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Resenha Canclini

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Por:   •  7/1/2014  •  7.502 Palavras (31 Páginas)  •  565 Visualizações

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DIFRENTES, DESIGUAIS, DESCONECTADOS

Nestor Garcia Canclini

Quais são hoje as principais narrativas quando falamos em cultura:

a) a primeira é mais óbvia é a que continua a apresentar-se no uso cotidiano da palavra cultura, quando se faz com que se assemelhe a educação, ilustração, refinamento, informação ampla. Nessa linha, cultura é o acumulo de conhecimentos e aptidões intelectuais e estéticas.

b) Frente a estes usos cotidianos de cultura surgiu um conjunto de usos científicos que se caracterizaram por separar a cultura. Os dois confrontos principais ao que o termo cultura se submete são os termos natureza-cultura e sociedade-cultura. É preciso perguntar se a cultura nao seria uma espécie de sinônimo idealista do conceito de formação social. Esta maneira demasiado simples e extensa de definir cultura, como tudo aquilo que nao é natureza, serviu para distinguir o cultural do biológico ou genético e superar formas primarias de etnocentrismo. A consequência politica desta definição foi o RELATIVISMO CULTURAL: admitir que cada cultura tem o direito de dotar-se das suas próprias formas de organização e estilos de vida, mesmo quando incluam aspectos que podem ser surpreendentes, como sacrifícios humanos ou poligamia.

Para sair do esquema marxista tao elementar que só diferencia valor de uso e valor de troca, reconhecia outras duas formas de valor que denominava VALOR SIGNO E VALOR SIMBOLO.

Se considerarmos uma geladeira, ela tem valor de uso (manter alimentos) e um valor de troca (preço). Ademais tem um valor de signo, que sao consjuntos de conotações (nao é a mesma coisa uma geladeira importada e uma nacional, uma de design moderno e outra de design simples). E o valor de símbolo (por exemplo, ter uma geladeira importada pode ser comparado a ter um carro importado, ainda que os valores sejam distintos).

Mas ainda o autor BAUDRILLARD aduz que no valor símbolo o vinculado ao ritual é mais importante, como se por exemplo eu ganho por ocasião do meu casamento, que o torna nao permutável.

Esta classifacaçao de quatro tipos de valor (uso, troca, símbolo, signo) permite diferenciar o socioeconômico do cultural. Os dois últimos referem-se a cultura, ao processo de significação.

Pode-se afirmar que a cultura abarca o conjunto dos processos sociais de significação.

Ha quatro vertentes que destacam aspectos de uma perspectiva processual que considera ao mesmo tempo o sociomaterial e o significante da cultura.

A primeira tendência é a que ve a cultura como A INSTANCIA EM QUE CADA GRUPO ORGANIZA SUA IDENTIDADE, desta maneira, dizer que a cultura é uma instancia simbólica na qual cada grupo organiza sua identidade e dizer poucos nas atuais condições de comunicação globalizada.

Ha outra direção, segundo qual a cultura é VISTA COMO UMA INSTANCIA SIMBOLICA DA PRODUÇAO E REPRODUÇAO DA SOCIEDADE. A cultura nao é um suplemento decorativo, mas algo constitutivo das interações cotidianas, a medida que no trabalho, no transporte e nos demais movimentos comuns se desenvolvem processos de significação. Onde estão entrelaçados cultura e sociedade, material e simbólico.

O que é então cultura? Nao podemos retornar a velha definição antropológica que a identificava com a totalidade da vida social. Nas teorias sociossemioticas fala-se de UMA IMBRICAÇAO COMPLEXA E INTENSA ENTRE O CULTURAL E O SOCIAL.

Uma terceira linha fala da CULTURA COMO UMA INSTANCIA DE CONFORMAÇAO DO CONSENSO E DA HEGEMONIA OU SEJA, DA CONFIGURAÇAO DA CULTURA POLITICA E TAMBEM DA LEGITIMIDADE. A cultura é o cenário em que adquirem sentido as mudanças, a administração do poder e a luta contra o poder. O uso restrito da própria palavra cultura para designar comportamentos e gostos de povos ocidentais ou de elites é um ato cultural pelo qual se exerce o poder. Quando se fala de cultura popular também é.

A quarta linha fala DA CULTURA COMO DRAMATIZAÇAO EUFEMIZADA DOS CONFLITOS SOCIAIS. Por isso temos teatro, artes plásticas, canções. A eufemizaçao dos conflitos nao se faz sempre da mesma maneira nem se faz ao mesmo tempo em todas as classes.

Os processos de globalização exigem transcender o alcance nacional ou étnico do termo a fim de abarcar as relações interculturais. Se prefere considerar a cultura nao como um substantivo, mas como um adjetivo. O CULTURAL facilital falar da cultura como uma dimensão que se refere a diferenças, constrastes ou comparações, permite pensar nela como coletivo e nao individual.

Em vez de cultura (substantivo) como sistema de significados, pensamos em cultural (adjetivo) como o choque de significados nas fronteiras.

As estudar o cultural, estudamos o conjunto de processos através dos quais dois ou mais grupos representam e intuem imaginariamente o social, concebem e geram as relações com outros, ou seja, as diferenças.

A necessidade de redefinir a arte e a cultura torna-se mais clara ao identificar as mudanças de atores que geram as conceituações e as valorizações do cultural.

Nao vamos ocultar as semelhanças entre as noções de cultura em todas as etapas do capitalismo. Dentro deste modo de produção um agrande parte dos bens simbólicos sempre foi considerada como mercadoria, suas expressões mais valorizadas tiveram sentido suntuário e os comportamentos culturais operam como procedimentos para diferenciar e distinguir, incluir e excluir.

Este livro esta organizado a partir da hipótese de que os lugares atuais do cultural oscilam entre sua concepção sócia e universal ampliada na primeira modernidade, e ao mesmo tempo as exigências mercantis impostas nos últimos anos.

DIFERENTES = ETNICO, SOCIAL

DESIGUAIS = MARXISMO

DESCONECTADOS = INFORMÁTICA, COMUNICACIONAL

Uma teoria consistente da interculturalidade deve encontrar forma de trabalhar conjuntamente os três processos desta trama: diferenças, desigualdades e desconexão.

Existe uma problemática da desigualdade em que se manifesta sobretudo como desigualdade socioeconômica. Existe uma problemática da diferença, visível nas praticas culturais. Os atores dos movimentos indígenas sabem que a desigualdade tem uma dimensão cultural e os mais informados sobre a constituição das diferenças sabem que esta reside mais do que nas características culturais ou genéticas, mas em processos históricos de configuração social.

A absolutizaçao apresenta-se em dois movimentos. Por parte, distinguem-se como exclusivos dos

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