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Resenha Metodológica - Grupos Focais

Por:   •  2/6/2018  •  Resenha  •  1.769 Palavras (8 Páginas)  •  253 Visualizações

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RESENHA METODOLÓGICA – GRUPOS FOCAIS

O crescimento da utilização de grupos focais em pesquisas nas últimas décadas tem sido expressivo, tanto que até 1977 foram feitas aproximadamente trinta pesquisas com esta técnica, e em 2000 a técnica ganhou um capítulo no Handbook of Qualitative Research. A apresentação da metodologia da técnica que segue é feita baseando-se por maior parte no texto de Gondim (2003), o qual baseia-se bastante nos textos de Fern (2001) e Morgan (1997).

A abordagem qualitativa nas ciências sociais

Há duas abordagens para produzir conhecimento científico: a nomotética ou quantitativa e a hermenêutica ou qualitativa ou idiográfica. A abordagem nomotética pretende gerar conhecimento válido e universal por meio de mensuração, quantificação, busca da causalidade, do controle estatístico e de variáveis, assim aproximando a ciência social com a ciência natural. A abordagem hermenêutica não procura essa aproximação, senão admite que “o homem é capaz de refletir sobre si mesmo, e, através das interações sociais, construir-se como pessoa” (GONDIM, 2003, p. 150). A ciência social deveria criar um modelo independente da ciência natural o qual se apoia “na descrição, no entendimento, na busca de significado, na interpretação, na linguagem e no discurso, gerando um tipo de conhecimento válido a partir da compreensão do significado do contexto particular” (GONDIM, 2003, p. 150).

Nas ciências sociais há seguintes pressupostos filosóficos: positivismo e pós-positivismo, teoria crítica, construtivismo e participacionismo. Os dois primeiros pressupõem um distanciamento entre sujeito e objeto que assegura que o conhecimento apreendido seja provavelmente o verdadeiro. Os três últimos defendem que o conhecimento produzido é valorativo e ideológico.  Os pressupostos ontológicos e epistemológicos variam entre o entendimento de que a realidade que existe independentemente da consciência do sujeito, pode ser apreendida integral ou probabilisticamente; e o de que a realidade depende da consciência do sujeito, e é construída histórica e socialmente.

Segundo a abordagem hermenêutica, a experiência humana está ligada ao contexto sócio-cultural, e o pesquisador não consegue, mesmo assumindo uma posição crítica, se livrar do fato de que está envolvido no processo de pesquisa, e sua maneira de interpretar o fenômeno é contextualizada individual, social, cultural e historicamente. Na abordagem nomotética a convicção é que o pesquisador é desinteressado e crítico. Os critérios de qualidade de pesquisa também se distanciam: para abordagem quantitativa, a validade interna, a objetividade e a generalização dos resultados asseguram o status de ciência, enquanto para a abordagem qualitativa, os requisitos são a compreensão de uma realidade particular, a autorreflexão e a ação emancipatória, sendo o conhecimento do mundo um instrumento para a autoconscientização e ação humana ao invés de um fim em si mesmo. A técnica de grupos focais é classificada como qualitativa, mas há esforços para ajustar a técnica para cumprir as exigências da abordagem quantitativa.

Grupos focais: definição e caracterização

Grupos focais é definido como uma técnica de pesquisa intermediária entre a observação participante e as entrevistas em profundidade, onde coletam-se dados por meio das interações grupais quando esses grupos discutem um tópico sugerido pelo pesquisador. Outra definição é uma ferramenta para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos.

        Os grupos focais foram usados na Segunda Guerra Mundial para avaliar a persuasividade da propaganda política, a eficácia do material de treinamento de tropas, e os fatores que afetavam a produtividade nos grupos de trabalho. Mais tarde, eles ajudaram a entender atitudes de doentes, uso de contraceptivos e a interpretação das mensagens da mídia pela audiência. A diferença entre grupos focais e entrevistas grupais é no papel de entrevistador, o qual é mais diretivo nas entrevistas, e mais de facilitador nos grupos focais. O nível de análise de entrevistas grupais é indivíduo, enquanto de grupos focais ele é do grupo focal. O uso dos grupos focais depende dos pressupostos e premissas do pesquisador. Eles são usados para ajudar na tomada de decisão, autorreflexão, transformação social ou para delineamento de pesquisas futuras sobre um tema pouco conhecido.

Modalidades de grupos focais

        Fern (2001, apud GONDIM, 2003, p. 152) afirma que grupos focais têm duas orientações: a confirmação de hipóteses e a avaliação da teoria, e aplicações práticas usando os achados em contextos particulares. Estas duas orientações seriam combinadas em três modalidades: exploratórios, clínicos e vivenciais. Os grupos focais exploratórios têm sua orientação teórica voltada a hipóteses, modelos e terias, e a prática a produção de novas ideias, identificação das necessidades e expectativas, e descoberta de outros usos para um produto específico. Os grupos focais clínicos têm sua orientação teórica dirigida para a compreensão das crenças, sentimentos e comportamentos, e a prática para o descobrimento de projeções, identificações, vieses e resistência à persuasão. E os grupos focais vivenciais têm seu alvo nos próprios processos internos ao grupo. Esses processos estão subordinados a dois propósitos: na orientação teórica ao de permitir comparação de seus achados com os resultados de entrevistas por telefone e pessoalmente, sendo o nível de análise intergrupal.  Na orientação prática o propósito é centrado no entendimento específico da linguagem do grupo, e o nível de análise é aqui intragrupal.

        Outra perspectiva para classificar os grupos focais vem de Morgan (1997, apud GONDIM, 2003, p. 52). De acordo com ele, as modalidades, que também são três, são: grupos autorreferentes; grupos focais como técnica complementar, onde o grupo serve de estudo preliminar na avaliação de programas de intervenção e elaboração de questionários e escalas; e grupo focal como uma proposta de multi-métodos qualitativos, integrando seus resultados com aqueles da observação participante e da entrevista profunda.

O processo da pesquisa com grupos focais

        O ponto de partida de um projeto de pesquisa com grupos focais é a clareza de propósito. Sobre para que e quando usar grupos focais, Kind (2004, p. 127) resume bem as indicações e justificativas para o uso deles. Os objetivos definem as decisões metodológicas, as quais influenciam na composição dos grupos, no número de elementos, na homogeneidade ou heterogeneidade dos participantes, no recurso tecnológico usado, nos locais de realização, nas características do moderador e no tipo de análise dos resultados. Estes fatores podem influenciar o processo de discussão e o produto que ela resulta.

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