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Resenha De Troia - Ofilme

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Por:   •  28/4/2014  •  7.356 Palavras (30 Páginas)  •  369 Visualizações

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Não é possível começar este estudo sem mencionar o poema épico atribuído a Homero, a Ilíada, que é a origem do roteiro deste filme. Apesar de o poema ainda não ser meu objeto de estudo organizado, certamente o será um dia, porque é um texto muito importante da literatura ocidental.

Mesmo que seja pouco o nosso conhecimento da Ilíada, é suficiente para sabermos de algumas diferenças evidentes entre o poema e o filme.

A diferença entre a forma das duas obras é fundamental para entendermos comparativamente os limites e profundidades. O poema original é tremendamente mais rico e difícil do que o filme, que não passa no fim das contas de uma caricatura e uma sombra do poema. Não é possível que as atuações e os recursos cinematográficos substituam o poder dos versos em toda a sua riqueza lingüística. E não se pode comparar o trabalho que um leitor da Ilíada tem com o de um espectador do filme: o primeiro precisa se esforçar para captar e interpretar coerentemente os símbolos complexos, enquanto que o segundo só precisa assistir às cenas como quem assiste um fato qualquer. O espectador gasta poucas horas para passar por todo o roteiro, que evidentemente só pode pingar superficialmente nos temas centrais, enquanto que o leitor do poema poderá deliciar-se por anos na leitura da Ilíada – ou a vida inteira, sem alcançar nunca a profundidade máxima. O espectador não precisa ser especialmente competente para relatar os fatos que lhe são apresentados pelo filme, mas o leitor do poema precisa trabalhar duro na acepção simbólica, do contrário não entenderá nada desde o primeiro verso.

Apesar deste abismo qualitativo entre o filme e a Ilíada, se considerarmos apenas o filme como tal e abstermos-nos de compará-lo com o poema originário, ele pode ser julgado bom. O diretor, pelo que analisei, fez um bom trabalho de adaptação dos temas principais da história, dentro dos limites de um roteiro para filme de menos de três horas.

Observemos algumas peculiaridades.

Primeiro, o filme trata de grandes personagens apenas. São reis, heróis, generais, aristocratas, sacerdotes, etc. É uma abordagem clássica, diferente dos roteiros mais contemporâneos em que os personagens são pessoas comuns nas quais é mais fácil o espectador se identificar. Tróia está longe de tratar de personagens medíocres, a começar pelo protagonista Aquiles que despreza quase todos ao seu redor. A identificação é possível ainda. E, aliás, é sempre necessária. Com a devida tradução dos termos do filme para o nosso universo geralmente banal e medíocre, podemos nos ver no lugar de Ulisses astuto, Heitor honrado ou Páris apaixonado, apesar de que a mesma tradução já é difícil para o ousado Aquiles, o honrado Menelau ou o megalômano Agamemnom.

Segundo, estes personagens se tornam especialmente grandiosos pela ausência do elemento mitológico no filme. O poema original é repleto de referências aos deuses, e a história no fim se desenrola mais pelas paixões e disputas divinas do que pela espontaneidade dos personagens. Mas no filme, por um tratamento peculiar, os deuses foram postos de fora (ou implícitos, como prefiro supor), aparecendo apenas os personagens e seus atos. Muito do que seria então originalmente atribuído aos deuses agora é causado pelos homens.

Em torno dos grandes personagens é que se desenrolarão os temas. Cada personagem carregará seus elementos cruciais. Vejamos os elementos de maior destaque:

- a decisão de Aquiles

- a política de Agamemnom

- a paixão de Páris e Helena

- a dignidade de Heitor

E existem os duelos temáticos:

- glória de Aquiles vs. glória de Agamemnom

- amor de Menelau vs. amor de Páris

- devoção de Príamo vs. devoção de Agamemnom

Analisarei cada um destes itens, e adicionarei ainda outros que considero importantes para o bom entendimento do filme.

1. A decisão de Aquiles

Na verdade a história é originalmente sobre a ira de Aquiles, na sua disputa de poder com Agamemnom e com a morte de Pátroclo. No filme o tema da ira está acompanhado do tema da glória, e Aquiles vive este tema como uma decisão a tomar: irá ele buscar a glória futura ou uma vida livre da violência e da tragédia?

O tema do eco dos atos humanos na Eternidade é trazido desde a primeira cena do filme, e Aquiles é o personagem que lidará com este problema durante toda a narrativa. Agamemnom lida diferentemente com a glória, como poderemos ver mais adiante, pois é faminto de poder e da fama de poderoso, enquanto que com Aquiles se passa outra coisa. O mirmidão busca o heroísmo.

Na primeira cena em que Aquiles aparece já nos é fornecida uma prova do modus raciocinandi do herói sempre em torno da glória. A mando de Agamemnom, que está disputando o mando de mais um pedaço da Grécia, a Tessália, um garoto corre para buscar Aquiles, que precisa duelar com o herói da nação a ser conquistada. O garoto diz para Aquiles que o seu oponente é imenso e que não iria querer lutar com ele, ao que o herói responde: “por isso ninguém nunca se lembrará do seu nome”. De fato Aquiles já é famoso, como aparece na cena da sua chegada à luta, em que é ovacionado pelos soldados do exército de Agamemnom. “Aquiles! Aquiles!”, todos gritam. Num rápido golpe o herói mata o oponente, e desafia qualquer um a lhe enfrentar. Ninguém aceita, é claro, e o rei da Tessália lhe rende o seu domínio, fazendo questão de lhe perguntar o nome. “Eu não me esquecerei deste nome”, diz o rei.

Mas a hora de Aquiles decidir pela glória ainda não chegou. O grande momento é preparado pelas decisões de Páris e Heitor, e então Menelau e Agamemnom. Nestor convence Agamemnom da necessidade de Aquiles na guerra, e Ulisses (ou Odisseu) é convocado para servir como negociador da entrada de Aquiles na guerra.

Até então, Aquiles é mostrado como um herói eventual, irritado com as convocações de Agamemnom, mas alegre da sua vida no seu domínio, com o seu primo Pátroclo. É Ulisses quem lhe traz as notícias e com elas as novas possibilidades. Aquiles não se importa com a honra de Menelau ou com a política de Agamemnom, mas o fato é que o maior evento do seu tempo está prestes a começar, e ele precisa decidir se quer ou não fazer parte.

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