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Leitura Crítico-analítica Do Filme "Cidade De Deus"

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Por:   •  14/9/2013  •  1.595 Palavras (7 Páginas)  •  1.199 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação

Disciplina: Pesquisa em Comunicação

Professor: Francisco Rüdiger

Semestre: 2007/02

Leitura crítico-analítica do filme “Cidade de Deus”

O presente ensaio analisará a obra cinematográfica Cidade de Deus (2002), do diretor Fernando Meirelles, com embasamento nos princípios da crítica à indústria cultural e fazendo uma leitura fundamentada no livro Theodor Adorno e a Crítica à Indústria Cultural, de Francisco Rüdiger (2004).

O filme faz parte do movimento pós-moderno, que atinge todas as artes, incluindo pois o cinema, onde temos que: o pós-moderno surge com a terceira fase do capitalismo, o Monopolista-Financeiro, e legitima uma cultura de múltiplos estilos, que passam a ser combinados, permutados e regenerados, construindo novas linguagens e novas situações artísticas (Jameson, 1997). Ainda, faz parte do Cinema Contemporâneo no Brasil, especificamente na categoria chamada Cinema da Retomada. Temos como características marcantes deste período: investir na temática social, utilizar o espaço urbano e não mais o campo, e a tentativa de criar o maior realismo possível. “O período conhecido como Retomada do Cinema Brasileiro surge com a extinção, em 1990, sob o governo Fernando Collor de Mello, da Embrafilme, e com a posterior aprovação da Lei Rouanet, em 1991, complementada pela Lei do Audiovisual, em 1993” (Lusvarghi, 2005). O primeiro filme que marca a Retomada é Carlota Joaquina (1995), de Carla Camuratti.

“O filme Cidade de Deus rompe com as obras da cinematografia anterior. [...] Foi fenômeno de público e de crítica por consolidar um projeto estético de cinematografia que se alinha às normas da indústria cultural global, e por provocar uma ruptura com padrões de discussão da realidade brasileira e do popular estabelecidos em movimentos anteriores, como o Cinema Novo, gerando polêmicas” (Lusvarghi, 2005). “Cidade de Deus estabeleceu um novo patamar de verossimilhança para o cinema nacional” – analisou Roberto Moreira, professor doutor de dramaturgia no Curso Superior do Audiovisual da ECA – USP.

A história do filme ocorre no conjunto habitacional popular dos mais violentos da Zona Norte carioca, chamado Cidade de Deus, decorrendo dos anos 60 até os anos 80. A temática gira em torno do tráfico de drogas, da violência e exclusão social. O resultado se torna satisfatório e estético para a maioria porque o processo histórico que passamos através da prática da indústria cultural (e cabe aqui dizer que um filme é um bem de consumo cultural, pois a arte se diluiu no meio da indústria cultural) fez surgir e se delinear a opção por ambientes naturais, os atores não-profissionais, a pós-produção digital, entre outras técnicas que agradam e acrescentam o sentido realista de Cidade de Deus. Ou seja, estamos tratando da construção da recepção por parte da sociedade. Assim, “as pessoas tendem a aceitar os produtos que [...] acenam com a satisfação de suas necessidades psicológicas e interesses econômicos, conforme definidas pelo sistema social vigente” (Rüdiger, 2004). Complementando, as comunicações não chegam a nós como algo estranho. A mídia leva em conta, antes de mais nada, as chances de absorção por parte dos consumidores (Música, citado por Rüdiger, 2004).

Os recursos utilizados e a linguagem diferenciada com o espectador, que caracterizam o longa-metragem em discussão, todos esses movimentos são claramente exemplos da evolução de meios estéticos, ao longo do curso histórico. Se antes não tínhamos um filme como um produto, (elaborado por uma equipe, lançado com estratégias de marketing e parcerias internacionais, no caso de Cidade de Deus) a prática da indústria cultural o tornou assim, por meio do capitalismo moderno. O cinema se firmou como a arte do século XX. Ele reflete o homem moderno e sua compreensão estética de ver o mundo. “Nada revela mais claramente as violentas tensões do nosso tempo que o fato de que essa dominante tátil prevalece no próprio universo da ótica” (Benjamin, 1996). Isto vem de encontro ao conceito de que, a crítica à indústria cultural faz parte de um programa de pesquisa cujo objetivo é decifrar a maneira como as contradições sociais acontecem e os problemas do homem moderno aparecem, através da produção de bens culturais. Para entender, assimilar e apreciar o filme, temos que conhecê-lo. Destarte, e trazendo para a área cinematográfica, Horkheimer resumiu os princípios orientadores da ciência social crítica e, a partir deles, podemos construir o conhecimento do filme:

- Estudando a formação do fenômeno (filme) e o modo de como este se insere em uma forma social, construiremos o conhecimento historicamente.

- Comparando os valores formadores do filme e o processo de criação e colocação na sociedade, construiremos o conhecimento criticamente.

- A maneira como a sociedade anima e move a formação deste filme e suas correspondentes representações: construiremos o conhecimento através da dialética.

- A análise de como o sentido do filme se relaciona com a totalidade: construiremos o conhecimento pela hermenêutica.

Cidade de Deus é um fenômeno histórico produzido pela indústria cultural, e a relação entre a obra e a resposta do público é pré-formada e pré-estruturada pelo movimento social ou tendência da sociedade em que este filme se encaixa, assim como do espectador que o recebe. A produção cultural dá forma às contradições existentes em seu meio social de origem e inserção e também figura suas possibilidades, dando face e voz ao que aquela produção ratifica através de seus recursos estéticos e criativos (Rüdiger, 2004).

A leitura crítica de Cidade de Deus nos faz entender que o filme obteve tanto sucesso de crítica e público porque trata de uma temática construída historicamente. O tráfico e comércio de drogas no Brasil e principalmente no estado do Rio de Janeiro é fator preponderante para o entendimento da realidade atual brasileira. A má distribuição de renda, a baixa interferência do Estado na saúde e na educação são os fatores que, ao longo da história do capitalismo moderno, foram construídos e sedimentados, trazendo posteriormente a exclusão social e a violência, corroboradas pela falta de

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