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O Enigma de Kaspar Hauser

Por:   •  14/4/2019  •  Resenha  •  1.890 Palavras (8 Páginas)  •  122 Visualizações

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Processo de Socialização sob a Ótica do Filme “O Enigma de Kaspar Hauser”

Introdução

        O filme “O Enigma de Kaspar Hauser” (1974), dirigido por Werner Herzog, narra a história verídica de um homem que foi encontrado em uma praça de Nuremberg, na Alemanha, no ano de 1828.

        O longa-metragem representa a luta do personagem no que compete à aquisição das primeiras experiências de vida, da fala, da representação do pensamento, de sua elaboração e da aquisição da cultura. 

Resumo do Filme

        O protagonista, Kaspar Hauser, foi um menino criado dentro de um pequeno espaço, acorrentado, sem contato com outro ser humano ou com o mundo exterior, tendo apenas a companhia de um cavalinho de madeira. O único contato que ele teve nesse período foi com o homem responsável por sua alimentação, cujo rosto não podia ser visto, que lhe ensinou a andar e a pronunciar a frase “Quero ser cavaleiro, igual ao meu pai”.

        Depois de dezesseis anos preso nesse cativeiro, Kaspar foi deixado em uma praça, na cidade de Nuremberg, com um livro de orações e uma carta escrita pelo seu “cuidador”, dirigida ao capitão de cavalaria da cidade, onde foi contada sua breve história.

        Inicialmente, Kaspar deixou a população local curiosa. Os moradores começaram a estranhar aquele jovem na praça e foram perguntar o que ela desejava. Como Kaspar não soube responder, um dos moradores decidiu levá-lo para onde a carta estava endereçada, a casa do capitão. Quando ele o recebeu, Kaspar só repetia a única frase que sabia.

        Por não ter desenvolvido a capacidade de comunicação, Kaspar foi levado para uma torre onde era comum colocarem as pessoas que estavam à margem da sociedade, e passou a viver em um estábulo sob a observação das autoridades locais.

        Seu primeiro contato em um ambiente social é com a família de um dos guardas do presídio e se dá através de seu filho, que o ensina a pronunciar algumas palavras com a ajuda de um espelho. É com essa família que Kaspar toma seu primeiro banho e aprende a usar os talheres.

        Após as autoridades locais perceberem que o jovem não representava uma ameaça, houve uma tentativa de inserção de Kaspar na sociedade. Nesta mesma época, um circo apresentando pessoas com algum tipo de anomalia física ou psíquica chegou à cidade de Nuremberg. Kaspar foi apresentado, durante o espetáculo, como uma atração local. Nessa apresentação, o professor Daumer conhece Kaspar e o leva para casa no intuito de ensinar a ele os ritos de convivência social.

        O professor, com o objetivo de inserir Kaspar na sociedade, aproxima o jovem da linguagem. Em um primeiro momento, ele mostra algo concreto com uma percepção objetiva (um sinal que estimula sensorialmente a comunicação de algo). Em um segundo momento, o professor apresenta uma representação abstrata/figurativa do concreto, como os desenhos dos objetos. O último tipo de linguagem  desenvolvida por Kaspar é a escrita, quando ele aprende uma forma de expressar uma abstração muito grande com a ajuda do alfabeto móvel.

        Esse processo se assemelha com o aprendizado de uma criança, no qual ela se apropria, pouco a pouco, nos limites de suas possibilidades reais, das significações atribuídas pelos homens às coisas. Ao longo do tempo, Kaspar passa a adquirir a capacidade de comunicação e demonstra interesse pela música, aprendendo a tocar piano.

        Ele também foi influenciado, durante seu processo de socialização, pela religião. Alguns religiosos questionaram o jovem a respeito de sua percepção sobre Deus e tentaram impor alguns dogmas, com o objetivo de fazê-lo admitir os mistérios da fé sem procurar entendê-los. Todavia, Kaspar se mostra relutante e, com sua inocência, fala para os padres que precisaria melhorar sua leitura e sua escrita para, posteriormente, compreender essas outras questões.

        Então, Kaspar passa a fazer algumas escolhas individuais. Devido seu comportamento incomum à sociedade da época, alguns moradores não o veem como integrante daquela comunidade. Nesse contexto, o jovem sofre seu primeiro atentado, no qual ele não se defende e nem pede ajuda. Machucado, procura um local escuro para se esconder e, mais uma vez, é auxiliado pelo professor Daumer, que o leva para casa e cuida para que ele se recupere.

        Depois de algum tempo, Kaspar sofre um segundo atentado, este mortal. Seu corpo é estudado e são encontradas algumas características biológicas que o difere dos demais, tais como: fígado aumentado, cerebelo altamente desenvolvido e o hemisfério esquerdo do cérebro menor que o normal. Os estudiosos  põem a culpa da falta de socialização do jovem em fatores biológicos, decifrando, segundo eles, “o enigma de Kaspar Hauser”: a explicação de todo comportamento anormal do menino estava na sua configuração orgânica.

Processo de Socialização

        Como vimos em aula e no texto “Socialização e Controle Social”, a socialização é o processo pelo qual os indivíduos passam a fazer parte da sociedade. Esse processo é contínuo e tem início na infância, desde o momento que o indivíduo nasce até sua morte.

        Alguns autores afirmam que a socialização pode ser considerada a introdução do indivíduo em uma sociedade objetiva e concreta, em que ele sai do mundo da subjetividade e o introjeta dentro dele, sendo esse processo de interiorização o responsável por construir sua identidade.

        Esse processo de construção da identidade do indivíduo é dividido em etapas. A primeira é conhecida como “jogo sem regras”, em que a criança só conhece o ambiente familiar e sua relação com os outros se baseia na imitação de suas ações. Esse ensinamento básico primário é importante e é difícil se desprender dele, permanecendo por muito tempo. A medida que a criança cresce, ela percebe que está inserida em valores socialmente construídos. Inicia-se, então, a fase do “jogo com regras”, em que o indivíduo, já mais velho, se reconhece como alguém que faz parte desse grupo social, ao mesmo tempo que  aprende os papéis sociais a partir da convivência.

        Esse primeiro momento é também conhecido como socialização primária (acontece durante a primeira infância), onde ocorre a imposição de valores ao indivíduo pela família, no qual a criança toma o mundo dos adultos como uma possibilidade única e passa a imitar aquilo que seus “criadores” fazem com bastante envolvimento emocional. A socialização secundária já é mais distanciada, e se baseia na aquisição de conhecimentos de funções específicas, no qual o indivíduo incorpora os “saberes profissionais”.

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