Igreja mediou essa passagem e chegou ao seu

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