A Cadeia Produtiva do Teatro em Sergipe

1. Apresentação:

A pesquisa: Cadeias Produtivas da Cultura em Sergipe: mapeamento e dinâmica dos circuitos culturais, objetiva garantir um primeiro mapeamento e inédita análise sobre a dinâmica das cadeias produtivas dos respectivos setores de cultura no estado: teatro, audiovisual, e literatura, tendo como fundamento e referência - resguardadas as especificidades entre as dinâmicas - a pesquisa: Economia Política da Música em Sergipe: trabalho, tecnologia e mercado, também realizada pelo Observatório de Economia e Comunicação da UFS, o OBSCOM. Dito isto, esse relatório vem tratar das atividades e análises realizadas referentes à apreciação do setorial TEATRO.

De acordo com o diagnóstico contido no Plano de Cultura de Aracaju (2012) , assim como as demais áreas, a cadeia produtiva do teatro enfrenta adversidades na sua sustentação, de modo que a profissionalização dos agentes culturais da área encontra dificuldades na capacitação e manutenção em longo prazo desses trabalhadores.

Valendo-se da suposição que os setores culturais vem passando crescentemente por um processo de mercantilização e de subsunção do trabalho cultural, criativo, e intelectual neles aplicado, com marcada reorganização frente à introdução e difusão das tecnologias digitais, o objetivo geral da presente pesquisa é ampliar os parâmetros adotados na pesquisa sobre a cadeia produtiva da música de Sergipe, averiguando, até que ponto a assimilação da sua metodologia poderá ser transportada para o setor do teatro, atentando-se sempre para as individualidades desses distintos setores. Sendo assim, para além das discussões teóricas e revisões da literatura, foram levantados documentos e diagnósticos realizados a cerca do tema no estado de Sergipe, o que nos encaminha para a consolidação de uma metodologia a ser aplicada nas etapas subsequentes da pesquisa.

2. Metodologia

Como já foi apresentado, nessa primeira etapa da pesquisa foram analisados alguns documentos levantados e que traziam consigo informações a cerca das dinâmicas de organização e funcionamento das atividades teatrais em Sergipe. Um desses documentos é a Cartografia do Teatro de Grupo do Nordeste, publicada em 2012 e organizada pelo ator e pesquisador Fernando Yamamoto. A pesquisa mapeou inicialmente 250 grupos do nordeste aos quais foram enviados formulários a serem preenchidos, e destes, apenas 100 grupos retornaram o contato. Posteriormente eles subdividiram os nove estados do nordeste em três regiões, e aplicaram 45 entrevistas presenciais com os grupos, sendo três destes grupos - sergipanos. Embora não especifiquem com detalhes os procedimentos metodológicos, segundo Yamamoto os 250 grupos localizados, os 100 que retornaram, e os 45 entrevistados – não tem nenhuma pretensão de chegar próximo a constituir a totalidade dos coletivos nordestinos, no entanto a visão dessas 45 experiências representa uma amostragem muito significativa do teatro feito na região, contemplando praticamente todos os mais importantes grupos de teatro do nordeste brasileiro. A Cartografia trás questões de ordem econômica, organizativa, e de práticas cotidianas dos grupos de teatro, que muito servem a este projeto no intuito de consolidar sua própria metodologia a serem utilizadas em suas etapas posteriores.

A pesquisa “Economia Política da Música em Sergipe: trabalho, tecnologia e mercado” trazia em seu universo de estudo artistas e bandas sergipanas que efetuaram cadastro em fontes como : A Secretaria de Estado da Cultura de Sergipe (Secult), Fundação Municipal de Cultura de Aracaju (Funcaju), Fórum Música Sergipe, catálogo Som da Terra (AMOROSA, 2010) e cadastros encontrados no site Palco MP3. Destas fontes foram recolhidas as informações necessárias para estabelecer contato com as bandas, bem como endereço, email, e telefone, permitindo um estreitamento entre os pesquisadores e os artistas/bandas. Posteriormente a essa etapa foi executado o trabalho de campo, com a aplicação de questionário aos já identificados atores da cadeia produtiva, possibilitando com essas informações um delineamento da dinâmica e do funcionamento dessa cadeia, tais como verificar como o avanço das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e os impactos da microeletrônica interferem, e de que modo interferem nos processos de pré-produção, à produção, distribuição, divulgação do trabalho bem como identificar práticas sociais relacionadas ao uso das mídias digitais que possibilitam articulação e novas formas de produção de conteúdo.

Resguardando-se as diferenças entre os setores da música e do teatro, a metodologia dessa pesquisa será também incorporada para as próximas etapas desse projeto.

 O foco do estudo concentra-se também em averiguar se o uso e a apropriação das tecnologias digitais interferem na dinâmica de funcionamento do mercado do teatro em Sergipe, atentando-se para as características próprias ao Teatro e das artes cênicas, que diferente da música não possui um suporte material que possa substituir o original único, uma apresentação ao vivo, e é nesse sentido que a revisão da literatura vem orientando a pesquisa.

3. Revisão da literatura.

 3.1 As artes cênicas, o teatro, e as suas especificidades.

  As artes cênicas, ou também chamadas artes performativas, são formatos artísticos executados em um palco ou algum local alternativo para suas representações, as quais sempre deverão ser acompanhadas em presença por um público. A apresentação teatral é localizada dentro da definição das artes cênicas, porém, precisa ser analisado em suas especificidades para além desse conceito.  Diferente de outros formatos artísticos, inclusive de alguns compreendidos como artes cênicas - à exemplo dos Concertos e números musicais - o Teatro não pode ser reproduzido mecanicamente. Um exemplo que mostra a necessidade dessa distinção é a análise feita por Herscovici, quando discorria sobre a industrialização das artes cênicas em um dado momento histórico.

 Num segundo momento, está havendo uma substituição parcial das artes cênicas pelo espetáculo mecânico: no que diz respeito mais especificamente à música, o disco torna-se o vetor de difusão privilegiado da música, juntamente com o rádio e a televisão. Em razão do aumento dos preços relativos dos ingressos dos diferentes espetáculos, parte do consumo vai ser progressivamente transferida das artes cênicas para as diferentes formas de espetáculo mecânico; dos anos 1950 até o final dos anos 1970, o movimento dos preços relativos dos discos e dos ingressos de espetáculo ao vivo explica amplamente essas evoluções do consumo. (Herscovici, 2010)